Entre a multidão que ouvia os ensinos de Jesus,
havia muitos fariseus. Cheios de desdém, observavam quão poucos de Seus
ouvintes O reconheciam como o Messias. E perguntavam de si para si como esse
mestre despretensioso poderia elevar Israel ao domínio universal. Como poderia
Ele, sem riquezas, poder ou honra, fundar um novo reino? Cristo lhes leu os
pensamentos e respondeu:
"A que
assemelharemos o reino de Deus? Ou com que parábola o representaremos?"
Marcos 4:30. Em governos terrenos nada havia que pudesse servir de comparação.
Nenhuma sociedade civil Lhe podia fornecer um símile. "É como um grão de
mostarda", disse "que, quando se semeia na terra, é a menor de todas
as sementes que há na Terra; mas, tendo sido semeado, cresce, e faz-se a maior
de todas as hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu
podem aninhar-se debaixo da sua sombra." Marcos 4:31 e 32.
O embrião, contido na
semente, cresce pelo desenvolvimento do princípio vital que Deus nele
implantou. Seu desenvolvimento não depende de meios humanos. Assim é com o reino
de Cristo. Há uma nova criação. Os princípios de desenvolvimento são
diretamente opostos aos que regem os reinos deste mundo. Governos terrenos
prevalecem pelo emprego da força; pelas armas mantêm o seu domínio, mas o
fundador do novo reino é o Príncipe da paz. O Espírito Santo representa os
reinos terrestres mediante o símbolo de feras; mas Cristo é "o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. Em Seu plano de governo não
há o emprego da força bruta para compelir a consciência. Esperavam os judeus
que o reino de Deus fosse estabelecido do mesmo modo que os do mundo. Para
promover justiça, recorriam a medidas externas. Forjavam planos e métodos. Mas
Cristo implanta um princípio. Implantando a verdade e a justiça, frustra o erro
e o pecado.
Ao proferir Jesus esta parábola, a mostardeira
podia ser vista perto e longe, erguendo-se sobre a relva e os cereais,
balançando seus galhos levemente no ar. Os pássaros esvoaçavam de galho em
galho e chilreavam entre a folhagem. Contudo, a semente de que surgiu essa
planta gigantesca, era a menor de todas as sementes. Primeiro despontou um
tenro broto; mas possuía bastante vitalidade, cresceu e floresceu até alcançar
grande tamanho. Assim, a princípio, o reino de Cristo parecia humilde e
insignificante. Comparado com os reinos terrestres, dir-se-ia ser o menor de
todos. O direito de Cristo a ser rei, era ridicularizado pelos governantes
deste mundo. Todavia, o reino do evangelho possuía vida divina nas poderosas
verdades confiadas a Seus seguidores. E como foi rápido o seu crescimento! Que
amplitude de influência! Quando Cristo pronunciou essa parábola, era o novo
reino representado apenas por uns camponeses galileus.
Sua pobreza e minoria foram apresentadas
repetidamente como motivo por que os homens não se devessem unir a esses
pescadores simples que seguiam a Jesus. Mas o grão de mostarda deveria crescer
e estender seus ramos por todo o mundo. Quando passassem os reinos terrestres,
cuja glória enchia então os corações, o reino de Cristo perduraria ainda como
uma vasta e forte potência.
Assim a obra da graça no
coração é pequena ao princípio. É dita uma palavra, um raio de luz projetado na
alma, exercida uma influência que é o início da nova vida; e quem pode medir os
resultados?
A parábola do grão de
mostarda não só ilustra o crescimento do reino de Cristo, mas, em cada fase de
seu desenvolvimento, repete-se a experiência nela apresentada. Para Sua igreja,
em cada geração, Deus tem uma verdade peculiar e um serviço especial. A
verdade, oculta aos sábios e entendidos deste mundo, é revelada às criancinhas
e aos humildes. Exige sacrifício próprio. Há combates para se ferirem e
vitórias para serem conquistadas. De início seus adeptos são poucos. Pelos
grandes do mundo e por uma igreja de espírito mundano são repelidos e
desprezados. Vede João Batista, o precursor de Cristo, sozinho censurando o
orgulho e formalismo do povo judeu! Vede os primeiros defensores do evangelho
na Europa! Obscura e desanimadora parecia a missão de Paulo e Silas, os dois
fazedores de tendas, quando, com os companheiros, embarcavam em Trôade para
Filipos! Vede o "idoso Paulo", pregando a Cristo, acorrentado na
cidadela dos Césares. Vede as pequenas comunidades de escravos e camponeses em
conflito com o paganismo de Roma Imperial. Vede Martinho Lutero, resistindo
àquela poderosa igreja que é a obra-prima da sabedoria deste mundo. Vede-o
mantendo a Palavra de Deus contra o imperador e o papa, declarando: "Aqui
estou; não posso proceder doutra forma. Deus me auxilie!"
Vede João Wesley pregando a Cristo e Sua justiça
em meio do formalismo, sensualidade e incredulidade. Vede alguém que,
doendo-lhe a miséria do paganismo, roga o privilégio de lhes levar a mensagem
do amor de Cristo. Ouvi a resposta do eclesiasticismo: "Sente-se, moço.
Quando Deus quiser converter os pagãos, fá-lo-á sem o meu nem o seu
auxílio."
Os grandes guias do
pensamento religioso desta geração anunciam os louvores daqueles que plantaram
a semente da verdade há séculos, e erguem-lhes monumentos. Não abandonam muitos
esta obra para espezinhar o renovo que hoje em dia desponta da mesma semente?
Repete-se o velho clamor: "Nós bem sabemos que Deus falou a Moisés, mas
este [Cristo no mensageiro que Ele envia] não sabemos de onde é." João 9:29.
Como em épocas primitivas, as verdades especiais para este tempo não se acham
com as autoridades eclesiásticas mas com homens e mulheres, que não são
demasiado instruídos nem sábios demais para crer na Palavra de Deus.
"Porque vede,
irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem
muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu
as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as
coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. E Deus escolheu as coisas
vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que
são." I Corintios 1:26-28. "Para que a vossa fé não se apoiasse em
sabedoria dos homens, mas no poder de Deus." I Corintios 2:5.
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