Na última noite antes da
execução, um poderoso anjo, enviado do Céu, desce para resgatá-lo. As vigorosas
portas que encerravam o santo de Deus abrem-se sem auxílio de mãos humanas; o
anjo do Altíssimo por elas penetra, fechando-se as portas sem ruído por trás
dele. Ele entra na cela, aberta na sólida rocha, e ali está Pedro dormindo o
abençoado, pacífico sono da inocência e perfeita confiança em Deus, ligado por
cadeias a vigorosos guardas, um de cada lado. A luz que envolve o anjo ilumina a prisão, mas não desperta o
adormecido apóstolo. Este é o repouso profundo que revigora e renova e que
provém de uma boa consciência.
Pedro não despertou antes de
sentir o toque da mão do anjo e ouvir sua voz dizendo: "Levanta-te
depressa." Atos 12:7. Ele vê sua cela, que jamais havia sido abençoada com
um raio de Sol, iluminada pela luz celestial, e um anjo de grande glória em pé
diante dele. Maquinalmente obedece à ordem do anjo e, como ao se levantar
erguesse as mãos, verifica que as cadeias lhe caíram dos pulsos. De novo a voz
do anjo é ouvida: "Cinge-te, e ata as tuas alparcas." Atos
12:8.
De novo Pedro maquinalmente obedece,
conservando o admirado olhar voltado para o visitante e crendo estar sonhando
ou em visão. Os guardas armados estão imóveis como esculpidos no mármore,
quando mais uma vez o anjo ordena: "Lança às costas a tua capa, e
segue-me." Atos 12:8. A seguir o ser celestial move-se em direção à porta,
e Pedro, usualmente loquaz, segue-o agora mudo de espanto. Cruzam pela guarda
imóvel e chegam à porta, pesadamente aferrolhada, que por si mesma se abre, e
imediatamente se fecha de novo, enquanto os guardas dentro e fora estão imóveis
em seus postos.
Alcançam a segunda porta, também guardada
por dentro e por fora; ela se abre como a primeira, sem ranger de dobradiças ou
barulho dos fechos de ferro. Passam por ela e novamente se fecha também sem
ruído. De modo idêntico passam pela terceira porta, e acham-se em plena rua.
Não se troca uma palavra; não há ruído de passos. O anjo se move suavemente
diante de Pedro, cercado de uma luz de deslumbrante brilho, e Pedro, confuso, e
julgando-se ainda em sonho, segue o seu libertador. Percorrem rua após rua, e
então, cumprida a missão do anjo, desaparece ele subitamente.
Dissipou-se a luz celestial, e Pedro
pareceu achar-se em profundas trevas; mas, acostumando-se-lhe os olhos,
pareceram elas diminuir gradualmente, e ele se encontrou só na rua silenciosa,
com o ar ameno da noite a soprar-lhe no rosto. Compreendeu então, que não fora
um sonho ou uma visão que o visitara. Viu-se livre, numa parte da cidade que
lhe era familiar; reconheceu o lugar como sendo um que freqüentara muitas
vezes, e por onde esperara passar na manhã seguinte pela última vez, a caminho
do local de sua morte em perspectiva. Procurou rememorar os fatos dos últimos
poucos momentos. Lembrou-se de ter adormecido, ligado entre dois soldados, com
as sandálias e vestes exteriores removidas. Examinou sua pessoa e achou-se
completamente vestido e cingido.
Seus pulsos, inchados pela pressão dos
ferros cruéis, estavam livres das algemas e ele compreendeu que sua liberdade
não era um engano, mas bendita realidade. No dia seguinte deveria ser levado
para morrer; mas, eis, um anjo o livrara da prisão e da morte! "E Pedro,
tornando a si, disse: Agora sei verdadeiramente que o Senhor enviou o Seu anjo
e me livrou da mão de Herodes, e de tudo o que o povo dos judeus
esperava." Atos 12:11.
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