Os apóstolos e
discípulos que deixaram Jerusalém durante a feroz perseguição que ali grassou
depois do martírio de Estêvão, pregavam a Cristo nas cidades ao redor,
restringindo seus trabalhos aos hebreus e judeus gregos. "A mão do Senhor
era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor." Atos 11:21.
Quando os crentes em Jerusalém ouviram as boas novas se
rejubilaram, e Barnabé, "homem de bem, e cheio do Espírito Santo e de
fé" (Atos 11:24), foi enviado a Antioquia, a metrópole da Síria, para
ajudar a igreja local. Trabalhou com grande sucesso. Como o trabalho estivesse
crescendo, solicitou e obteve o auxílio de Paulo, e os dois discípulos
trabalharam juntos na cidade por um ano, ensinando o povo e aumentando em
número a igreja de Cristo.
Antioquia tinha grande população, tanto de judeus como de
gentios, e era grande refúgio para os amantes do sossego e recreação, por causa
de sua localização saudável, das belezas que a circundavam, da riqueza, da
cultura e refinamento ali existentes. Seu extenso comércio fez dela um lugar de
grande importância, onde pessoas de todas as nacionalidades eram encontradas.
Era, portanto, uma cidade de luxo e vício. A retribuição de Deus finalmente
veio sobre Antioquia, por causa da maldade de seus habitantes.
Foi em Antioquia que os
discípulos foram pela primeira vez chamados cristãos. Este nome foi-lhes dado
porque Cristo era o principal tema de sua pregação, conversação e ensino.
Continuamente estavam eles repetindo os incidentes ocorridos durante os dias de
Seu ministério terrestre, quando Seus discípulos foram abençoados com Sua
presença pessoal. Demoravam-se incansavelmente sobre Seus ensinos e milagres de
cura, expulsão de demônios e ressurreição de mortos. Com lábios trêmulos e
olhos rasos de lágrimas falavam de Sua agonia no jardim, Sua traição,
julgamento e execução, a paciência e humildade com que havia suportado a
afronta e a tortura impostas por Seus inimigos e a divina piedade com que tinha
orado por Seus algozes. Sua ressurreição e ascensão, e Sua obra no Céu como
Mediador do homem caído eram tópicos sobre os quais se regozijavam em
demorar-se. Os pagãos bem podiam chamá-los cristãos, uma vez que pregavam a
Cristo e dirigiam suas orações a Deus por intermédio dEle.
Na populosa cidade de Antioquia, Paulo encontrou um
excelente campo de trabalho, onde sua grande cultura, sabedoria e zelo,
combinados, exerceram uma poderosa influência sobre os habitantes e
freqüentadores daquela cidade de cultura.
Enquanto isso, o trabalho dos apóstolos estava centralizado
em Jerusalém, onde judeus de todas as línguas e nacionalidades vinham para
adorar no templo durante as festas. Nessas ocasiões, os apóstolos pregavam a
Cristo com ousada coragem, mesmo sabendo que em assim fazendo, sua vida estava
em constante perigo. Eram feitos muitos conversos à fé, e estes, ao regressarem
a seus lares nas diferentes partes do mundo, espalhavam as sementes da verdade
através de todas as nações e entre todas as classes sociais.
Pedro, Tiago e João confiavam que Deus os havia escolhidopara pregarem a Cristo
entre os de sua própria nação. Todavia, Paulo recebera sua comissão de Deus,
enquanto adorava no templo, e seu amplo campo missionário tinha sido
apresentado diante dele com notável precisão. A fim de prepará-lo para seu
extenso e importante trabalho, Deus o tomou em íntima associação consigo e
descerrou diante de sua arrebatada visão um vislumbre da beleza e glórias
celestiais.
A Ordenação de Paulo e Barnabé
Deus Se comunicava com os devotos profetas e mestres da
igreja de Antioquia. "E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o
Espírito Santo: Separai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho
chamado." Atos 13:2. Esses apóstolos foram solenemente dedicados a Deus
com jejum e oração e imposição das mãos, e então foram enviados para seu campo
de trabalho entre os gentios.
Tanto Paulo como Barnabé tinham sido laboriosos ministros de
Cristo, e Deus recompensara abundantemente seus esforços, mas nenhum deles
havia sido formalmente ordenado para o ministério evangélico pela oração e pela
imposição das mãos. Agora, eles estavam autorizados pela igreja não somente a
pregar a verdade, mas também a batizar e organizar novas igrejas, sendo
investidos de plena autoridade eclesiástica. Esta foi uma época importante para
a igreja. Embora o muro de separação entre judeus e gentios tivesse sido
quebrado pela morte de Cristo, levando aos gentios os privilégios totais do
evangelho, o véu ainda não havia sido tirado dos olhos de muitos crentes
judeus, e eles não podiam discernir claramente o fim daquilo que fora abolido
pelo Filho de Deus. O trabalho agora devia prosseguir vigorosamente entre os
gentios, e disso devia resultar o fortalecimento da igreja mediante uma farta
colheita de almas.
Os apóstolos, neste seu trabalho especial, estariam expostos
a suspeitas, preconceitos e ciúmes. Como conseqüência natural de sua saída do
exclusivismo judaico, suas doutrinas e idéias estariam sujeitas à acusação de
heresia, e suas credenciais de ministros do evangelho seriam postas em dúvida
por muitos judeus zelosos e crentes. Deus previu as dificuldades que Seus
servos deviam enfrentar e, em Sua sábia providência, fez com que fossem
investidos com a inquestionável autoridade da estabelecida igreja de Deus, para
que sua obra estivesse acima de acusação.
Em época posterior, o rito da ordenação mediante a imposição
das mãos sofreu muito abuso; ligava-se a esse ato uma insustentável
importância, como se sobreviesse de vez um poder aos que recebiam essa
ordenação, poder que os habilitasse imediatamente para toda e qualquer obra
ministerial, em virtude da imposição das mãos. Temos, na história desses dois
apóstolos, unicamente um singelo relatório da imposição das mãos e da sua
influência sobre o seu trabalho. Tanto Paulo como Barnabé já haviam recebido
sua comissão do próprio Deus, e a cerimônia da imposição das mãos não ajuntou à
mesma nenhuma graça ou virtual qualificação. Por ela, era simplesmente colocado
o selo da igreja sobre a obra de Deus - uma forma reconhecida de designação
para um cargo específico.
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