A Visita a Cornélio
Entrando Pedro na casa do
gentio, Cornélio não o saudou como a um visitante comum, mas como a alguém
honrado pelo Céu, a ele enviado por Deus. É costume oriental curvar-se perante
um príncipe ou qualquer alto dignitário, e curvarem-se as crianças perante seus
pais, que são honrados com posições de confiança. Mas Cornélio, tomado de
reverência pelo apóstolo enviado por Deus, caiu aos seus pés e o adorou.
Pedro foi presa de horror
por este ato do centurião, e levantou-o, dizendo: "Levanta-te, que eu também
sou homem." Atos 10:26. Começou a falar com ele de modo familiar, a fim de
remover o senso de respeito e extrema reverência, com que o centurião o
considerava.
Tivesse sido Pedro investido
com a autoridade e posição concedidas a ele pela Igreja Católica Romana, teria
estimulado, ao invés de reprimir a veneração de Cornélio. Os assim chamados
sucessores de Pedro requerem que reis e imperadores se curvem a seus pés, porém
o próprio Pedro declarou ser apenas um homem falível, sujeito a erro.
Pedro falou a Cornélio e aos
que estavam reunidos em sua casa, concernente ao costume dos judeus; que lhes
era considerado ilícito misturarem-se socialmente com os gentios, pois
implicava em contaminação cerimonial. Isto não era proibido pela lei de Deus,
mas a tradição dos homens havia feito disso um costume obrigatório. Disse ele:
"Vós bem sabeis que não é lícito a um varão judeu ajuntar-se ou chegar-se
a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum
homem chame comum ou imundo. Pelo que, sendo chamado, vim sem contradizer.
Pergunto pois; por que razão mandastes chamar-me?" Atos 10:28 e 29.
Imediatamente Cornélio
relatou sua experiência, e as palavras do anjo que lhe havia aparecido em
visão. Concluindo, disse: "Logo mandei chamar-te, e bem fizeste em vir.
Agora pois estamos todos presentes diante de Deus, para ouvir tudo quanto por
Deus te é mandado. E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que
Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em
qualquer nação, O teme e obra o que é justo." Atos 10:33-35. Embora Deus
tivesse favorecido os judeus sobre todas as outras nações, ainda assim, rejeitando
a luz e não vivendo segundo sua profissão, não seriam mais exaltados em Sua
estima do que as demais nações. Aqueles que, entre os gentios, à semelhança de
Cornélio, temessem a Deus e operassem a justiça, vivendo segundo a luz que lhes
foi concedida, seriam bondosamente considerados por Deus, e suas sinceras
práticas seriam aceitas.
Contudo, a fé e a justiça de Cornélio não
seriam perfeitas sem o conhecimento de Cristo; por isso, Deus lhe enviou luz e
conhecimento para posterior desenvolvimento de seu justo caráter. Muitos
recusam receber a luz que a providência de Deus lhes envia, e como desculpa por
assim fazer, citam as palavras de Pedro a Cornélio e seus amigos: "Mas que
lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, O teme e obra o que é justo."
Atos 10:35. Sustentam que não tem importância o que os homens creiam, uma vez
que suas obras são boas. Tais pessoas estão enganadas; a fé e as obras devem
estar unidas. Eles devem progredir com a luz que lhes é dada. Se Deus os coloca
em associação com Seus servos que receberam nova verdade, confirmada pela Palavra de
Deus, devem aceitá-la com alegria. A verdade é progressiva e ascendente. Por
outro lado, os que clamam que apenas sua fé pode salvá-los estão confiando em
um vínculo frágil, pois a fé é robustecida e tornada perfeita somente pelas
obras.
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