Nenhum traço de Seus recentes sofrimentos
podiam ser notados quando o Salvador Se adiantou para encontrar Seu traidor.
Colocando-se adiante dos discípulos, perguntou à turba:
Ao dizer essas palavras, o
anjo que há pouco O servira, colocou-se entre Ele e a multidão. Uma luz divina
iluminou Seu rosto e uma forma de pomba pairava sobre Si. A turba assassina não
pôde suportar por um momento sequer a luz da presença divina. Recuaram
cambaleantes e sacerdotes, anciãos e soldados caíram por terra, sem
sentidos.
O anjo retirou-se e a luz se
apagou. Jesus poderia ter escapado, mas permaneceu ali, calmo e com perfeito
domínio de Si mesmo enquanto os discípulos estavam assustados demais para dizer
uma só palavra.
Os soldados romanos logo se
recobraram, levantando-se e junto com os sacerdotes e Judas rodearam Jesus.
Pareciam envergonhados de sua fraqueza e temerosos de que Ele pudesse fugir. O
Salvador pergunta-lhes mais uma vez:
"A quem buscais? Responderam-lhe: A
Jesus, o Nazareno. Então, lhes disse Jesus: Já vos declarei que sou Eu; se é a
Mim, pois, que buscais, deixai ir estes." João 18:7 e 8.
Nessa hora de provação, os pensamentos de
Cristo voltaram-se para os Seus amados discípulos. Não queria que sofressem,
ainda que tivesse que enfrentar a prisão e a morte.
O Beijo da Traição
Judas, o traidor, não se esqueceu da parte
que tinha a desempenhar. Aproximou-se e O beijou. Disse-lhe Jesus: "Amigo,
para que vieste?" Matheus 26:50. E com voz trêmula acrescentou: "Judas,
com um beijo trais o Filho do Homem?" Lucas 22:48.
Essas amáveis palavras deveriam comover o
coração de Judas, mas parece que todo o sentimento de ternura e dignidade
haviam-no abandonado. Agora estava sob o domínio de Satanás. Colocou-se com
arrogância ao lado de Jesus e não se envergonhou de entregá-Lo à turba cruel.
Cristo não recusou o beijo
do traidor. Nisso, Ele nos deu exemplo de tolerância, amor e simpatia. Se somos
Seus discípulos, devemos tratar nossos inimigos como Ele tratou Judas.
A multidão homicida
tornou-se mais ousada quando viu o traidor tocar o Ser que há pouco havia sido
iluminado com a luz celeste diante de seus olhos. Em seguida, prenderam-No e
ataram Suas mãos que sempre se ocuparam em fazer o bem.
Os discípulos não
acreditavam que Jesus consentiria em ser preso. Tinham certeza de que o poder que
havia lançado a turba por terra era suficiente para livrar o Mestre e Seus
companheiros. Ficaram desapontados e indignados quando viram as mãos de Seu
amado Mestre serem amarradas. Furioso, Pedro arrancou da espada e brandindo-a
cortou a orelha do servo do sacerdote.
Jesus, vendo o que Pedro fizera, soltou as
mãos firmemente amarradas pelos soldados romanos e disse: "Deixai,
basta." Lucas 22:51. Tocou então a orelha ferida que sarou no mesmo
instante.
Disse então a Pedro: "Embainha a tua
espada; pois todos os que lançam mão da espada, à espada perecerão. Acaso,
pensas que não posso rogar a Meu Pai, e Ele Me mandaria neste momento mais de
doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as
quais assim deve suceder?" Matheus 26:52-54. "Não beberei, porventura, o
cálice que o Pai Me deu?" João 18:11.
Voltando-se então para os sacerdotes e
capitães do templo que se encontravam na multidão, disse-lhes: "Saístes
com espadas e porretes para prender-me, como a um salteador? Todos os dias Eu
estava convosco no templo, ensinando, e não me prendestes; contudo, é para que
se cumpram as Escrituras." Marcos 14:48 e 49.
Quando os discípulos viram que o Salvador
não fazia nenhum esforço para se livrar de Seus inimigos, culparam-No por isso.
Não podiam compreender Sua rendição àquela turba e aterrorizados, abandonaram-No
e fugiram.
Cristo havia predito a cena do abandono
quando disse:
"Eis que vem a hora e já é chegada, em que sereis
dispersos, cada um para sua casa, e Me deixareis só; contudo, não estou só,
porque o Pai está comigo." João 16:32.
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