sábado, 14 de janeiro de 2017

03 (O Maior Discurso de Cristo) A Espiritualidade da Lei - Primeira Parte



"Não vim para revogar, vim para cumprir." Matheus 5:17.
Fora Cristo que, por entre trovões e relâmpagos, proclamara a lei no monte Sinai. A glória de Deus, qual fogo devorador, repousara no cimo do monte, e este tremera ante a presença do Senhor. O povo de Israel, prostrado em terra, havia escutado em temor os sagrados preceitos da lei. Que contraste com a cena sobre o monte das bem-aventuranças! Sob um firmamento estival, sem som algum a quebrar o silêncio senão o cântico dos pássaros, Jesus desenvolveu os princípios de Seu reino. Todavia Aquele, que naquele dia falava ao povo em acentos de amor, estava-lhes desvendando os princípios da lei proclamada no Sinai.
Ao ser dada a lei, Israel, degradado pela servidão no Egito, necessitara ser impressionado com o poder e a majestade de Deus; no entanto, Ele não menos Se lhes revelou como um Deus de amor.
"O Senhor veio de Sinai
E lhes subiu de Seir;
Resplandeceu desde o monte Parã
E veio com dez milhares de santos;
À Sua direita havia para eles o fogo da lei.
Na verdade, amas os povos;
Todos os Seus santos estão na Tua mão;
Postos serão no meio, entre os Teus pés,
Cada um receberá das Tuas palavras." Deuteronômio 33:2 e 3.
Foi a Moisés que Deus revelou Sua glória naquelas admiráveis palavras que têm sido a acariciada herança dos séculos: "Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado." Êxodo 34:6 e 7.
A lei dada no Sinai era a enunciação do princípio do amor, a revelação, feita à Terra, da lei do Céu. Foi ordenada pela mão de um Mediador - proferida por Aquele por cujo poder o coração dos homens podia ser posto em harmonia com os seus princípios. Deus revelara o desígnio da lei, quando declarara a Israel: "Ser-Me-eis homens santos." Êxodo 22:31.
Mas Israel não percebera a natureza espiritual da lei, e com demasiada freqüência sua professada obediência não passava de uma observância de formas e cerimônias, em vez de ser uma entrega do coração à soberania do amor. Quando Jesus, em Seu caráter e Sua obra, apresentava aos homens os santos, generosos e paternais atributos de Deus, e lhes mostrava a inutilidade de meras formas cerimoniais de obediência, os guias judaicos não recebiam nem compreendiam Suas palavras. Achavam que Ele Se demorava muito ligeiramente nas exigências da lei; e quando lhes expunha as próprias verdades que constituíam a alma do serviço que lhes era divinamente indicado, eles, olhando apenas ao exterior, acusavam-nO de buscar derribá-la.
As palavras de Cristo, conquanto proferidas com serenidade, eram ditas com uma sinceridade e poder que moviam o coração do povo. Em vão apuravam o ouvido à espera de uma repetição das mortas tradições e rigores dos rabis. Eles se admiravam "da Sua doutrina, porquanto os ensinava com tendo autoridade e não como os escribas". Matheus 7:28 e 29. Os fariseus notavam a vasta diferença entre sua maneira de instruir e a de Cristo. Viam que a majestade, a pureza e beleza da verdade, com sua profunda e branda influência, estavam tomando posse de muitos espíritos. O divino amor do Salvador, Sua ternura, para Ele atraíam os homens. Os rabis viam que, por Seus ensinos, era reduzido a nada todo o teor das instruções por eles ministradas ao povo. Ele estava destruindo a parede divisória que tão lisonjeira era ao seu orgulho e exclusivismo; e temiam que, caso isso fosse permitido, deles afastasse inteiramente o povo. Seguiam-nO, portanto, com decidida hostilidade, esperando encontrar ocasião para fazê-Lo cair no desagrado das multidões, habilitando assim o Sinédrio a conseguir Sua condenação à morte.
No monte, Jesus estava de perto sendo observado por espias; e, ao desdobrar Ele os princípios da justiça, os fariseus fizeram com que se murmurasse que Seus ensinos estavam em oposição aos preceitos que Deus dera no Sinai. O Salvador nada dissera para abalar a fé na religião e nas instituições que haviam sido dadas por intermédio de Moisés; pois todo raio de luz que o grande guia de Israel comunicara a seu povo fora recebido de Cristo. Conquanto muitos digam em seu coração que Ele viera para anular a lei, Jesus com inequívoca linguagem revela Sua atitude para com os estatutos divinos. "Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas." Matheus 5:17.
É o Criador dos homens, o Doador da lei, que declara não ser Seu desígnio pôr à margem os seus preceitos. Tudo na Natureza, desde a minúscula partícula de pó no raio de sol até os mundos; nas alturas, encontra-se debaixo de leis. E da obediência a essas leis dependem a ordem e a harmonia do mundo natural. Assim, há grandes princípios de justiça a reger a vida de todo ser inteligente, e da conformidade com esses princípios depende o bem-estar do Universo. Antes que a Terra fosse chamada à existência, já existia a lei de Deus. Os anjos são governados por Seus princípios, e para que a Terra esteja em harmonia com o Céu, também o homem deve obedecer aos divinos estatutos. No Éden, Cristo deu a conhecer ao homem os preceitos da lei "quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam". Jó 38:7. A missão de Cristo na Terra não era destruir a lei, mas, por Sua graça, levar novamente o homem à obediência de Seus preceitos.
O discípulo amado, que escutou as palavras de Jesus no monte, escrevendo muito depois sob a inspiração do Espírito Santo, fala da lei como de uma perpétua obrigação. Diz ele que o "pecado é o quebrantamento da lei", e que "todo aquele, que comete pecado, quebra também a lei". I João 3:4, Trad. Trinitariana. Ele torna claro que a lei a que se refere é "o mandamento antigo, que desde o princípio tivestes". I João 2:7. Ele fala da lei que existia na criação, e foi reiterada no Monte Sinai.
Falando da lei, Jesus disse: "Não vim para revogar, vim para cumprir." Matheus 5:17. Ele emprega aqui a palavra "cumprir" no mesmo sentido em que a usou quando declarou a João Batista Seu desígnio de "cumprir toda a justiça" (Matheus 3:15); isto é, atender plenamente à exigência da lei, dar um exemplo de perfeita conformidade com a vontade de Deus.
Sua missão era engrandecer a lei, e a tornar ilustre (ou gloriosa). (Isaías 42:21, Trad. Trinitariana.) Ele devia mostrar a natureza espiritual da lei, apresentar seus princípios de vasto alcance, e tornar clara sua eterna obrigatoriedade.
A divina beleza de caráter de Cristo, de quem o mais nobre e mais suave entre os homens não é senão um pálido reflexo; de quem Salomão, pelo Espírito de inspiração escreveu: "Ele traz a bandeira entre dez mil. ... Sim, Ele é totalmente desejável" (Cantares 5:10 e 16); de quem Davi, vendo-O em profética visão, disse: "Tu és mais formoso do que os filhos dos homens" (Salmos 45:2); Jesus, a expressa imagem da pessoa do Pai, o resplendor de Sua glória, o abnegado Redentor, através de Sua peregrinação de amor na Terra, foi uma viva representação do caráter da lei de Deus. Em Sua vida se manifesta que o amor de origem celeste, os princípios cristãos, fundamenta as leis de retidão eterna.
"Até que o céu e a Terra passem", disse Jesus, "nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido." Matheus 5:18. Por Sua própria obediência à lei; Cristo testificou do caráter imutável da mesma, e provou que, por meio de Sua graça, ela podia ser perfeitamente obedecida por todo filho e filha de Adão. Ele declarou no monte que nem o pequenino jota seria omitido da lei até que tudo se cumprisse - tudo quanto diz respeito à raça humana, tudo quanto se relaciona com o plano da redenção. Ele não ensina que a lei deva ser anulada, mas fixa o olhar no mais remoto horizonte humano, e assegura-nos de que até que esse ponto seja atingido, a lei conservará sua autoridade, de modo que ninguém julgue que Sua missão era abolir os preceitos da lei. Enquanto o céu e a Terra durarem, os santos princípios da santa lei de Deus permanecerão. Sua justiça, "como as grandes montanhas" (Salmos 36:6), continuará fonte de bênção, difundindo torrentes para refrigerar a Terra.
Visto a lei do Senhor ser perfeita, e portanto imutável, é impossível aos homens pecadores satisfazer, por si mesmos, a norma de sua exigência. Foi por isso que Jesus veio como nosso Redentor. Era Sua missão, mediante o tornar os homens participantes da natureza divina, pô-los em harmonia com os princípios da lei celestial. Quando abandonamos nossos pecados, e recebemos a Cristo como nosso Salvador, a lei é exaltada. Pergunta o apóstolo Paulo: "Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei." Romanos 3:31.
A promessa do novo concerto é: "Porei as Minhas leis em seu coração e as escreverei em seus entendimentos." Hebreus 10:16. Conquanto o sistema de símbolos que apontava para Cristo como o Cordeiro de Deus que devia tirar o pecado do mundo havia de passar com Sua morte, os princípios de justiça contidos no Decálogo são tão imutáveis como o trono eterno. Nenhum mandamento foi anulado, nem um jota ou um til foi mudado. Os princípios que foram dados a conhecer ao homem no Paraíso como a grande lei da vida, existirão, imutáveis, no Paraíso restaurado. Quando o Éden volver a florir na Terra, a lei divina do amor será obedecida por todos debaixo do Sol.
"Para sempre, ó Senhor, a Tua palavra permanece no Céu." Salmos 119:89. "São... fiéis, todos os Seus mandamentos. Permanecem firmes para todo o sempre; são feitos em verdade e retidão." Salmos 111:7 e 8. "Acerca dos Teus testemunhos eu soube, desde a antiguidade, que Tu os fundaste para sempre." Salmos 119:152.


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