Cristo viera num tempo de intenso mundanismo. Os homens tinham
subordinado o eterno ao temporal, as exigências do futuro aos afazeres do
presente. Tomavam fantasias em lugar de realidades, e realidades por fantasias.
Não viam pela fé o mundo invisível. Satanás apresentava-lhes as coisas desta
vida como todo-atrativas e todo-absorventes, e eles davam ouvidos às suas
tentações.
Cristo veio para mudar
esta ordem de coisas. Procurou quebrar o encanto pelo qual os homens estavam
apaixonados e enredados. Em Seus ensinos procurava ajustar as exigências do Céu
e da Terra, e dirigir os pensamentos do homem, do presente para o porvir. Chamava-os
da prossecução das coisas seculares, para fazer provisão para a eternidade.
"Havia um certo
homem rico", disse, "o qual tinha um mordomo; e este foi acusado
perante ele de dissipar os seus bens." Lucas. 16:1. O rico depositara
todas as suas posses nas mãos deste servo, porém o servo era infiel, e o patrão
foi convencido de que era defraudado sistematicamente. Determinou não mais
tê-lo a seu serviço, e procedeu a uma análise de suas contas. "Que é isso
que ouço de ti?" disse, "presta contas da tua mordomia, porque já não
poderás ser mais meu mordomo." Lucas. 16:2.
Com a perspectiva da demissão, o mordomo viu três caminhos abertos
à sua escolha. Precisava trabalhar, mendigar ou morrer de fome. E disse consigo
mesmo: "Que farei, pois que o meu senhor me tira a mordomia? Cavar não
posso; de mendigar tenho vergonha. Eu sei o que hei de fazer, para que, quando
for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas. E, chamando a si cada um
dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor? E
ele respondeu: Cem medidas de azeite. E disse-lhe: Toma a tua conta e,
assentando-te já, escreve cinqüenta. Disse depois a outro: E tu quanto deves? E
ele respondeu: Cem alqueires de trigo. E disse-lhe: Toma a tua conta e escreve
oitenta." Lucas. 16:3-7.
O servo infiel tornou a
outros participantes de sua desonestidade. Defraudou a seu patrão para lhes ser
útil e, aceitando este favor, colocavam-se sob a obrigação de recebê-lo como
amigo em suas casas.
"E louvou aquele
senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente." Lucas. 16:8.
O homem mundano louvou a sagacidade daquele que o defraudara. O elogio do rico
não era, porém, o elogio de Deus.
Cristo não louvou o
mordomo injusto, mas usou de uma ocorrência notória para ilustrar a lição que
desejava dar. "Granjeai amigos com as riquezas da injustiça", disse,
"para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos."
Lucas. 16:9.
O Salvador fora censurado pelos fariseus por misturar-Se com os
publicanos e pecadores; mas Seu interesse neles não foi diminuído, nem Seus
esforços por eles cessou. Viu que seu emprego induzia-os à tentação. Estavam
rodeados da sedução do mal. O primeiro passo errado era fácil, e rápida era a
degradação a maior desonestidade e mais violentos crimes. Cristo procurava por
todos os meios ganhá-los para aspirações mais elevadas e princípios mais
nobres. Tinha em vista esse propósito na parábola do mordomo infiel. Havia
entre os publicanos justamente tais casos como o apresentado na parábola, e na
descrição de Cristo reconheceram seu próprio procedimento. Assim Cristo
conseguiu sua atenção e pelo quadro de suas práticas desonestas muitos deles
aprenderam uma lição de verdade espiritual.
A parábola, apesar
disso, era falada diretamente aos discípulos. O fermento da verdade fora-lhes
dado primeiro, e por eles devia alcançar a outros. Os discípulos a princípio
não entendiam muitos dos ensinos de Cristo, e muitas vezes parecia que Suas
lições eram quase esquecidas. Sob a influência do Espírito Santo, porém, estas
verdades lhes foram posteriormente
"Se as vossas
riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração." Salmos 62:10.
"Porventura, fitarás
os olhos naquilo que não é nada? Porque, certamente, isso se fará asas e voará
ao céu como a águia." Provérbios 23:5. "Aqueles que confiam na sua
fazenda e se gloriam na multidão das suas riquezas, nenhum deles, de modo
algum, pode remir a seu irmão ou dar a Deus o resgate dele." Salmos 49:6 e
7.
E o Salvador falava também aos fariseus. Não perdia a esperança de
que perceberiam o poder de Suas palavras. Muitos tinham sido convencidos
profundamente, e quando ouvissem a verdade pela inspiração do Espírito Santo,
não poucos se tornariam crentes em Cristo.
Os fariseus tentaram
difamar a Cristo, acusando-O de misturar-se com os publicanos e pecadores.
Agora Ele voltou a condenação contra estes acusadores. A cena conhecida e
ocorrida entre os publicanos, expôs aos fariseus, representando tanto sua
conduta como mostrando a única maneira pela qual poderiam redimir seus erros.
Os bens do senhor tinham
sido confiados ao mordomo infiel para propósitos beneficentes, mas ele os usou
para si. Assim fora com Israel. Deus escolhera a semente de Abraão. Com braço
forte libertara-os da escravidão do Egito. Fizera-os depositários da verdade
sagrada, para bênção do mundo.
Confiara-lhes os
oráculos vivos para que comunicassem luz aos outros. Mas Seus mordomos usaram
essas dádivas para se enriquecerem e exaltarem.
Os fariseus, cheios de
importância e justiça própria, estavam dando má aplicação aos bens emprestados
por Deus para usá-los para Sua glória.
O servo da parábola não
fizera provisão para o futuro. Os bens a ele confiados para o benefício de
outros, usou-os para si mesmo; porém, pensou só no presente. Quando a mordomia
lhe fosse tirada, nada teria que pudesse chamar seu. Mas os bens do senhor
ainda estavam em suas mãos, e resolveu usá-los para precaver-se contra futuras
vicissitudes. Para conseguir isto precisava trabalhar conforme novo plano. Em
vez de acumular para si, precisava repartir com outros. Deste modo poderia
assegurar amigos que, quando fosse deposto, o haveriam de receber. O mesmo se
dava com os fariseus. A mordomia estava prestes a ser deles tirada; e eram
solicitados a prover para o futuro. Somente repartindo as dádivas de Deus na
vida presente, poderiam prover para a eternidade.
Depois de narrar a parábola, Cristo disse: "Os filhos deste
mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz." Lucas.
16:8. Isso quer dizer que os homens sábios segundo o mundo demonstram mais
sabedoria e empenho em servirem-se, do que os professos filhos de Deus no
serviço para Ele. Assim era nos dias de Cristo. Assim é hoje. Considerai a vida
de muitos que professam ser cristãos. O Senhor os dotou de aptidões, poder e
influência; confiou-lhes recursos, para que fossem Seus coobreiros no grande
plano da redenção. Todos os Seus dons devem ser usados para abençoar a
humanidade, para aliviar o sofredor e o necessitado. Devemos alimentar o
faminto, vestir o nu, cuidar das viúvas e dos órfãos, e servir ao aflito e ao
abatido. Nunca foi intenção de Deus que houvesse tanta miséria no mundo. Nunca
pretendeu que um homem tivesse abundância dos luxos da vida, enquanto os filhos
dos outros houvessem de chorar por pão. Os meios supérfluos às necessidades
reais da vida são confiados ao homem para o bem e para beneficiar a humanidade.
Diz o Senhor: "Vendei o que tendes, e dai esmolas." Lucas. 12:33.
"Repartam de boa mente e sejam comunicáveis." I Timoteo 6:18.
"Quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos."
Lucas. 14:13. "... Que soltes as ligaduras da impiedade, ... desfaças as
ataduras do jugo, ... deixes livres os quebrantados, e... despedaces todo o
jugo." Isaías. 58:6.
... "Repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os
pobres desterrados. ... Vendo o nu, o cubras" e fartes "a alma
aflita." Isaías 58:7 e 10. "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho
a toda criatura." Marcos 16:15. Esses são os mandamentos do Senhor. Está o
grande corpo de cristãos professos fazendo esta obra?
Ah! quantos se estão
apropriando das dádivas de Deus! Quantos estão comprando uma casa após outra,
um terreno após outro. Quantos estão gastando seu dinheiro em prazeres, na
satisfação do apetite, em casas, mobílias e vestidos extravagantes. Seus
semelhantes são abandonados à miséria e ao crime, à enfermidade e à morte.
Multidões estão perecendo sem um olhar de compaixão, sem uma palavra ou ato de
simpatia.
Os homens são culpados
de roubo para com Deus. Seu emprego egoísta dos meios rouba ao Senhor a glória
que para Ele deveria refluir no alívio da humanidade sofredora e na salvação de
pessoas. Estão dissipando os bens a eles confiados. O Senhor declara:
"Chegar-Me-ei a vós para juízo, e serei uma testemunha veloz contra... os
que defraudam o jornaleiro, e pervertem o direito da viúva, e do órfão, e do
estrangeiro. ... Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em
que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois
amaldiçoados, porque Me roubais a Mim, vós, toda a nação." Malaquias 3:5,
8 e 9. "Eia, pois, agora vós, ricos, ... as vossas riquezas estão apodrecidas,
e as vossas vestes estão comidas da traça. O vosso ouro e a vossa prata se
enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós. ... Entesourastes
para os últimos dias. Deliciosamente, vivestes sobre a Terra, e vos
deleitastes. ... Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram as vossas
terras e que por vós foi diminuído clama; e os clamores dos que ceifaram
entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos." Tiago 5:1-3, 5 e 4.
Será exigido de cada um que restitua os dons a ele confiados. No
dia do juízo final as riquezas acumuladas pelo homem estarão sem valor. Nada
têm que possam chamar seu.
Aqueles que passam a
vida amontoando tesouros, mostram menos sabedoria, e menos bom senso e cuidado
pelo seu bem-estar eterno, do que o mordomo infiel quanto ao seu sustento
material. Menos sábios que os filhos do mundo em sua geração, são estes
professos filhos da luz. Estes são os de quem o profeta declara na visão do
grande dia do juízo: "Naquele dia, os homens lançarão às toupeiras e aos
morcegos os seus ídolos de prata e os seus ídolos de ouro, que fizeram para
ante eles se prostrarem. E meter-se-ão pelas fendas das rochas e pelas cavernas
das penhas, por causa da presença espantosa do Senhor e por causa da glória da
Sua majestade, quando Ele Se levantar para assombrar a Terra." Isaías 2:20
e 21.
"Granjeai amigos com as riquezas da injustiça", disse
Cristo, "para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos
tabernáculos eternos." Lucas. 16:9. Deus, Cristo e os anjos estão todos
ministrando aos enfermos, padecentes e pecadores. Entregai-vos a Deus para esta
obra, usai Seus dons para este propósito, e entrareis em sociedade com os seres
celestes. Vosso coração palpitará em harmonia com o deles. Assemelhar-vos-eis a
eles no caráter. Não vos serão estranhos estes moradores dos tabernáculos
eternos. Quando as coisas terrestres tiverem passado, os vigias nas portas do
Céu vos chamarão bem-vindos.
E os meios usados para
abençoar a outros trarão recompensa. Riquezas bem-empregadas realizarão muito
bem. Almas serão ganhas para Cristo. Aqueles que seguem o plano de vida de
Cristo, verão nas cortes de Deus aqueles pelos quais trabalharam e se
sacrificaram na Terra. Os redimidos com coração grato lembrar-se-ão daqueles
que serviram de instrumento em sua salvação. O Céu será precioso para os que
foram fiéis na obra da salvação.
A lição dessa parábola é
para todos. Todos serão responsáveis pela graça a eles concedida por Cristo. A
vida é muito solene para ser absorvida em negócios temporais e terrenos. O
Senhor deseja que transmitamos a outros aquilo que o eterno e invisível nos
comunicou.
Cada ano milhões e
milhões de pessoas passam para a eternidade inadvertidas e não salvas. Hora a
hora, nas variadas atividades da vida, apresentam-se oportunidades de alcançar
e salvar pessoas. E estas oportunidades vêm e vão continuamente. Deus deseja
que as aproveitemos o melhor possível. Dias, semanas e meses vão-se passando;
temos menos um dia, uma semana, um mês em que fazer nossa obra. Quando muito
alguns anos mais, e a voz a que não podemos deixar de responder será ouvida,
dizendo: "Presta contas da tua mordomia." Lucas. 16:2.
Cristo intima a cada um a ponderar. Prestai uma conta honesta.
Ponde num prato da balança Jesus, que significa tesouro eterno, vida, verdade,
Céu e a alegria de Cristo pelos redimidos; no outro, ponde toda a atração que o
mundo pode oferecer. Num prato ponde a vossa perdição, e dos que poderíeis ser
instrumento para salvar; no outro, para vós e para elas, uma vida que se compare
com a vida de Deus. Pesai para agora e para a eternidade. Enquanto estais
ocupado nisso, Cristo diz: "Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo
e perder a sua alma?" Marcos 8:36.
Deus deseja que
escolhamos o celestial em vez do terreno. Abre-nos as possibilidades de uma
inversão celeste. Deseja prover encorajamento para nossas mais elevadas
aspirações e segurança para nosso mais dileto tesouro. Declara: "Farei que
um homem seja mais precioso do que o ouro puro e mais raro do que o ouro fino
de Ofir." Isaías 13:12. Quando forem consumidas as riquezas que a traça devora
e a ferrugem corrói (Mattheus 6:19), os seguidores de Cristo poderão
rejubilar-se em seu tesouro celeste, em suas riquezas imperecíveis.
Melhor do que a
companhia do mundo é a dos redimidos de Cristo. Melhor que um título para o
mais nobre palácio da Terra é o título para as mansões que nosso Salvador foi
preparar. E melhor que todas as palavras de louvor terreno, serão as do
Salvador aos servos fiéis: "Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança
o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo." Matheus 25:34.
Aos que dissiparam Seus
bens, Cristo ainda dá oportunidade para se assegurarem as riquezas duradouras.
Diz Ele: "Dai, e ser-vos-á dado." Lucas. 6:38. "Fazei para vós
bolsas que não se envelheçam, tesouro nos Céus que nunca acabe, aonde não chega
ladrão, e a traça não rói." Lucas. 12:33. "Manda aos ricos deste
mundo, ... que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e
sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o
futuro, para que possam alcançar a vida eterna." I Timóteo 6:17-19.
Deixe, pois, que sua propriedade o preceda no Céu. Deposite seu
tesouro ao lado do trono de Deus. Assegure seu título às inescrutáveis riquezas
de Cristo. "Granjeai amigos com as riquezas da injustiça, para que, quando
estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos." Lucas.
16:9.
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