"Não vim para revogar, vim para cumprir." Matheus 5:17.
Fora Cristo que, por
entre trovões e relâmpagos, proclamara a lei no monte Sinai. A glória de Deus,
qual fogo devorador, repousara no cimo do monte, e este tremera ante a presença
do Senhor. O povo de Israel, prostrado em terra, havia escutado em temor os
sagrados preceitos da lei. Que contraste com a cena sobre o monte das bem-aventuranças!
Sob um firmamento estival, sem som algum a quebrar o silêncio senão o cântico
dos pássaros, Jesus desenvolveu os princípios de Seu reino. Todavia Aquele, que
naquele dia falava ao povo em acentos de amor, estava-lhes desvendando os
princípios da lei proclamada no Sinai.
Ao ser dada a lei,
Israel, degradado pela servidão no Egito, necessitara ser impressionado com o
poder e a majestade de Deus; no entanto, Ele não menos Se lhes revelou como um
Deus de amor.
"O Senhor veio de
Sinai
E lhes subiu de Seir;
Resplandeceu desde o
monte Parã
E veio com dez milhares
de santos;
À Sua direita havia para
eles o fogo da lei.
Na verdade, amas os
povos;
Todos os Seus santos
estão na Tua mão;
Postos serão no meio,
entre os Teus pés,
Cada um receberá das
Tuas palavras." Deuteronômio 33:2 e 3.
Foi a Moisés que Deus revelou Sua glória naquelas admiráveis
palavras que têm sido a acariciada herança dos séculos: "Jeová, o Senhor,
Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e
verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a
transgressão, e o pecado." Êxodo 34:6 e 7.
A lei dada no Sinai era
a enunciação do princípio do amor, a revelação, feita à Terra, da lei do Céu.
Foi ordenada pela mão de um Mediador - proferida por Aquele por cujo poder o
coração dos homens podia ser posto em harmonia com os seus princípios. Deus
revelara o desígnio da lei, quando declarara a Israel: "Ser-Me-eis homens
santos." Êxodo 22:31.
Mas Israel não percebera
a natureza espiritual da lei, e com demasiada freqüência sua professada
obediência não passava de uma observância de formas e cerimônias, em vez de ser
uma entrega do coração à soberania do amor. Quando Jesus, em Seu caráter e Sua
obra, apresentava aos homens os santos, generosos e paternais atributos de
Deus, e lhes mostrava a inutilidade de meras formas cerimoniais de obediência,
os guias judaicos não recebiam nem compreendiam Suas palavras. Achavam que Ele
Se demorava muito ligeiramente nas exigências da lei; e quando lhes expunha as
próprias verdades que constituíam a alma do serviço que lhes era divinamente
indicado, eles, olhando apenas ao exterior, acusavam-nO de buscar derribá-la.
As palavras de Cristo,
conquanto proferidas com serenidade, eram ditas com uma sinceridade e poder que
moviam o coração do povo. Em vão apuravam o ouvido à espera de uma repetição
das mortas tradições e rigores dos rabis. Eles se admiravam "da Sua
doutrina, porquanto os ensinava com tendo autoridade e não como os
escribas". Matheus 7:28 e 29. Os fariseus notavam a vasta diferença entre
sua maneira de instruir e a de Cristo. Viam que a majestade, a pureza e beleza
da verdade, com sua profunda e branda influência, estavam tomando posse de
muitos espíritos. O divino amor do Salvador, Sua ternura, para Ele atraíam os
homens. Os rabis viam que, por Seus ensinos, era reduzido a nada todo o teor
das instruções por eles ministradas ao povo. Ele estava destruindo a parede
divisória que tão lisonjeira era ao seu orgulho e exclusivismo; e temiam que,
caso isso fosse permitido, deles afastasse inteiramente o povo. Seguiam-nO,
portanto, com decidida hostilidade, esperando encontrar ocasião para fazê-Lo
cair no desagrado das multidões, habilitando assim o Sinédrio a conseguir Sua
condenação à morte.
No monte, Jesus estava de perto sendo observado por espias; e, ao
desdobrar Ele os princípios da justiça, os fariseus fizeram com que se
murmurasse que Seus ensinos estavam em oposição aos preceitos que Deus dera no
Sinai. O Salvador nada dissera para abalar a fé na religião e nas instituições
que haviam sido dadas por intermédio de Moisés; pois todo raio de luz que o
grande guia de Israel comunicara a seu povo fora recebido de Cristo. Conquanto
muitos digam em seu coração que Ele viera para anular a lei, Jesus com
inequívoca linguagem revela Sua atitude para com os estatutos divinos.
"Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas." Matheus 5:17.
É o Criador dos homens, o Doador da lei, que declara não ser Seu
desígnio pôr à margem os seus preceitos. Tudo na Natureza, desde a minúscula
partícula de pó no raio de sol até os mundos; nas alturas, encontra-se debaixo
de leis. E da obediência a essas leis dependem a ordem e a harmonia do mundo
natural. Assim, há grandes princípios de justiça a reger a vida de todo ser
inteligente, e da conformidade com esses princípios depende o bem-estar do
Universo. Antes que a Terra fosse chamada à existência, já existia a lei de
Deus. Os anjos são governados por Seus princípios, e para que a Terra esteja em
harmonia com o Céu, também o homem deve obedecer aos divinos estatutos. No
Éden, Cristo deu a conhecer ao homem os preceitos da lei "quando as
estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus
rejubilavam". Jó 38:7. A missão de Cristo na Terra não era destruir a lei,
mas, por Sua graça, levar novamente o homem à obediência de Seus preceitos.
O discípulo amado, que
escutou as palavras de Jesus no monte, escrevendo muito depois sob a inspiração
do Espírito Santo, fala da lei como de uma perpétua obrigação. Diz ele que o
"pecado é o quebrantamento da lei", e que "todo aquele, que comete
pecado, quebra também a lei". I João 3:4, Trad. Trinitariana. Ele torna
claro que a lei a que se refere é "o mandamento antigo, que desde o
princípio tivestes". I João 2:7. Ele fala da lei que existia na criação, e
foi reiterada no Monte Sinai.
Falando da lei, Jesus
disse: "Não vim para revogar, vim para cumprir." Matheus 5:17. Ele
emprega aqui a palavra "cumprir" no mesmo sentido em que a usou
quando declarou a João Batista Seu desígnio de "cumprir toda a
justiça" (Matheus 3:15); isto é, atender plenamente à exigência da lei,
dar um exemplo de perfeita conformidade com a vontade de Deus.
Sua missão era engrandecer a lei, e a tornar ilustre (ou
gloriosa). (Isaías 42:21, Trad. Trinitariana.) Ele devia mostrar a natureza
espiritual da lei, apresentar seus princípios de vasto alcance, e tornar clara
sua eterna obrigatoriedade.
A divina beleza de
caráter de Cristo, de quem o mais nobre e mais suave entre os homens não é
senão um pálido reflexo; de quem Salomão, pelo Espírito de inspiração escreveu:
"Ele traz a bandeira entre dez mil. ... Sim, Ele é totalmente
desejável" (Cantares 5:10 e 16); de quem Davi, vendo-O em profética visão,
disse: "Tu és mais formoso do que os filhos dos homens" (Salmos
45:2); Jesus, a expressa imagem da pessoa do Pai, o resplendor de Sua glória, o
abnegado Redentor, através de Sua peregrinação de amor na Terra, foi uma viva
representação do caráter da lei de Deus. Em Sua vida se manifesta que o amor de
origem celeste, os princípios cristãos, fundamenta as leis de retidão eterna.
"Até que o céu e a
Terra passem", disse Jesus, "nem um jota ou um til se omitirá da lei
sem que tudo seja cumprido." Matheus 5:18. Por Sua própria obediência à
lei; Cristo testificou do caráter imutável da mesma, e provou que, por meio de
Sua graça, ela podia ser perfeitamente obedecida por todo filho e filha de
Adão. Ele declarou no monte que nem o pequenino jota seria omitido da lei até
que tudo se cumprisse - tudo quanto diz respeito à raça humana, tudo quanto se
relaciona com o plano da redenção. Ele não ensina que a lei deva ser anulada,
mas fixa o olhar no mais remoto horizonte humano, e assegura-nos de que até que
esse ponto seja atingido, a lei conservará sua autoridade, de modo que ninguém
julgue que Sua missão era abolir os preceitos da lei. Enquanto o céu e a Terra
durarem, os santos princípios da santa lei de Deus permanecerão. Sua justiça,
"como as grandes montanhas" (Salmos 36:6), continuará fonte de
bênção, difundindo torrentes para refrigerar a Terra.
Visto a lei do Senhor ser perfeita, e portanto imutável, é
impossível aos homens pecadores satisfazer, por si mesmos, a norma de sua
exigência. Foi por isso que Jesus veio como nosso Redentor. Era Sua missão,
mediante o tornar os homens participantes da natureza divina, pô-los em harmonia
com os princípios da lei celestial. Quando abandonamos nossos pecados, e
recebemos a Cristo como nosso Salvador, a lei é exaltada. Pergunta o apóstolo
Paulo: "Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes,
estabelecemos a lei." Romanos 3:31.
A promessa do novo
concerto é: "Porei as Minhas leis em seu coração e as escreverei em seus
entendimentos." Hebreus 10:16. Conquanto o sistema de símbolos que
apontava para Cristo como o Cordeiro de Deus que devia tirar o pecado do mundo
havia de passar com Sua morte, os princípios de justiça contidos no Decálogo
são tão imutáveis como o trono eterno. Nenhum mandamento foi anulado, nem um
jota ou um til foi mudado. Os princípios que foram dados a conhecer ao homem no
Paraíso como a grande lei da vida, existirão, imutáveis, no Paraíso restaurado.
Quando o Éden volver a florir na Terra, a lei divina do amor será obedecida por
todos debaixo do Sol.
"Para sempre, ó Senhor, a Tua palavra permanece no Céu."
Salmos 119:89. "São... fiéis, todos os Seus mandamentos. Permanecem firmes
para todo o sempre; são feitos em verdade e retidão." Salmos 111:7 e 8.
"Acerca dos Teus testemunhos eu soube, desde a antiguidade, que Tu os
fundaste para sempre." Salmos 119:152.
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