O Salvador era convidado no banquete de um fariseu. Aceitava
convites tanto de ricos como de pobres, e consoante Seu costume, vinculava com
Suas lições da verdade a cena que tinha diante de Si. Entre os judeus o
banquete sagrado era associado com todas as suas épocas de júbilo nacional e
religioso. Era-lhes um tipo das bênçãos da vida eterna. O grande banquete em
que se assentariam à mesa com Abraão, Isaque e Jacó, enquanto os gentios
estariam de fora, olhando cobiçosamente, era tema sobre que se deleitavam em
falar. A lição de advertência e instrução que Cristo desejava dar, ilustrou
agora pela parábola da grande ceia. Os judeus pretendiam circunscrever a si as
bênçãos divinas para esta vida e a futura. Negavam a misericórdia de Deus para
com os gentios. Pela parábola Cristo mostrou que nesse mesmo momento eles
rejeitavam o convite de misericórdia, a chamada para o reino de Deus.
Demonstrou que o convite que desdenhavam estava para ser dirigido
àqueles a quem desprezavam, e de quem se retraíam como de leprosos.
Na escolha dos convidados para
o banquete, consultara o fariseu o próprio interesse egoísta. Cristo lhe disse:
"Quando deres um jantar ou uma ceia, não chames os teus amigos, nem os
teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que
também eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado. Mas, quando
fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos e serás
bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado
serás na ressurreição dos justos." Lucas 14:12-14.
Cristo repetia aqui as
instruções que dera a Israel por Moisés. Em seus banquetes sagrados ordenara o
Senhor que "o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas
portas", viessem, comessem e se saciassem. Deuteronômio 14:29. Essas
reuniões deveriam ser para Israel lições objetivas. Sendo ensinada deste modo a
alegria da verdadeira hospitalidade, o povo deveria cuidar durante todo o ano
dos pobres e indigentes. E essas ceias encerravam uma lição mais ampla. As
bênçãos espirituais,
"Ó vós todos os que tendes
sede, vinde às águas, e vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei;
sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais
o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não
pode satisfazer? Ouvi-me atentamente e comei o que é bom, e a vossa alma se
deleite com a gordura." Isaías 55:1 e 2.
Prodigalizadas
a Israel, não eram para eles somente. Deus lhes dera o pão da vida, para que o
repartissem com o mundo.
Essa tarefa não executaram. As
palavras de Cristo eram-lhes uma censura ao egoísmo. Desagradavam aos fariseus.
Desejando desviar o rumo da conversa, um deles exclamou com ares de beato:
"Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus!" Lucas 14:15. Esse
homem falou com grande confiança, como se estivesse certo de um lugar no reino.
Sua atitude era semelhante à dos que se alegram com ser salvos por Cristo,
conquanto não preencham as condições sob que a salvação é prometida. Seu
espírito era idêntico ao de Balaão, quando orava: "A minha alma morra da
morte dos justos, e seja o meu fim como o seu." Números 23:10. O fariseu
não pensava em sua aptidão para o Céu, mas naquilo em que esperava deleitar-se
lá. Sua observação destinava-se a desviar do tema de seus deveres práticos, a
atenção dos convidados à ceia. Desejava dirigi-los da vida presente ao remoto
tempo da ressurreição dos justos.
Cristo leu o coração do
dissimulador e, dirigindo-lhe o olhar, expôs aos convidados o caráter e o valor
de seus privilégios presentes. Indicou-lhes que, a fim de partilharem das
bem-aventuranças futuras, tinham uma obra para fazer neste tempo.
"Um certo homem",
disse, "fez uma grande ceia e convidou a muitos." Lucas 14:16.
Chegado o tempo da celebração, o que convidava enviou seus servos com uma
segunda mensagem aos hóspedes esperados: "Vinde, que já tudo está
preparado." Lucas 14:17. Estranha indiferença manifestou-se, porém.
"Todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um
campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse:
Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por
escusado. E outro disse: Casei e, portanto, não posso ir." Lucas 14:18-20.
Nenhuma das escusas tinha base em necessidade real. O homem que
precisava sair a ver seu campo, já o comprara. Sua pressa de ir vê-lo era
devida a que seu interesse estava absorvido pela aquisição. Os bois, também,
tinham sido comprados. O exame dos mesmos só devia satisfazer à curiosidade do
comprador. Também a terceira desculpa não tinha melhor motivo. A circunstância
de o convidado haver contraído núpcias, não precisava impedir sua presença à
festa. Sua esposa também seria bem-vinda. Fizera, porém, seus próprios planos
de prazer, e estes lhe pareciam mais desejáveis do que comparecer à festa, como
prometera. Aprendera a achar prazer noutra companhia que não a do anfitrião. Não
pediu desculpas, nem mesmo usou de cortesia em escusar-se. O "não posso
ir" era unicamente um véu para a verdade - "não faço questão de
ir".
Todas as escusas denunciavam
espírito preocupado. Estes convidados ficaram absortos pelo interesse em outras
coisas. O convite que se comprometeram a aceitar, foi rejeitado, e o generoso
amigo, ofendido por sua indiferença.
Pela grande ceia, Cristo
representa as bênçãos oferecidas pelo evangelho. A provisão é nada menos que o
próprio Cristo. Ele é o pão que desceu do Céu; e dEle procedem as torrentes da
salvação. Os mensageiros do Senhor anunciaram aos judeus a vinda do Salvador,
apontaram a Cristo como "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo". João 1:29. No banquete que preparou, Deus lhes ofereceu a maior
dádiva que o Céu podia conceder - uma dádiva que excede todo o entendimento. O
amor de Deus supriu o custoso banquete, e proveu inesgotáveis recursos.
"Se alguém comer desse pão", disse Cristo, "viverá para
sempre." João 6:51.
Todavia, para aceitar o convite ao banquete do evangelho,
precisariam subordinar seus interesses materiais ao propósito de receber a
Cristo e Sua justiça. Deus prodigalizou tudo ao homem, e lhe pede colocar Seu
serviço acima de todas as considerações terrenas e egoístas. Não pode aceitar
um coração indiferente. O coração absorto em afeições terrenas não pode ser
entregue a Deus. A lição é para todo o tempo. Devemos seguir o Cordeiro de
Deus, aonde quer que vá. Deve ser escolhida Sua direção, e Sua companhia
apreciada mais que a de amigos terrenos. Cristo diz: "Quem ama o pai ou a
mãe mais do que a Mim não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do
que a Mim não é digno de Mim." Matheus 10:37.
Ao redor da mesa, quando
partiam o pão cotidiano, muitos repetiam, nos dias de Cristo, as palavras:
"Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus!" Lucas 14:15. Mas
Cristo mostra como é difícil encontrar hóspedes à mesa provida por preço
infinito. Aqueles que Lhe escutavam as palavras sabiam que tinham desprezado o
misericordioso convite. Posses terrenas, riquezas e prazeres eram-lhes
"Eu sou o pão da vida.
Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do
Céu, para que o que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo que desceu do
Céu." João 6:48-51. todo-absorventes. De consenso unânime escusaram-se.
O mesmo se dá hoje. As desculpas apresentadas ao recusar o convite
para o banquete encerram todos os motivos apresentados para recusar o convite
do evangelho. Declaram que não podem prejudicar suas perspectivas materiais
dando ouvidos às reivindicações do evangelho. Consideram seus propósitos
temporais de maior valor que as coisas da eternidade. Justamente as bênçãos que
receberam de Deus se tornam um empecilho que lhes separa a alma do Criador e
Redentor. Não querem ser interrompidas em suas empresas mundanas, e dizem ao
mensageiro da graça: "Por agora, vai-te, e, em tendo oportunidade, te
chamarei." Atos 24:25. Outros insistem nas dificuldades que surgiriam nas
relações sociais se obedecessem ao convite de Deus. Dizem que não podem estar
em desarmonia com seus parentes e conhecidos. Deste modo denunciam fazer o
mesmo que os descritos na parábola. O anfitrião considera-lhes as desculpas
fúteis, e demonstrativas de desprezo ao convite.
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