Cristo ofereceu Seu corpo quebrantado para
readquirir a herança de Deus, para dar ao homem outra prova. "Portanto,
pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo
sempre para interceder por eles." Hebreus 7:25. Por Sua vida imaculada,
obediência e morte na cruz do Calvário, intercedeu Cristo pela raça perdida. E
agora o Príncipe de nossa salvação não intercede por nós como mero
peticionário, mas como um Conquistador que reclama a vitória. Seu sacrifício
está consumado e como nosso Intercessor cumpre a obra que a Si mesmo Se impôs,
apresentando a Deus o incensário que contém os Seus méritos imaculados e as
orações, confissões e ações de graças de Seu povo. Perfumados com a fragrância
de Sua justiça, sobem como cheiro suave a Deus. A oferenda é inteiramente
aceitável, e o perdão cobre todas as transgressões.
Cristo Se comprometeu a ser nosso substituto e
fiador, e não despreza ninguém. Ele, que não pôde ver seres humanos sujeitos à
ruína eterna sem entregar Sua vida à morte por eles, contemplará com piedade e
compaixão todo aquele que reconhece não poder salvar-se a si próprio. Não contemplará
nenhum trêmulo suplicante, sem soerguê-lo. Ele, que pela expiação proveu ao
homem um infinito tesouro de força moral, não deixará de empregar esse poder em
nosso favor. Podemos depositar a Seus pés nossos pecados e cuidados; pois Ele
nos ama. Mesmo Seu olhar e palavras despertam nossa confiança. Formará e
moldará nosso caráter segundo Sua vontade.
Em todo o poderio
satânico não há força para vencer uma única pessoa que se rende confiante a
Cristo. "Dá vigor ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum
vigor." Isaías 40:29.
"Se confessarmos os nossos pecados, Ele é
fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda
injustiça." I João 1:9. O Senhor diz: "Somente reconhece a tua
iniqüidade, que contra o Senhor, teu Deus, transgrediste." Jeremias 3:13.
"Então, espalharei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas
as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei."
Ezequiel 36:25.
Todavia precisamos ter
conhecimento de nós mesmos, conhecimento que resultará em contrição, antes de
podermos achar perdão e paz. O fariseu não sentia convicção de pecado. O
Espírito Santo não podia nele atuar. Sua vida apoiava-se numa couraça de
justiça própria, a qual as setas de Deus, farpadas e desferidas pelos anjos,
não podiam penetrar. Cristo só pode salvar quem reconhece ser pecador. Veio
"a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, e
dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos". Lucas 4:18 e 19.
Mas "não necessitam de médico os que estão sãos". Lucas 5:31.
Precisamos conhecer nossa verdadeira condição, do contrário não sentiremos
nossa carência do auxílio de Cristo. Precisamos compreender nosso perigo, senão
não correremos ao refúgio. Precisamos sentir a dor de nossas feridas, senão não
desejaremos cura.
O Senhor diz: "Como
dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és
um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu), aconselho-te que de Mim
compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para
que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos
com colírio, para que vejas." Apocalipse 3:17 e 18. O ouro provado no fogo
é a fé que opera por amor. Somente isto nos pode pôr em harmonia com Deus.
Podemos ser ativos, podemos executar muito trabalho; mas sem o amor, amor como
o que há no coração de Cristo, jamais podemos ser contados na família
celestial.
Nenhum homem pode de si mesmo entender seus
erros. "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso;
quem o conhecerá?" Jeremias 17:9. Os lábios podem exprimir uma pobreza de
espírito que o coração não reconhece. Ao passo que fala a Deus de pobreza de
espírito, pode o coração ensoberbecer-se com a presunção de sua humildade
superior e exaltada justiça. Só de um modo o verdadeiro conhecimento do próprio
eu pode ser alcançado. Precisamos olhar a Cristo. O desconhecimento dEle é que
dá aos homens uma tão alta idéia de sua própria justiça. Ao contemplarmos Sua
pureza e excelência, veremos nossa fraqueza, pobreza e defeitos, como realmente
são. Ver-nos-emos perdidos e sem esperança, vestidos com o manto da justiça
própria, como qualquer pecador. Veremos que se afinal formos salvos, não será
por nossa própria bondade, mas pela graça infinita de Deus.
A oração do publicano
foi ouvida porque denotava submissão, empenhando-se para apoderar-se da
Onipotência. O próprio eu nada parecia ao publicano senão vergonha. Assim
precisa ser considerado por todos os que buscam a Deus. Pela fé - fé que renuncia
a toda confiança própria - precisa o necessitado suplicante apropriar-se do
poder infinito.
Nenhuma cerimônia
exterior pode substituir a simples fé e a renúncia completa do eu. Todavia
ninguém se pode esvaziar a si mesmo do eu. Somente podemos consentir em que
Cristo execute a obra. Então a linguagem da alma será: Senhor, toma meu
coração; pois não o posso dar. É Tua propriedade. Conserva-o puro; pois não
posso conservá-lo para Ti. Salva-me a despeito de mim mesmo, tão fraco e tão
dessemelhante de Cristo. Molda-me, forma-me e eleva-me a uma atmosfera pura e
santa, onde a rica corrente de Teu amor possa fluir por minha alma.
Não é só no princípio da
vida cristã que esta entrega do próprio eu deve ser feita. Deve ser renovada a
cada passo dado em direção do Céu. Todas as nossas boas obras dependem de um
poder que não está em nós. Portanto deve haver um contínuo almejar do coração
após Deus, uma contínua, fervorosa, contrita confissão de pecado e humilhação
da alma perante Ele. Só podemos caminhar com segurança por uma constante
negação do próprio eu e confiança em Cristo.
Quanto mais nos achegarmos a Jesus e mais
claramente discernirmos a pureza de Seu caráter, tanto mais claramente
discerniremos a extraordinária malignidade do pecado, e tanto menos teremos a
tendência de nos exaltar. Aqueles a quem o Céu considera santos, são os últimos
a alardear sua própria bondade. O apóstolo Pedro tornou-se um fiel servo de
Cristo e foi grandemente honrado com luz e poder divinos; e tomou parte ativa
na edificação da igreja de Cristo; entretanto, Pedro jamais se esqueceu da
tremenda experiência de sua humilhação; seu pecado foi perdoado; contudo bem
sabia que unicamente a graça de Cristo lhe podia valer naquela fraqueza de
caráter que lhe ocasionou a queda. Em si mesmo nada achava de que se gloriar.
Nenhum dos apóstolos e
profetas jamais pretendeu estar isento de pecado. Homens que viveram mais
achegados a Deus, homens que sacrificariam antes a vida a cometer
conscientemente uma ação injusta, homens que Deus honrou com luz e poder
divinos, confessaram a pecaminosidade de sua natureza. Nunca confiaram na
carne, nunca pretenderam ser justos em si mesmos, mas confiaram inteiramente na
justiça de Cristo. O mesmo se dará com todos os que contemplam a Cristo.
A cada avanço na
experiência cristã nosso arrependimento aprofundar-se-á. Justamente àqueles a
quem Deus perdoou e reconhece como Seu povo, diz Ele: "Então, vos
lembrareis dos vossos maus caminhos e dos vossos feitos, que não foram bons; e
tereis nojo em vós mesmos das vossas maldades e das vossas abominações." Ezequiel
36:31. Outra vez, diz: "Estabelecerei o Meu concerto contigo, e saberás
que Eu sou o Senhor; para que te lembres, e te envergonhes, e nunca mais abras
a tua boca, por causa da tua vergonha, quando Me reconciliar contigo de tudo
quanto fizeste, diz o Senhor Jeová." Ezequiel 16:62 e 63. Então nossos
lábios não se abrirão para nos gloriarmos. Saberemos que só em Cristo temos
suficiência. Faremos nossa a confissão do apóstolo: "Eu sei que em mim,
isto é, na minha carne, não habita bem algum." Romanos 7:18. "Longe
esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela
qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo." Gálatas 6:14.
Em harmonia com esta experiência está o
mandamento: "Operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o
que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa
vontade." Filipenses 2:12 e 13. Deus não vos ordena temer que deixará de
cumprir Suas promessas, que Sua paciência se cansará ou que Sua compaixão há de
faltar. Temei que vossa vontade não seja mantida em sujeição à vontade de
Cristo, que vossos traços de caráter herdados e cultivados vos dominem a vida.
"Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a
Sua boa vontade." Temei que o próprio eu se interponha entre vosso espírito
e o grande Artífice. Temei que vossa obstinação frustre o elevado propósito
que, por vosso intermédio, Deus deseja alcançar. Temei confiar na própria
força; temei retirar da mão de Cristo a vossa mão e tentar caminhar pela
estrada da vida sem Sua presença permanente.
Precisamos evitar tudo
quanto estimule o orgulho e a presunção; portanto, devemos acautelar-nos de
fazer ou receber lisonjas ou louvores. Lisonjear é obra de Satanás. Procede ele
tanto com bajulações, quanto acusando e condenando. Deste modo procura causar a
ruína da alma.
Aqueles que louvam os homens, são usados por
Satanás como agentes seus. Esquivem-se os obreiros de Cristo de toda palavra de
elogio. Elimine-se de vista o próprio eu. Cristo, somente, deve ser exaltado.
Dirija-se todo olhar e ascenda o louvor de cada coração "Àquele que nos
ama, e em Seu sangue no lavou dos nossos pecados". Apocalipse 1:5.
A vida em que é
acariciado o temor do Senhor não será uma vida de tristeza e melancolia. É a
ausência de Cristo que torna triste a fisionomia, e a vida uma peregrinação de
gemidos. Quem muito se considera e está cheio de amor-próprio, não sente a
necessidade de união vital e pessoal com Cristo. O coração que não caiu sobre a
Rocha, vangloria-se de sua integridade. Os homens desejam uma religião
dignificada. Desejam caminhar num caminho fácil para admitir seus bons
predicados. Seu amor-próprio e sua ambição de popularidade e elogio excluem do
coração o Salvador, e sem Ele só há melancolia e sombra. Mas Cristo habitando
na vida é uma fonte de alegria. Para todos os que O aceitam, a nota
predominante da Palavra de Deus é o regozijo.
"Porque assim diz o
Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é santo: Em um alto e
santo lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para
vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos
contritos." Isaías 57:15.
Foi quando Moisés estava
oculto na fenda da rocha, que mirou a glória de Deus. E quando nos escondemos
na Rocha partida é que Cristo nos cobrirá com Sua mão traspassada e ouviremos o
que o Senhor diz a Seus servos. A nós como a Moisés, Deus Se revelará como
"misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e
verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a
transgressão, e o pecado". Êxodo 34:6 e 7.
A obra da redenção
envolve conseqüências das quais é difícil ao homem ter qualquer concepção.
"As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao
coração do homem são as que Deus preparou para os que O amam." I Coríntios
2:9. Aproximando-se o pecador da cruz erguida, e prostrando-se junto à mesma,
atraído pelo poder de Cristo, dá-se uma nova criação. É-lhe dado um novo
coração. Torna-se uma nova criatura em Cristo Jesus. A santidade acha que nada
mais há para requerer. Deus mesmo é "justificador daquele que tem fé em
Jesus". Romanos 3:26. E "aos que justificou, a esses também
glorificou". Romanos 8:30. Grande como seja a vergonha e degeneração pelo
pecado ainda maior será a honra e exaltação pelo amor redentor. Aos seres
humanos que lutam por conformidade com a imagem divina, será concedido um
suprimento do tesouro celeste, uma excelência de poder que os colocarão acima
dos próprios anjos que jamais caíram.
"Assim diz o Senhor, o Redentor de Israel, o
seu Santo, à alma desprezada, ao que as nações abominam, ... os reis O verão e
se levantarão; os príncipes diante de Ti se inclinarão, por amor do Senhor, que
é fiel, e do Santo de Israel, que te escolheu." Isaías 49:7.
"Porque qualquer
que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha
será exaltado." Lucas 18:14.
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