Entre os judeus a questão: "Quem é o meu próximo?" (Lucas
10:29) suscitava disputas intermináveis. Não tinham dúvidas quanto aos gentios
e samaritanos. Estes eram estrangeiros e inimigos. Mas onde deveria ser feita a
distinção entre seu povo e entre as diferentes classes da sociedade? A quem
deveriam o sacerdote, o rabino, o ancião, considerar seu próximo? Consumiam a
vida num ciclo de cerimônias para se purificarem. O contato com a multidão
ignorante e descuidada, ensinavam causar uma mancha que requeria fatigantes
esforços para remover. Deveriam eles considerar os "impuros" seu
próximo?
Na parábola do bom
samaritano, Cristo respondeu a essa pergunta. Mostrou que nosso próximo não
significa unicamente alguém da igreja ou fé a que pertencemos. Não faz
referência a nacionalidade, cor ou distinção de classe. Nosso próximo é toda
pessoa que carece de nosso auxílio. Nosso próximo é toda pessoa ferida e
magoada pelo adversário. Nosso próximo é todo aquele que é propriedade de Deus.
A parábola do bom
samaritano foi inspirada pela pergunta de um doutor da lei a Cristo. Enquanto o
Salvador estava ensinando, "eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-O
e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" Lucas 10:25. Os
fariseus tinham sugerido esta pergunta ao doutor da lei na esperança de enredar
a Cristo em Suas palavras, e espreitavam ansiosamente a resposta. Mas o
Salvador não entrou em controvérsia. Exigiu do próprio interlocutor, a
resposta. "Que está escrito na lei?" perguntou, "como lês?"
Lucas 10:26. Os judeus ainda acusavam Jesus de menosprezar a lei dada no Sinai,
mas Ele fez a salvação depender da guarda dos mandamentos de Deus.O doutor da
lei disse: "Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a
tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu
próximo como a ti mesmo." Lucas 10:27. "Respondeste bem", disse
Cristo; "faze isso e viverás." Lucas 10:28.
O doutor da lei não estava satisfeito com a atitude e obras dos
fariseus. Estivera estudando as Escrituras com o desejo de aprender sua
significação verdadeira. Tinha interesse real na questão, e perguntou com
sinceridade: "Que farei?" Lucas 10:25. Em sua resposta a respeito dos
reclamos da lei, passou por alto toda a multidão de preceitos cerimoniais e
rituais. A estes não deu importância, mas apresentou os dois grandes princípios
de que dependem toda a lei e os profetas. O assentimento do Salvador a esta
resposta colocou-O em posição vantajosa para com os rabinos. Não podiam
condená-Lo por sancionar aquilo que fora proferido por um expositor da lei.
"Faze isso e
viverás", disse Cristo. Lucas 10:28. Em Seus ensinos sempre apresentava a
lei como uma unidade divina, mostrando que é impossível guardar um preceito e
violar outro; porque um mesmo princípio os anima a todos.
O destino do homem será determinado pela obediência a toda a lei.
Cristo sabia que ninguém
poderia obedecer à lei por sua própria força. Desejava induzir o doutor da lei
a um estudo mais esclarecido e minucioso para que achasse a verdade. Somente
aceitando a virtude e a graça de Cristo podemos observar a lei. A fé na
propiciação pelo pecado habilita o homem caído a amar a Deus de todo o coração
e ao próximo como a si mesmo.
O doutor sabia que não
guardara nem os primeiros quatro, nem os últimos seis mandamentos. Foi
convencido pelas penetrantes palavras de Cristo, mas em vez de confessar o seu
pecado, procurou justificar-se. Em vez de reconhecer a verdade, tentou mostrar
quão difícil é cumprir os mandamentos. Deste modo esperava rebater a convicção
e justificar-se aos olhos do povo. As palavras do Salvador lhe mostraram que a
pergunta era desnecessária, pois ele mesmo estava apto para a ela responder.
Contudo interrogou novamente, dizendo: "Quem é o meu próximo?" Lucas
10:29.
Outra vez recusou Cristo ser arrastado à controvérsia. Respondeu
narrando um incidente, do qual os ouvintes estavam bem lembrados. "Descia
um homem", disse, "de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos
salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o
meio morto." Lucas 10:30.
Na jornada de Jerusalém
a Jericó, o viajante precisava atravessar parte do deserto da Judéia. O caminho
passava numa garganta rochosa e deserta, infestada de ladrões, e era muitas
vezes local de violências. Aí o viajante fora atacado, despojado de tudo quanto
possuía de valor, e abandonado meio morto no caminho. Estando nessas condições,
um sacerdote por lá passou, viu o homem ferido e maltratado, engolfado em
sangue, porém deixou-o sem prestar-lhe auxílio. "Passou de largo." Lucas
10:31. Apareceu então um levita. Curioso de saber o que acontecera, deteve-se e
contemplou o sofredor. Estava convicto de seu dever, mas não era um serviço
agradável. Desejou não ter vindo por aquele caminho, de modo que não visse o
ferido. Persuadiu-se de que não tinha nada com o caso, e também "passou de
largo".
Mas um samaritano que
viajava pela mesma estrada, viu a vítima e fez o que os outros recusaram fazer.
Com carinho e amabilidade tratou do ferido. "Vendo-o, moveu-se de íntima
compaixão. E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e
vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou
dele; e, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e
disse-lhe: Cuida dele, e tudo que de mais gastares eu to pagarei, quando
voltar." Lucas 10:33-35. Tanto o sacerdote como o levita professavam
piedade, mas o samaritano mostrou que era verdadeiramente convertido. Não lhe
era mais agradável fazer o trabalho do que o era para o levita e o sacerdote,
porém, no espírito e nos atos provou estar em harmonia com Deus.
Dando esta lição, Jesus apresentou os princípios da lei de maneira
direta e incisiva, mostrando aos ouvintes que eles tinham negligenciado a
prática destes princípios. Suas palavras eram tão definidas e acertadas que os
ouvintes não podiam achar oportunidade de contestá-las. O doutor da lei não
encontrou na lição nada que pudesse criticar. Seu preconceito a respeito de
Cristo foi removido. Mas não tinha vencido suficientemente a aversão nacional,
para recomendar por nome o samaritano. Ao perguntar Cristo: "Qual, pois,
destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos
salteadores?" Disse: "O que usou de misericórdia para com ele." Lucas
10:36 e 37.
"Disse, pois,
Jesus: Vai e faze da mesma maneira." Lucas 10:37. Mostra o mesmo terno
amor para com os necessitados. Assim demonstrarás que guardas toda a lei.
A grande diferença entre
judeus e samaritanos era uma diferença de crença religiosa, uma questão quanto
ao que constitui o verdadeiro culto. Os fariseus não diziam nada de bom dos
samaritanos, mas lançavam sobre eles as mais amargas maldições. Tão forte era a
antipatia entre judeus e samaritanos, que para a mulher de Samaria foi estranho
que Cristo lhe pedisse de beber. "Como", disse ela, "sendo Tu
judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque",
acrescenta o evangelista, "os judeus não se comunicam com os
samaritanos)." João 4:9.
E quando os judeus estavam tão cheios de ódio sanguinário contra
Cristo que se levantaram no templo para apedrejá-Lo, não puderam achar melhores
palavras para exprimir o seu ódio que: "Não dizemos nós bem que és
samaritano e que tens demônio?" João 8:48. Além disso, o sacerdote e o
levita negligenciaram justamente a obra de que o Senhor os incumbira, e
deixaram a um samaritano odiado e desprezado servir a um seu compatriota.
O samaritano cumprira o
mandamento: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo", mostrando assim
ser mais justo que os que o condenavam. Arriscando a vida, tratou do ferido
como se fosse seu irmão. Este samaritano representa Cristo.
Nosso Salvador manifestou por nós um amor, que o amor humano
jamais pode igualar. Quando estávamos moídos e à morte, compadeceu-Se de nós.
Não passou de largo, não nos abandonou desamparados nem nos deixou perecer sem
esperança. Não permaneceu no lar santo e feliz onde era amado por todos os
anjos. Viu nossa cruel necessidade, advogou nossa causa e identificou Seus
interesses com os da humanidade. Morreu para salvar os inimigos. Rogou por Seus
assassinos. Apontando Seu próprio exemplo, diz aos seguidores: "Isto vos
mando: que vos ameis uns aos outros" (João 15:17), "como Eu vos amei a
vós, que também vós uns aos outros vos ameis." João 13:34.
O sacerdote e o levita
haviam estado em adoração no templo cujo serviço Deus mesmo ordenara.
Participar desse culto era grande e exaltado privilégio, e o sacerdote e o
levita sentiram que sendo tão honrados, estava abaixo de sua dignidade servir a
um sofredor desconhecido à beira da estrada. Assim, negligenciaram a
oportunidade especial que Deus lhes deparara como agentes Seus para abençoar um
semelhante.
Muitos atualmente
cometem erro semelhante. Dividem seus deveres em duas classes distintas. Uma
classe consiste em grandes coisas reguladas pela lei de Deus; a outra, nas
assim chamadas coisas pequenas, em que o mandamento "Amarás o teu próximo
como a ti mesmo" (Matheus 19:19), é passado por alto. Essa esfera de trabalho
é deixada ao léu, e sujeita à inclinação e ao impulso. Desse modo o caráter é
manchado e a religião de Cristo mal representada.
Homens há que pensam ser
humilhante para a sua dignidade o servirem a humanidade sofredora. Muitos olham
com indiferença e desdém os que arruinaram seu corpo. Outros desprezam os
pobres por diferentes motivos. Estão trabalhando, como crêem, na causa de
Cristo, e procuram empreender algo de valor. Sentem que estão fazendo grande
obra, e não se podem deter para notar as vicissitudes do necessitado e do
infeliz. Sim, até pode dar-se que, favorecendo sua suposta grande obra, oprimam
os pobres. Podem colocá-los em circunstâncias difíceis e penosas, privá-los de
seus direitos ou negligenciar-lhes as necessidades. Apesar disso acham que tudo
isto é justificável, porque estão, como cuidam, promovendo a causa de Cristo.
Muitos consentem em que um irmão ou vizinho se debata sob
circunstâncias adversas, sem ampará-lo. Porque professam ser cristãos, pode ele
ser induzido a pensar que em seu frio egoísmo estão representando a Cristo.
Porque pretensos servos do Senhor não são Seus coobreiros, o amor de Deus que
deles devia exalar é em grande parte interceptado de seus semelhantes. E muitos
louvores e ações de graças do coração e lábios humanos são impedidos de refluir
a Deus. Ele é destituído da glória devida ao Seu Santo nome. É espoliado das
pessoas pelas quais Cristo morreu, pessoas que anela introduzir em Seu reino,
para habitarem em Sua presença pelos séculos infindos.
A verdade divina exerce
pouca influência sobre o mundo, embora devesse exercer muita influência por
nossa atitude. É bastante comum a simples profissão de religião, mas isso quase
nada vale. Podemos professar ser seguidores de Cristo, podemos professar crer todas
as verdades da Palavra de Deus; mas isto não fará bem ao nosso próximo, a não
ser que nossa crença esteja entrelaçada com nossa vida diária. Nossa profissão
pode ser tão alta quanto o Céu, mas não nos salvará a nós mesmos nem aos nossos
semelhantes, a menos que sejamos cristãos. Um exemplo correto fará mais
benefício ao mundo que qualquer profissão de fé.
A causa de Cristo não
pode ser favorecida por nenhum procedimento egoísta. Sua causa é a causa do
oprimido e do pobre.
Há necessidade de terna simpatia de Cristo no coração de Seus
seguidores professos - amor mais profundo aos que tanto avaliou que deu a
própria vida para a sua salvação. Essas pessoas são preciosas, infinitamente
mais preciosas do que qualquer outra oferenda que possamos apresentar a Deus.
Se empenhamos toda a energia numa obra aparentemente grande, ao passo que
desprezamos os necessitados ou privamos de seu direito o estrangeiro, nosso
serviço não terá a aprovação divina.
A santificação da alma
pela operação do Espírito Santo é a implantação da natureza de Cristo na
humanidade. A religião do evangelho é Cristo na vida - um princípio vivo e
atuante. É a graça de Cristo revelada no caráter e expressa em boas obras. Os
princípios do evangelho não podem estar desligados de setor algum da vida
diária. Todo ramo de trabalho e experiência cristãos deve ser uma representação
da vida de Cristo.
O amor é o fundamento da
piedade. Qualquer que seja a fé, ninguém tem verdadeiro amor a Deus se não
manifestar amor desinteressado pelo seu irmão. Mas nunca poderemos possuir esse
espírito apenas tentando amar os outros. O que é necessário é o amor de Cristo
no coração. Quando o eu está imerso em Cristo, o amor brota espontaneamente. A
perfeição de caráter do cristão é alcançada quando o impulso de auxiliar e
abençoar a outros brotar constantemente do íntimo - quando a luz do Céu encher
o coração e for revelada no semblante.
Não é possível que o
coração em que Cristo habita seja destituído de amor. Se amarmos a Deus, porque
primeiro nos amou, amaremos a todos por quem Cristo morreu. Não podemos entrar
em contato com a divindade, sem primeiro nos aproximarmos da humanidade; porque
nAquele que Se assenta no trono do Universo a divindade e a humanidade estão
combinadas. Unidos com Cristo, estamos unidos aos nossos semelhantes pelos áureos
elos da cadeia do amor. Então a piedade e compaixão de Cristo serão manifestas
em nossa vida. Não ficaremos esperando os pedidos dos necessitados e
infortunados. Não será necessário ouvir clamores para sentir as aflições dos
outros. Atender o indigente e o sofredor será tão natural para nós como o foi
para Cristo fazer o bem.
Onde quer que haja um impulso de amor e simpatia, onde quer que o
coração se comova para abençoar e amparar os outros, é revelada a operação do
Santo Espírito de Deus. Nas profundezas do paganismo os homens que não tiveram
conhecimento da lei escrita de Deus, que nunca ouviram o nome de Cristo, têm
sido bondosos com Seus servos, protegendo-os com o risco da própria vida. Seus
atos mostram a operação de um poder divino. O Espírito Santo implantou a graça
de Cristo no coração do selvagem, despertando nele a simpatia contrária à sua
natureza e à sua educação. A "luz verdadeira, que alumia a todo homem que
vem ao mundo" (João 1:9), está-lhe brilhando na alma; e esta luz, se
atendida, lhe guiará os pés para o reino de Deus.
"O Deus que fez o
mundo e tudo que nele há, ... e de um só fez toda a geração dos homens para
habitar sobre toda a face da terra, ... para que buscassem ao Senhor, se,
porventura, tateando, O pudessem achar." Atos 17:24, 26 e 27. "Olhei,
e eis aqui uma multidão... de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas,
que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com
palmas nas suas mãos." Apocalipse 7:9.
A glória do Céu consiste em erguer os caídos e confortar os
infortunados. E onde quer que Cristo habite no coração humano, será revelado da
mesma maneira. Onde quer que atue, a religião de Cristo abençoará. Onde quer
que se manifeste, haverá claridade.
Deus não reconhece
distinção alguma de nacionalidade, etnia ou classe social. É o Criador de todo
homem. Todos os homens são de uma família pela criação, e todos são um pela
redenção. Cristo veio para demolir toda parede de separação e abrir todos os
compartimentos do templo a fim de que todos possam ter livre acesso a Deus. Seu
amor é tão amplo, tão profundo, tão pleno, que penetra em toda parte. Liberta
das ciladas de Satanás os que foram por ele iludidos. Põe-nos ao alcance do
trono de Deus, o trono circundado do arco-íris da promessa.
Em Cristo não há nem
judeu nem grego, servo nem livre. Todos são aproximados por Seu precioso
sangue. (Gálatas 3:28; Efésios 2:13.)
Qualquer que seja a
diferença de crença religiosa, um clamor da humanidade sofredora precisa ser
ouvido e atendido. Onde existirem amargos sentimentos por diferenças de
religião, pode ser feito muito bem pelo serviço pessoal. O serviço amável
quebrará os preconceitos e conquistará almas para Deus.
Devemos atender às
aflições, às dificuldades e às necessidades dos outros. Devemos partilhar das
alegrias e cuidados tanto de nobres como de humildes, de ricos como de pobres.
"De graça recebestes", disse Cristo, "de graça dai." Matheus
10:8. Ao redor de nós há almas pobres e tentadas que necessitam de palavras de
simpatia e atos ajudadores. Há viúvas que carecem de simpatia e assistência. Há
órfãos, aos quais Cristo ordenou aos Seus seguidores que recebessem como legado
de Deus. Muitas vezes são abandonados. Podem ser maltrapilhos, grosseiros e,
segundo toda a aparência, nada atraentes; contudo são propriedade de Deus.
Foram comprados por preço, e aos Seus olhos são tão preciosos quanto nós. São
membros da grande família de Deus, e os cristãos, como mordomos Seus, são por
eles responsáveis. "Suas almas", disse, "requererei de tua
mão."
O pecado é o maior de todos os males, e é nosso dever
compadecer-nos dos pecadores e auxiliá-los. Nem todos podem ser alcançados do
mesmo modo, porém. Muitos há que ocultam sua pobreza de alma. Estes seriam
grandemente auxiliados por uma palavra terna ou por uma boa lembrança. Outros estão
na maior indigência, contudo não o sabem. Não reconhecem a terrível privação da
alma. As multidões estão tão submersas no pecado, que perderam todo o senso das
realidades eternas, perderam a semelhança de Deus, e mal sabem se têm alma para
ser salva ou não. Não têm nem fé em Deus, nem confiança no homem. Alguns destes
só podem ser alcançados por atos de beneficência desinteressada. Precisam ser
primeiramente atendidas as suas necessidades materiais. Precisam ser
alimentados, limpos e vestidos decentemente. Ao verem a prova de vosso amor
desinteressado, ser-lhes-á mais fácil crerem no amor de Cristo.
Muitos há que erram e
sentem a sua vergonha e loucura. Consideram seus enganos e erros até serem
arrastados quase ao desespero. Não devemos desprezar estas pessoas. Quando
alguém tem que nadar contra a correnteza, toda a força da mesma o impele para
trás. Estenda-se-lhes uma mão auxiliadora, como o fez a Pedro quando se
afogava, a mão do Irmão mais velho. Fale-lhe palavras de esperança, palavras
que fortaleçam a confiança e despertem amor.
Seu irmão doente
espiritualmente necessita de ti, como tu mesmo careceste do amor de um irmão.
Necessita da experiência de alguém que fora tão fraco quanto ele, de alguém que
possa com ele simpatizar e o auxilie. O conhecimento de nossa própria
debilidade deve auxiliar-nos a ajudar a outros que estejam em amarga
necessidade.
Nunca devemos passar por uma alma sofredora sem tentar
comunicar-lhe o conforto com que fomos consolados por Deus.
A comunhão com Cristo, o
contato pessoal com o Salvador vivo, é que habilita a mente, o coração e a alma
a triunfar sobre a natureza inferior. Falai ao peregrino de uma Mão
todo-poderosa que o levantará, e de uma infinita humanidade em Cristo que dele
se compadece. Não lhe é suficiente crer em lei e força, em coisas que não têm
piedade, e jamais ouvem um pedido de socorro. Necessita apertar uma mão cálida,
confiar num coração cheio de ternura. Que sua mente se demore no pensamento de
que Deus está ao seu lado, sempre contemplando-o com amor piedoso.
Recomendai-lhe pensar no coração de um Pai que sempre se angustia pelo pecado,
na mão sempre estendida de um Pai, e na voz de um Pai, que diz: "Que se
apodere da Minha força e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo." Isaías
27:5.
Ocupando-vos nesta obra
tendes companheiros invisíveis aos olhos humanos. Os anjos do Céu estavam ao
lado do samaritano que cuidou do estrangeiro ferido. Os anjos das cortes
celestes assistem a todos quantos fazem o serviço de Deus, cuidando dos
semelhantes. E tendes a cooperação do próprio Cristo. Ele é o Restaurador, e se
trabalhardes sob Sua superintendência, vereis grandes resultados.
De sua fidelidade nessa
obra não só depende o bem-estar de outros como também vosso destino eterno.
Cristo procura erguer todos quantos querem ser alçados à Sua companhia para que
sejamos um com Ele, como Ele é um com o Pai. Permite que tenhamos contato com o
sofrimento e calamidade para nos tirar de nosso egoísmo; procura desenvolver em
nós os atributos de Seu caráter - compaixão, ternura e amor. Aceitando esta
obra de beneficência entramos em Sua escola para sermos qualificados para as
cortes de Deus. Rejeitando-a, rejeitamos Sua instrução, e escolhemos a eterna
separação de Sua presença.
"Se observares as Minhas ordenanças", declara o Senhor,
"te darei lugar entre os que estão aqui" - mesmo entre os anjos que
circundam o Seu trono. Zacarias 3:7. Cooperando com os seres celestes em sua
obra na Terra, preparamo-nos para a Sua companhia no Céu. "Espíritos
ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a
salvação" (Hebreus 1:14), os anjos no Céu darão as boas-vindas àquele que
na Terra viveu não "para ser servido, mas para servir". Matheus
20:28. Nesta abençoada companhia aprenderemos, para nossa alegria eterna, tudo
que está encerrado na pergunta: "Quem é o meu próximo?" Lucas 10:29.
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