terça-feira, 23 de agosto de 2016

18 (Parábolas de Jesus) Um Convite Generoso - Primeira Parte


O Salvador era convidado no banquete de um fariseu. Aceitava convites tanto de ricos como de pobres, e consoante Seu costume, vinculava com Suas lições da verdade a cena que tinha diante de Si. Entre os judeus o banquete sagrado era associado com todas as suas épocas de júbilo nacional e religioso. Era-lhes um tipo das bênçãos da vida eterna. O grande banquete em que se assentariam à mesa com Abraão, Isaque e Jacó, enquanto os gentios estariam de fora, olhando cobiçosamente, era tema sobre que se deleitavam em falar. A lição de advertência e instrução que Cristo desejava dar, ilustrou agora pela parábola da grande ceia. Os judeus pretendiam circunscrever a si as bênçãos divinas para esta vida e a futura. Negavam a misericórdia de Deus para com os gentios. Pela parábola Cristo mostrou que nesse mesmo momento eles rejeitavam o convite de misericórdia, a chamada para o reino de Deus.
Demonstrou que o convite que desdenhavam estava para ser dirigido àqueles a quem desprezavam, e de quem se retraíam como de leprosos.
Na escolha dos convidados para o banquete, consultara o fariseu o próprio interesse egoísta. Cristo lhe disse: "Quando deres um jantar ou uma ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado. Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos e serás bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado serás na ressurreição dos justos." Lucas 14:12-14.
Cristo repetia aqui as instruções que dera a Israel por Moisés. Em seus banquetes sagrados ordenara o Senhor que "o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas", viessem, comessem e se saciassem. Deuteronômio 14:29. Essas reuniões deveriam ser para Israel lições objetivas. Sendo ensinada deste modo a alegria da verdadeira hospitalidade, o povo deveria cuidar durante todo o ano dos pobres e indigentes. E essas ceias encerravam uma lição mais ampla. As bênçãos espirituais,
"Ó vós todos os que tendes sede, vinde às águas, e vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura." Isaías 55:1 e 2.
Prodigalizadas a Israel, não eram para eles somente. Deus lhes dera o pão da vida, para que o repartissem com o mundo.
Essa tarefa não executaram. As palavras de Cristo eram-lhes uma censura ao egoísmo. Desagradavam aos fariseus. Desejando desviar o rumo da conversa, um deles exclamou com ares de beato: "Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus!" Lucas 14:15. Esse homem falou com grande confiança, como se estivesse certo de um lugar no reino. Sua atitude era semelhante à dos que se alegram com ser salvos por Cristo, conquanto não preencham as condições sob que a salvação é prometida. Seu espírito era idêntico ao de Balaão, quando orava: "A minha alma morra da morte dos justos, e seja o meu fim como o seu." Números 23:10. O fariseu não pensava em sua aptidão para o Céu, mas naquilo em que esperava deleitar-se lá. Sua observação destinava-se a desviar do tema de seus deveres práticos, a atenção dos convidados à ceia. Desejava dirigi-los da vida presente ao remoto tempo da ressurreição dos justos.
Cristo leu o coração do dissimulador e, dirigindo-lhe o olhar, expôs aos convidados o caráter e o valor de seus privilégios presentes. Indicou-lhes que, a fim de partilharem das bem-aventuranças futuras, tinham uma obra para fazer neste tempo.
"Um certo homem", disse, "fez uma grande ceia e convidou a muitos." Lucas 14:16. Chegado o tempo da celebração, o que convidava enviou seus servos com uma segunda mensagem aos hóspedes esperados: "Vinde, que já tudo está preparado." Lucas 14:17. Estranha indiferença manifestou-se, porém. "Todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Casei e, portanto, não posso ir." Lucas 14:18-20.
Nenhuma das escusas tinha base em necessidade real. O homem que precisava sair a ver seu campo, já o comprara. Sua pressa de ir vê-lo era devida a que seu interesse estava absorvido pela aquisição. Os bois, também, tinham sido comprados. O exame dos mesmos só devia satisfazer à curiosidade do comprador. Também a terceira desculpa não tinha melhor motivo. A circunstância de o convidado haver contraído núpcias, não precisava impedir sua presença à festa. Sua esposa também seria bem-vinda. Fizera, porém, seus próprios planos de prazer, e estes lhe pareciam mais desejáveis do que comparecer à festa, como prometera. Aprendera a achar prazer noutra companhia que não a do anfitrião. Não pediu desculpas, nem mesmo usou de cortesia em escusar-se. O "não posso ir" era unicamente um véu para a verdade - "não faço questão de ir".
Todas as escusas denunciavam espírito preocupado. Estes convidados ficaram absortos pelo interesse em outras coisas. O convite que se comprometeram a aceitar, foi rejeitado, e o generoso amigo, ofendido por sua indiferença.

Pela grande ceia, Cristo representa as bênçãos oferecidas pelo evangelho. A provisão é nada menos que o próprio Cristo. Ele é o pão que desceu do Céu; e dEle procedem as torrentes da salvação. Os mensageiros do Senhor anunciaram aos judeus a vinda do Salvador, apontaram a Cristo como "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. No banquete que preparou, Deus lhes ofereceu a maior dádiva que o Céu podia conceder - uma dádiva que excede todo o entendimento. O amor de Deus supriu o custoso banquete, e proveu inesgotáveis recursos. "Se alguém comer desse pão", disse Cristo, "viverá para sempre." João 6:51.
Todavia, para aceitar o convite ao banquete do evangelho, precisariam subordinar seus interesses materiais ao propósito de receber a Cristo e Sua justiça. Deus prodigalizou tudo ao homem, e lhe pede colocar Seu serviço acima de todas as considerações terrenas e egoístas. Não pode aceitar um coração indiferente. O coração absorto em afeições terrenas não pode ser entregue a Deus. A lição é para todo o tempo. Devemos seguir o Cordeiro de Deus, aonde quer que vá. Deve ser escolhida Sua direção, e Sua companhia apreciada mais que a de amigos terrenos. Cristo diz: "Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim." Matheus 10:37.
Ao redor da mesa, quando partiam o pão cotidiano, muitos repetiam, nos dias de Cristo, as palavras: "Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus!" Lucas 14:15. Mas Cristo mostra como é difícil encontrar hóspedes à mesa provida por preço infinito. Aqueles que Lhe escutavam as palavras sabiam que tinham desprezado o misericordioso convite. Posses terrenas, riquezas e prazeres eram-lhes
"Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do Céu, para que o que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu." João 6:48-51. todo-absorventes. De consenso unânime escusaram-se.
O mesmo se dá hoje. As desculpas apresentadas ao recusar o convite para o banquete encerram todos os motivos apresentados para recusar o convite do evangelho. Declaram que não podem prejudicar suas perspectivas materiais dando ouvidos às reivindicações do evangelho. Consideram seus propósitos temporais de maior valor que as coisas da eternidade. Justamente as bênçãos que receberam de Deus se tornam um empecilho que lhes separa a alma do Criador e Redentor. Não querem ser interrompidas em suas empresas mundanas, e dizem ao mensageiro da graça: "Por agora, vai-te, e, em tendo oportunidade, te chamarei." Atos 24:25. Outros insistem nas dificuldades que surgiriam nas relações sociais se obedecessem ao convite de Deus. Dizem que não podem estar em desarmonia com seus parentes e conhecidos. Deste modo denunciam fazer o mesmo que os descritos na parábola. O anfitrião considera-lhes as desculpas fúteis, e demonstrativas de desprezo ao convite.

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