No Monte das Oliveiras, Cristo falara aos discípulos, do Seu
segundo advento ao mundo. Especificara certos sinais que se manifestariam
quando Sua vinda estivesse próxima, e ordenara aos discípulos que vigiassem e
estivessem preparados. Novamente repetiu a advertência: "Vigiai, pois,
porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir." Matheus
25:13. Mostrou então o que significa aguardar Sua vinda. O tempo não deve ser
gasto em vigilância ociosa, mas em trabalho diligente. Esta lição ensinou na
parábola dos talentos.
"O reino dos Céus",
disse, "é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os
seus servos, e entregou-lhes os seus bens, e a um deu cinco talentos, e a
outro, dois, e a outro, um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se
logo para longe." Matheus 25:14 e 15.
O homem que partiu para longe
representa Cristo, que, ao proferir esta parábola, estava prestes a partir da
Terra para o Céu. Os "servos", ou escravos, da parábola, representam
os seguidores de Cristo. Não somos de nós mesmos.
Fomos "comprados por bom preço" (I Coríntios 6:20), não
"com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, ... mas com o precioso
sangue de Cristo" (I Ped. 1:18 e 19); "para que os que vivem não
vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou". II
Coríntios 5:15.
Todos os homens foram comprados
por este infinito preço. Derramando toda a riqueza do Céu neste mundo,
dando-nos todo o Céu em Cristo, Deus adquiriu a vontade, as afeições, a mente,
a alma de todo ser humano. Crentes ou incrédulos, todos os homens são
propriedade do Senhor. Todos são chamados para Seu serviço, e todos deverão, no
grande dia do Juízo, prestar contas da maneira em que respondem a esta
reivindicação.
As reivindicações de Deus,
porém, não são reconhecidas por todos. Os que professam ter aceito o serviço de
Cristo, são representados como Seus servos, na parábola.
Os seguidores de Cristo foram
redimidos para ser úteis ao próximo. Nosso Senhor ensina que o verdadeiro
objetivo da vida é servir. Cristo mesmo foi obreiro, e dá a todos os Seus
seguidores a lei do serviço - o serviço a Deus e ao próximo. Aqui Cristo
apresentou ao mundo uma concepção mais elevada da vida, a qual jamais
conheceram. Vivendo para servir aos outros, o homem é levado à comunhão com
Cristo. A lei de servir torna-se o vínculo que nos liga a Deus e a nosso
semelhante.
Cristo confia a Seus servos
"Seus bens" - alguma coisa que deve ser usada para Ele. Dá "a
cada um sua obra". Todos têm seu lugar no plano eterno do Céu. Todos devem
colaborar com Cristo para a salvação de almas. Tão certo como nos está
preparado um lugar nas mansões celestes, há também um lugar designado aqui na
Terra, onde devemos trabalhar para Deus.
Dons do Espírito
Os talentos que Cristo confiou
a Sua igreja representam especialmente os dons e bênçãos conferidos pelo
Espírito Santo. "Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da
sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro,
pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e
a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de
discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a
interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas
coisas, repartindo particularmente a cada um como quer." I Coríntios
12:8-11. Nem todos os homens recebem os mesmos dons, porém a cada servo do
Mestre é prometido algum dom do Espírito.
Antes de deixar os discípulos,
Cristo "assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo".
João 20:22. Depois disse: "Eis que sobre vós envio a promessa de Meu
Pai." Lucas 24:49. Somente depois da ascensão, porém, foi o dom recebido
em sua plenitude. Apenas quando os discípulos se renderam plenamente à Sua
operação em fé e súplicas, foi derramado sobre eles o Espírito Santo. Então os
bens do Céu foram concedidos aos seguidores de Cristo em sentido especial.
"Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens." Efésios
4:8. "Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de
Cristo" (Efésios 4:7), repartindo o Espírito particularmente "a cada
um como quer". I Coríntios 12:11. Estes dons já são nossos em Cristo, mas
a posse real depende de nossa recepção do Espírito de Deus.
A promessa do Espírito não é apreciada devidamente. Seu
cumprimento não é realizado como poderia sê-lo. A ausência do Espírito é que
torna tão impotente o ministério evangélico. Pode-se possuir cultura, talento,
eloqüência ou qualquer dote natural ou adquirido; mas sem a presença do
Espírito de Deus não se tocará nenhum coração, nem se ganhará pecador algum
para Cristo. De outro lado, se estão ligados com Cristo, e se possuem os dons
do Espírito, os mais pobres e ignorantes de Seus discípulos terão um poder que
falará aos corações. Deus faz deles condutos para a difusão, no Universo, das
mais elevadas influências.
Outros Talentos
Os dons especiais do Espírito
não são os únicos talentos representados na parábola. Esta inclui todos os dons
e dotes, originais ou adquiridos, naturais ou espirituais. Todos devem ser
empregados no serviço de Cristo. Tornando-nos discípulos Seus, rendemo-nos a
Ele com tudo que somos e temos. Devolve-nos Ele, então, essas dádivas
purificadas e enobrecidas para que as utilizemos para Sua glória em abençoar
nossos semelhantes.
Deus deu a cada um
"segundo a sua capacidade". Matheus 25:15. Os talentos não são
distribuídos a esmo. Quem tem capacidade para usar cinco talentos recebe cinco.
Quem só pode utilizar dois, recebe dois. Quem só pode usar sabiamente um,
recebe um. Ninguém precisa lamentar que não recebeu maiores dons; porque Aquele
que repartiu a cada um, é igualmente honrado pelo desenvolvimento de toda
dádiva, seja ela grande ou pequena. Aquele a quem foram confiados cinco
talentos, deve restituir o aumento dos cinco; a quem foi dado apenas um, o
aumento de um. Deus espera a restituição "segundo o que qualquer tem e não
segundo o que não tem". II Coríntios 8:12.
O uso dos Talentos
Na parábola, aquele que
"recebera cinco talentos negociou com eles e granjeou outros cinco talentos.
Da mesma sorte, o que recebera dois granjeou também outros dois". Matheus
25:16 e 17.
Os talentos, conquanto poucos,
devem ser empregados. A questão que mais nos interessa não é: Quanto recebi?
mas: O que faço com o que tenho? O desenvolvimento de todas as nossas
faculdades é a primeira obrigação que devemos a Deus e a nossos semelhantes.
Ninguém, que não esteja crescendo diariamente em capacidade e utilidade, estará
cumprindo o propósito da vida. Fazendo profissão de fé em Cristo,
comprometemo-nos a tornar-nos tudo quanto nos seja possível, como obreiros,
para o Mestre, e devemos cultivar cada faculdade ao mais elevado grau de
perfeição, para que possamos fazer o maior bem que formos capazes de realizar.
O Senhor tem uma grande obra para realizar, e mais legará na vida
futura aos que na presente serviram mais fiel e voluntariamente. O Senhor
escolhe Seus agentes e dá-lhes cada dia, sob diferentes circunstâncias,
oportunidades em Seu plano de operação. Escolhe Seus agentes em cada esforço
sincero de levar a efeito o Seu plano, não porque sejam perfeitos, mas porque
pela conexão com Ele podem alcançar a perfeição.
Deus somente aceitará os que
estão decididos a ter um alvo elevado. Coloca cada agente humano sob a
obrigação de fazer o melhor. De todos é requerido perfeição moral. Nunca
devemos abaixar a norma de justiça com o fim de acomodar à prática do mal,
tendências herdadas ou cultivadas. Precisamos compreender que imperfeição de
caráter é pecado. Todos os justos atributos de caráter habitam em Deus como um
todo perfeito e harmonioso, e todo aquele que aceita a Cristo como Salvador
pessoal, tem o privilégio de possuir estes atributos.
E os que querem ser coobreiros
de Deus devem esforçar-se para aperfeiçoar cada órgão do corpo e qualidade da
mente. Verdadeira educação é o preparo das faculdades físicas, mentais e morais
para a execução de todo dever; é o preparo do corpo, mente e intelecto para o
serviço divino. Essa é a educação que perdurará para a vida eterna.
Requer o Senhor de todo cristão
crescimento em eficiência e capacidade em todo ramo. Cristo pagou nosso
salário, Seu próprio sangue e sofrimento, para assegurar nosso serviço
voluntário. Veio ao nosso mundo para dar um exemplo de como devemos trabalhar,
e que espírito devemos introduzir em nossa labuta. Deseja que estudemos como
melhor promover Sua obra e glorificar Seu nome no mundo, coroando com honras,
com o maior amor e devoção, o Pai que "amou o mundo de tal maneira que deu
o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha
a vida eterna". João 3:16.
Cristo, porém, não nos deu garantia alguma de que é fácil alcançar
perfeição de caráter. Não se herda caráter perfeito e nobre. Não o recebemos
por acaso. O caráter nobre é ganho por esforço individual mediante os méritos e
a graça de Cristo. Deus dá os talentos e as faculdades mentais; nós formamos o
caráter. É formado por combates árduos e relutantes com o próprio eu. As
tendências herdadas devem ser banidas por um conflito após outro. Devemos
esquadrinhar-nos detidamente e não permitir que permaneça traço algum
incorreto.
Ninguém diga: Não posso
corrigir meus defeitos de caráter. Se chegardes a essa decisão, certamente
deixareis de alcançar a vida eterna. A impossibilidade está em nossa própria
vontade. Se não quiserdes não vencereis. A dificuldade real vem da corrupção de
um coração não santificado, e da involuntariedade de se submeter à direção de
Deus. Muitos a quem Deus capacitou para fazer trabalho excelente, pouco
conseguem, porque pouco empreendem. Milhares passam esta vida como se não
tivessem alvo definido pelo qual viver, nem norma para alcançar. Os tais
receberão recompensa proporcional às suas obras.
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