Os anjos, ao deixarem
o Céu, depuseram com tristeza suas brilhantes coroas. Não podiam usá-las
enquanto seu Comandante estivesse sofrendo, e tivesse que usar uma coroa de
espinhos. Satanás e seus anjos estavam na sala do julgamento, empenhados na obra
de destruir os sentimentos e simpatia humanos. A própria atmosfera estava
carregada e poluída por sua influência. Eles inspiraram os principais
sacerdotes e anciãos a insultar e maltratar a Jesus de tal maneira que seria
dificílimo à natureza humana resistir. Satanás esperava que tal zombaria e
violência provocassem no Filho de Deus alguma queixa ou murmuração; ou que Ele
manifestasse Seu poder divino libertando-Se do poder da multidão, vindo, deste
modo, a fracassar o plano da salvação.
Negação de Pedro
Pedro acompanhou o Senhor
depois de Sua traição. Estava ansioso por ver o que seria de Jesus. Mas, quando
foi acusado de ser um de Seus discípulos, o temor pela própria segurança
levou-o a declarar que não conhecia o homem. Os discípulos eram notados pela
pureza de sua linguagem, e Pedro, para convencer seus acusadores de que não era
um dos discípulos de Cristo, negou a acusação pela terceira vez com maldição e
juramento. Jesus, que estava a alguma distância de Pedro, volveu para ele um
olhar cheio de tristeza e reprovação. Então o discípulo se lembrou
das palavras que Jesus lhe falara no cenáculo, e também de sua afirmação cheia
de zelo: "Ainda que todos se escandalizem em Ti, eu nunca me
escandalizarei." Matheus 26:33. Ele tinha negado seu Senhor, mesmo com
maldição e juramento; mas aquele olhar de Jesus como que dissolveu o coração de
Pedro, e o salvou. Ele chorou amargamente, arrependeu-se de seu grande pecado e
converteu-se; e, então, ficou preparado para fortalecer seus irmãos.
Na Sala do Julgamento
A multidão clamava pelo sangue de Jesus.
Cruelmente O açoitaram e puseram sobre Ele uma velha veste real de púrpura,
cingindo-Lhe a sagrada cabeça com uma coroa de espinhos. Puseram-Lhe na mão uma
cana, prostravam-se diante dEle e escarnecedoramente O saudavam: "Salve,
Rei dos judeus." Matheus 27:29. Tiraram-Lhe então da mão a cana, e com ela
O feriram na cabeça, fazendo com que os espinhos penetrassem em Sua fronte e o
sangue Lhe escorresse pelo rosto e barba.
Era difícil aos anjos suportar aquela
cena. Desejavam libertar a Jesus, mas os anjos comandantes lhes proibiam isto,
dizendo que era grande o resgate que deveria ser pago pelo homem; mas que este
se completaria e ocasionaria a morte dAquele que tinha o poder da morte. Jesus
sabia que os anjos estavam testemunhando a cena de Sua humilhação. O mais fraco
dentre os anjos poderia fazer com que aquela multidão escarnecedora caísse
impotente, e poderia livrar a Jesus. Ele sabia que, Se desejasse isto de Seu
Pai, os anjos instantaneamente O livrariam. Era, porém, necessário que Ele
sofresse a violência dos homens ímpios, a fim de levar a efeito o plano da
salvação.
Jesus permaneceu manso e
humilde perante a multidão enfurecida, enquanto Lhe davam os mais vis maus
tratos.
Cuspiam naquele rosto do qual um dia desejarão
esconder-se, e que dará luz à cidade de Deus resplandecendo mais do que o Sol.
Cristo não lançou contra os que O ofendiam um olhar iroso. Cobriam-Lhe a cabeça
com uma roupa velha, vendando-Lhe os olhos, e então O feriam no rosto e
exclamavam: "Profetiza, quem é que Te feriu?" Lucas 22:64. Houve
comoção entre os anjos. Eles O teriam livrado instantaneamente; mas seus anjos
comandantes os contiveram.
Alguns dos discípulos se atreveram a
entrar onde Jesus Se achava e testemunhar o Seu julgamento. Esperavam que Ele
manifestasse Seu poder divino, que Se livrasse das mãos dos inimigos e os
punisse pela crueldade para com Ele. Suas esperanças vinham e desapareciam ao
transpirarem as diferentes cenas. Algumas vezes duvidavam, e temiam ter sido
enganados. Mas a voz que ouviram no monte da transfiguração e a glória que ali
contemplaram, fortaleceram-lhes a fé quanto a ser Ele o Filho de Deus.
Recordaram-se das cenas que tinham testemunhado, dos milagres que tinham visto
Jesus realizar ao curar os doentes, abrir os olhos aos cegos, desobstruir os
ouvidos surdos, repreender e expelir os demônios, e restituir a vida aos
mortos, e mesmo acalmar os ventos e o mar.
Não podiam crer que Ele morreria.
Esperavam que ainda Se levantasse com poder, e com Sua voz soberana dispersasse
aquela multidão sedenta de sangue, como o fizera quando entrara no templo e
expulsara os que estavam a fazer da casa de Deus lugar de mercadorias, e quando
fugiram de diante dEle como se fossem perseguidos por um grupo de soldados
armados. Os discípulos esperavam que Jesus manifestasse Seu poder e convencesse
a todos de que era o Rei de Israel.
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