Imediatamente após esta
entrevista com Cornélio veio o anjo a Pedro, que, enfraquecido e faminto devido
à viagem, estava orando no terraço da casa. Enquanto orava foi-lhe mostrada uma
visão: "E viu o céu aberto, e que descia um vaso como se fosse um grande
lençol atado pelas quatro pontas, e vindo para a terra. No qual havia de todos
os animais quadrúpedes e répteis da terra, e aves do céu. E foi-lhe dirigida
uma voz: Levanta-te, Pedro, mata e come. Mas Pedro disse: De modo nenhum,
Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda. E segunda vez lhe disse
a voz: Não faças tu comum ao que Deus purificou. E aconteceu isto por três
vezes; e o vaso tornou a recolher-se no céu." Atos 10:11-16.
Aqui podemos perceber a
operação do plano de Deus para pôr a máquina em movimento, pela qual Sua
vontade pode ser feita na Terra como
é feita no Céu. Pedro não tinha ainda pregado o evangelho aos gentios. Muitos
deles tinham sido interessados ouvintes das verdades que ele ensinava; porém, o
muro de separação, que a morte de Cristo havia posto abaixo, ainda existia na
mente dos apóstolos, e excluíam os gentios dos privilégios do evangelho. Os
judeus gregos tinham recebido a obra dos apóstolos e muitos deles
corresponderam àqueles esforços aceitando a fé em Jesus; mas a conversão de
Cornélio ia ser a primeira de importância entre os gentios.
Pela visão do lençol e seu
conteúdo, baixado do céu, Pedro devia ser despido de seu apegado preconceito
contra os gentios; e entender que, mediante Cristo, todas as nações seriam
participantes das bênçãos e privilégios dos judeus, e seriam assim igualmente
beneficiadas como eles. Alguns têm afirmado que esta visão significa que Deus
removeu Sua proibição do uso de carne de animais que foram primeiramente
chamados imundos; e que, por causa disso, a carne de porco servia para
alimento. Esta é uma interpretação estreita e totalmente errônea, e plenamente
refutada no sentido escriturístico da visão e suas conseqüências.
A visão de toda sorte de animais vivos,
contidos no lençol, e aos quais foi ordenado a Pedro matar e comer, sendo-lhe
assegurado que o que Deus purificou não devia por ele ser chamado comum ou
imundo, era simplesmente uma ilustração que apresentava a sua mente a posição
real dos gentios - que pela morte de Cristo eles foram feitos co-herdeiros com
o Israel de Deus. Isso serviu a Pedro tanto como reprovação como de instrução.
Seu trabalho tinha até então se confinado inteiramente aos judeus; tinha ele
olhado para os gentios como uma raça imunda, e excluída das promessas de Deus.
Sua mente estava agora sendo levada a compreender o alcance mundial do plano de
Deus.
Enquanto ponderava sobre a visão, esta lhe
foi explicada. "Estando Pedro duvidando entre si acerca do que seria
aquela visão que tinha visto, eis que os varões que foram enviados por Cornélio
pararam à porta, perguntando pela casa de Simão. E, chamando, perguntaram se
Simão, que tinha por sobrenome Pedro, morava ali. E pensando Pedro naquela
visão, disse-lhe o Espírito: Eis que três varões te buscam. Levanta-te pois, e
desce, e vai com eles, não duvidando; porque Eu os enviei." Atos
10:17-20.
Para Pedro, essa era uma ordem difícil;
mas ele não ousava agir de acordo com seus próprios sentimentos, e por isso
desceu de seu aposento e recebeu os mensageiros enviados a ele por Cornélio.
Estes comunicaram sua singular incumbência ao apóstolo e, de acordo com a
instrução que recebera de Deus, concordou em acompanhá-los na manhã seguinte.
Hospedou-os cortesmente naquela noite e de manhã partiu com eles para Cesaréia,
acompanhado por seis de seus irmãos, que deviam ser testemunhas de tudo quanto
iria dizer ou fazer enquanto estivesse visitando os gentios; pois sabia que
seria chamado a dar contas de uma violação tão direta da fé e dos ensinos
judaicos.
Passaram-se quase dois dias antes que a
jornada tivesse terminado e Cornélio tivesse o feliz privilégio de abrir suas
portas a um ministro do evangelho que, de acordo com o que Deus afirmara, devia
ensinar-lhe e a sua casa como podiam salvar-se. Enquanto os mensageiros
desempenhavam sua incumbência, o centurião já havia reunido tantos quantos fora
possível de seus parentes, a fim de que eles, como ele próprio, fossem
instruídos na verdade. Quando Pedro chegou, um grande
número estava reunido, esperando ansiosamente para ouvir suas palavras.
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