Entre os Espinhos
"E o que foi
semeado entre espinhos é o que ouve a Palavra, mas os cuidados deste mundo e a
sedução das riquezas sufocam a Palavra, e fica infrutífera." Matheus
13:22.
A semente do evangelho
cai muitas vezes entre espinhos e ervas daninhas; e se não ocorrer uma
transformação moral no coração humano, e se não forem abandonados velhos
hábitos e práticas da anterior vida pecaminosa, se não forem expelidos da alma
os atributos de Satanás, a colheita de trigo será sufocada. Os espinhos serão a
colheita, e destruirão o trigo.
A graça só pode
florescer no coração que está sendo preparado continuamente para as preciosas
sementes da verdade. Os espinhos do pecado crescem em qualquer solo; não
precisam de cultivo especial; mas a graça necessita ser cultivada
cuidadosamente. A sarça e os espinhos estão sempre prontos para germinar, e a
obra de purificação precisa avançar continuamente. Se o coração não for
guardado sob a direção de Deus, se o Espírito Santo não refinar e enobrecer
incessantemente o caráter, revelar-se-ão na vida os velhos costumes. Podem os
homens professar crer no evangelho; mas a não ser que sejam por ele
santificados, nada vale sua religião. Se não obtiverem vitória sobre o pecado,
este estará obtendo vitória sobre eles. Os espinhos que foram cortados, mas não
desarraigados, brotam novamente, até sufocar a alma.
Cristo especificou as coisas que são perigosas
para a alma. Como relata Marcos, menciona Ele os cuidados deste mundo, os
enganos das riquezas e as ambições de outras coisas. Lucas especifica:
cuidados, riquezas e deleites da vida. Estes são os que sufocam a Palavra, a
crescente semente espiritual. A alma cessa de extrair alimento de Cristo, e
extingue-se no coração a espiritualidade.
"Os cuidados deste
mundo." Matheus 13:22. Nenhuma classe está livre da tentação de cuidados
deste mundo. Aos pobres a labuta, privação e temor de pobreza trazem
perplexidades e fardos; aos ricos vêm o temor de perda e uma multidão de
ansiosas preocupações. Muitos dos seguidores de Cristo esquecem as lições que
Ele nos ordenou aprender das flores do campo. Não confiam em Sua constante
providência. Cristo não pode carregar-lhes os fardos, porque não os depõem
sobre Ele. Portanto os cuidados da vida, que os deveriam levar ao Salvador para
receber auxílio e conforto, dEle os separam.
Muitos que podiam
produzir frutos na obra de Deus, tornam-se propensos a conquistar riquezas.
Toda a sua energia é absorvida em empresas comerciais, e sentem-se obrigados a
desprezar as coisas de natureza espiritual. Deste modo separam-se de Deus.
É-nos recomendado nas Escrituras não sermos "vagarosos no cuidado". ROMANOS.
12:11. Devemos trabalhar para que possamos dar alguma coisa aos necessitados.
Os cristãos precisam trabalhar, precisam ocupar-se em atividades, e podem
fazê-lo sem cometer pecado. Mas muitos se tornam tão absortos em negócios que
não têm tempo para orar, para estudar a Bíblia, para procurar e servir a Deus.
Às vezes os anseios da alma são pela santidade e o Céu; mas não há tempo para
retrair-se do tumulto do mundo para ouvir as palavras majestosas e autorizadas
do Espírito de Deus. As coisas da eternidade são tidas como secundárias, e as
do mundo, supremas. É impossível à semente da verdade produzir fruto; porque a
vida da alma é utilizada para alimentar os espinhos do mundanismo.
Muitos que agem com propósito muito diferente,
caem no mesmo erro. Estão trabalhando para o bem de outros; seus deveres são
urgentes, muitas as responsabilidades, e permitem que sua labuta exclua a
devoção. A comunhão com Deus pela oração e pelo estudo de Sua Palavra é
negligenciada. Esquecem-se de que Cristo disse: "Sem Mim nada podereis
fazer." João 15:5. Caminham separados de Cristo, sua vida não está
impregnada de Sua graça, e as características do eu são reveladas. Seu serviço
é manchado pelo desejo de supremacia, por traços grosseiros e intratáveis do
coração insubmisso. Eis um dos principais segredos do fracasso no trabalho
cristão. Essa é a razão por que o sucesso é tantas vezes insatisfatório.
"O engano das
riquezas." O amor às riquezas tem poder apaixonante e ilusório.
Muitíssimas vezes esquecem os que possuem riquezas mundanas, que é Deus quem
lhes dá a capacidade de obter prosperidade. Dizem: "A minha força e a
fortaleza de meu braço me adquiriram este poder." Deuterônomio 8:17. Em vez de
despertar gratidão para com Deus, as riquezas os levam à exaltação própria.
Perdem o sentimento de sua dependência de Deus e de sua obrigação para com o
próximo. Em vez de considerar a riqueza como um talento a ser empregado para
glória de Deus e para o reerguimento da humanidade, têm-na como meio de
satisfação própria. Em vez de desenvolver no homem os atributos de Deus, as riquezas
assim usadas desenvolvem nele os atributos de Satanás. A semente da Palavra é
sufocada pelos espinhos.
"E deleites da vida." Lucas 8:14. Há
perigo em diversão que é buscada meramente para a satisfação própria. Todos os
hábitos de condescendência que debilitam as forças físicas, que anuviam a mente
ou que entorpecem as percepções espirituais, são concupiscências carnais
"que combatem contra a alma". I Ped. 2:11.
"E as ambições de
outras coisas." Mar. 4:19. Estas não são necessariamente coisas
pecaminosas, em si mesmas, mas alguma coisa a que damos o primeiro lugar, em
vez de ao reino de Deus. Tudo quanto desvia de Deus o espírito e aparta de
Cristo as afeições, é um inimigo da alma.
Quando a mente é juvenil
e vigorosa, e susceptível de desenvolvimento rápido, há grande tentação de ser
ególatra. Quando os projetos são bem-sucedidos, tem-se a tendência de continuar
numa direção que amortece a consciência e impede a justa apreciação do que
constitui a verdadeira excelência de caráter. Quando as circunstâncias
favorecem este desenvolvimento, nota-se crescimento numa direção proibida pela
Palavra de Deus.
Nesse período formativo
da vida dos filhos, a responsabilidade dos pais é muito grande. Deve ser seu
constante esforço rodear os filhos de boas influências, influências que lhes
dêem visão correta da vida e de seu verdadeiro êxito. Quantos pais, em vez
disso, impõem-se como primeiro objetivo assegurar aos filhos prosperidade
material! Todas as suas associações são escolhidas com mira a este objetivo.
Muitos pais estabelecem moradia em qualquer grande cidade, e introduzem os
filhos na alta sociedade. Circundam-nos de influências que encorajam o
mundanismo e o orgulho. Nessa atmosfera atrofiam-se mente e alma. Perdem-se de
vista as elevadas e nobres aspirações da vida. O privilégio de serem filhos de
Deus e herdeiros da vida eterna, é permutado por lucros materiais.
Muitos pais procuram a felicidade dos filhos, satisfazendo-lhes a
sede de prazeres. Permitem-lhes tomar parte em esportes e participar de
festinhas sociais, e fornecem-lhes dinheiro para gastar livremente em
ostentação e satisfação própria. Quanto mais se condescende com o desejo de
prazer, tanto mais forte ele se torna. O interesse desses jovens é absorvido
gradualmente no divertimento, até que chegam a considerá-lo o objetivo da vida.
Formam hábitos de ociosidade e condescendência que lhes tornam quase impossível
se tornarem cristãos resolutos.
Mesmo a Igreja, que deve
ser a coluna e sustentáculo da verdade, é vista animando o amor egoísta de
prazer. Quando é preciso angariar dinheiro para fins religiosos, a que meios
recorrem muitas igrejas? A bazares, ceias, leilões, até mesmo rifas e
artifícios semelhantes. Muitas vezes o lugar consagrado ao culto de Deus é profanado
por comidas e bebidas, vendas e compras, e toda sorte de diversões. O respeito
à casa de Deus e a reverência a Seu culto são diminuídos no espírito dos
jovens. As barreiras da restrição própria são enfraquecidas. Apela-se para o
egoísmo, o apetite, o amor de ostentação e eles se fortalecem à medida que com
os mesmos se condescende.
A oferta de prazeres e
divertimentos centraliza-se nas cidades. Muitos pais que escolhem um lar na
cidade para os filhos, pensando dar-lhes maiores vantagens, são desapontados,
mas demasiado tarde se arrependem de seu terrível erro. As cidades de nosso
tempo tornam-se depressa como Sodoma e Gomorra. Os muitos feriados animam à
ociosidade. Os divertimentos - o teatro, corridas de cavalo, jogos, as bebidas
alcoólicas, banquetes e orgias - estimulam ao extremo todas as paixões. A
juventude é arrastada pela corrente popular. Aqueles que aprendem a amar os
divertimentos como um fim em si, abrem a porta para uma onda de tentações.
Entregam-se a prazeres sociais e satisfações loucas, e sua relação com os
amantes de prazeres tem efeito intoxicante sobre a mente. São arrastados de uma
a outra forma de dissipação, até perderem, não só o desejo, como a capacidade
para a vida útil. Suas aspirações religiosas esfriam; a vida espiritual é
obscurecida. Todas as nobres faculdades da mente, tudo que liga o homem ao
mundo espiritual é rebaixado.
É certo que alguns podem reconhecer sua loucura
e se arrependem. Deus pode perdoar-lhes. Mas feriram o próprio coração e
trouxeram sobre si perigo para a vida toda. O poder de discernimento que deve
ser conservado sempre aguçado e sensível para distinguir entre o bem e o mal, é
em grande parte destruído. Não reconhecem imediatamente a voz admoestadora do
Espírito Santo, nem discernem os ardis de Satanás. Muitas vezes caem em
tentação no tempo de perigo, e são alienados de Deus. O termo de sua vida de
prazeres é ruína para este mundo e para o vindouro.
Cuidados, riquezas e
divertimentos são usados por Satanás no jogo de vida do ser humano. É-nos feita
a admoestação: "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o
mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é
do Pai, mas do mundo." I João 2:15 e 16. Aquele que lê o coração do homem
como um livro aberto, diz: "E olhai por vós, para que não aconteça que o
vosso coração se carregue de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida,
e venha sobre vós de improviso aquele dia." Lucas 21:34. O apóstolo Paulo,
pelo Espírito Santo, escreve: "Mas os que querem ser ricos caem em
tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem
os homens na perdição e ruína. Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda
espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a
si mesmos com muitas dores." I Timóteo 6:9 e 10.
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