Pela parábola do semeador, ilustra Cristo as
coisas do reino dos Céus e a obra do grande Lavrador para o Seu povo. Como um
semeador no campo, assim veio Ele também para espalhar a semente celestial da
verdade. E Seu ensino por parábolas era a semente, com a qual as mais preciosas
verdades de Sua graça foram disseminadas. Por sua simplicidade, a parábola do
semeador não tem sido apreciada como devia. Da semente natural que é lançada na
terra, Cristo deseja dirigir-nos o espírito para a semente do evangelho, cuja
semeadura resulta em reconduzir o homem à lealdade para com Deus. Ele, que deu
a parábola da pequena semente, é o Soberano do Céu, e as mesmas leis que regem
o semear da semente terrena, regem o semear das sementes da verdade.
Tinha-se aglomerado,
junto ao Mar da Galiléia, uma multidão curiosa e expectante para ver e ouvir a
Jesus. Lá havia doentes que estavam deitados em leitos, e esperavam para
apresentar-Lhe seu caso. Deus Lhe havia dado o direito de aliviar a dor de uma
geração pecaminosa e agora repreendia a enfermidade e difundia ao Seu redor
vida, saúde e paz.
Aumentando a multidão continuamente, o povo se
comprimia ao redor de Cristo até não haver mais espaço para contê-los. Então,
dirigindo uma palavra aos homens nos botes, subiu à embarcação que estava
pronta para levá-Lo à outra margem do lago, e ordenando aos discípulos que se
afastassem um pouco da terra, falou à multidão reunida na margem.
Junto ao lago estava a
bela planície de Genesaré, além erguiam-se as colinas, e no sopé do monte, como
também no planalto, havia semeadores e ceifeiros trabalhando, uns espalhando a
semente e os outros ceifando o cereal maduro. Contemplando esta cena, disse
Cristo:
"Eis que o semeador
saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e
vieram as aves e comeram-na; e outra parte caiu em pedregais, onde não havia
terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda. Mas, vindo o Sol,
queimou-se e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os
espinhos cresceram e sufocaram-na. E outra caiu em boa terra e deu fruto: um, a
cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta." Matheus 13:3-8.
A missão de Cristo não
foi compreendida pelos homens de Seu tempo. A maneira de Sua vinda não estava
em harmonia com a expectativa deles. O Senhor Jesus era o fundamento de toda a
dispensação judaica. Suas imponentes cerimônias foram ordenados por Deus. Foram
designados para ensinar ao povo, que no tempo determinado, viria Aquele ao qual
apontavam aquelas cerimônias. Mas os judeus tinham exaltado as formalidades e
cerimônias, e perdido de vista seu objetivo. As tradições, máximas e decretos
de homens ocultavam-lhes as lições que Deus intencionava comunicar-lhes. Essas
máximas e tradições tornaram-se um obstáculo para a sua compreensão e prática
da verdadeira religião. E ao vir a realidade, na pessoa de Cristo, não
reconheceram nEle o cumprimento de todos os símbolos, a substância de todas as
sombras. Rejeitaram o antítipo, e apegaram-se a seus tipos e cerimônias
inúteis. O Filho do homem viera, mas continuaram pedindo um sinal. À mensagem:
"Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus" (Matheus 3:2),
respondiam exigindo um milagre. O evangelho de Cristo lhes era uma pedra de tropeço,
porque, em vez de um Salvador, pediam um sinal. Esperavam que o Messias
provasse Suas reivindicações por vitórias brilhantes, para estabelecer Seu
império sobre as ruínas de reinos terrestres. Como resposta a essa expectativa,
deu Cristo a parábola do semeador. O reino de Deus não devia prevalecer pela
força de armas nem por intervenções violentas, mas pela implantação de um
princípio novo no coração dos homens.
"O que semeia a boa semente é o Filho do
homem." Matheus 13:37. Cristo viera, não como rei, mas como semeador; não
para subverter reinos, mas para espalhar a semente; não para levar Seus
seguidores a triunfos terrenos e grandezas nacionais, mas para uma colheita que
será ganha depois de paciente trabalho, e por perdas e desilusões.
Os fariseus compreendiam
a significação da parábola de Cristo; mas o Seu ensino lhes era indesejável.
Faziam como se não o compreendessem. À grande massa envolvia-se num maior
mistério ainda o propósito do novo Mestre, cujas palavras lhes moviam tão
estranhamente o espírito e tão amargamente desapontavam as ambições. Os
discípulos mesmos não compreenderam a parábola, mas foi-lhes instigado o
interesse. Foram ter depois particularmente com Jesus e pediram explicação.
Este desejo era
justamente o que Jesus pretendia despertar para que lhes pudesse dar instrução
mais definida.
Explicou-lhes a parábola, do mesmo modo que
tornará clara Sua palavra a todos os que O procuram em sinceridade de coração.
Os que estudam a Palavra de Deus com o coração aberto para a iluminação do
Espírito Santo, não permanecerão em trevas quanto à significação da mesma.
"Se alguém quiser fazer a vontade dEle", dizia Cristo, "pela
mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se Eu falo de Mim mesmo."
João 7:17. Todos os que vão a Cristo com o desejo de um mais claro conhecimento
da verdade, o receberão. Ele lhes desdobrará os mistérios do reino dos Céus, e
os mesmos serão compreendidos pelos corações que anelam conhecer a verdade. Uma
luz celeste raiará no templo da alma e será revelada a outros como o brilho
refulgente de uma lâmpada em estrada tenebrosa.
"Eis que o semeador
saiu a semear." Matheus 13:3. No oriente tão incertas eram as
circunstâncias, e as violências tão grande perigo ocasionavam, que o povo
morava principalmente em cidades muradas, e os lavradores saíam diariamente
para o trabalho. Assim saiu também Cristo, o Semeador celeste, a semear. Deixou
Seu lar seguro e cheio de paz, deixou a glória que possuía junto ao Pai, antes
de o mundo existir, deixou Sua posição no trono do Universo. Saiu como homem
sofredor e tentado; saiu em solidão para semear em lágrimas e para regar com o
próprio sangue a semente da vida para um mundo perdido.
Igualmente, Seus servos
precisam sair para semear. Quando Abraão foi chamado para tornar-se semeador da
semente da verdade, foi-lhe ordenado: "Sai-te da tua terra, e da tua
parentela, e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei."
Gênesis 12:1. "E saiu, sem saber para onde ia." Hebreus 11:8. Assim
também recebeu Paulo a ordem divina, enquanto orava no templo em Jerusalém:
"Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe." Atos 22:21.
Assim todos os que são chamados para unir-se a Cristo, precisam deixar tudo
para segui-Lo. Velhas relações precisam ser cortadas, planos de vida abandonados,
esperanças terreais renunciadas. Com trabalho e lágrimas, na solidão e por
sacrifício, deve a semente ser lançada.
"O semeador semeia a Palavra." Cristo
veio para semear o mundo com a verdade. Durante todo o tempo, desde a queda do
homem, tem Satanás lançado a semente do erro. Por uma mentira ganhou o domínio
sobre os homens, e da mesma maneira trabalha ainda para subverter o reino de
Deus na Terra e submeter os homens a seu poderio. Como semeador de um mundo
mais elevado, veio Cristo para lançar as sementes da verdade. Ele, que tomou
parte no conselho de Deus e morou no mais íntimo santuário do Eterno, podia dar
aos homens os puros princípios da verdade. Desde a queda do homem, Cristo tem
sido o Revelador da verdade ao mundo. Por Ele foi transmitida ao homem a
semente incorruptível, a "Palavra de Deus, viva e que permanece para
sempre". I Pedro 1:23. Naquela primeira promessa dada no Éden à humanidade
caída Cristo lançava a semente do evangelho. Mas a parábola do semeador
aplica-se especialmente a Seu ministério pessoal entre os homens, e à obra que
Ele assim estabeleceu.
A Palavra de Deus é a semente. Toda semente tem
em si um princípio germinativo. Nela está contida a vida da planta. Do mesmo
modo há vida na Palavra de Deus. Cristo diz: "As palavras que Eu vos disse
são espírito e vida." João 6:63. "Quem ouve a Minha palavra e crê
nAquele que Me enviou tem a vida eterna." João 5:24. Em cada mandamento,
em cada promessa da Palavra de Deus está o poder, sim, a vida de Deus, pelo
qual o mandamento pode ser cumprido e realizada a promessa. Aquele que pela fé
aceita a Palavra, recebe a própria vida e o caráter de Deus.
Cada semente produz
fruto segundo sua espécie. Lançai a semente sob condições adequadas, e
desenvolverá sua própria vida na planta. Recebei na alma, pela fé, a
incorruptível semente da Palavra, e ela produzirá caráter e vida à semelhança
do caráter e vida de Deus.
Os mestres de Israel não
disseminavam a semente da Palavra de Deus. A obra de Cristo como Mestre da
verdade estava em notável contraste com a dos rabinos do Seu tempo. Eles se
firmavam sobre tradições, teorias humanas e especulações. Muitas vezes aquilo
que homens tinham ensinado ou escrito sobre a Palavra, colocavam no lugar da
própria Palavra. Seus ensinos não tinham poder para refrigerar a alma. O tema
das pregações e ensinamentos de Cristo era a Palavra de Deus. Respondia a
interlocutores com um simples: "Está escrito." Lucas 4:8 e 10.
"Que diz a Escritura?" "Como lês?" Lucas 10:26. Em cada
oportunidade, quando era despertado interesse por um amigo ou adversário,
lançava a semente da Palavra. Ele, que é o Caminho, a Verdade e a Vida, Ele que
é o próprio Verbo vivo, aponta às Escrituras e diz: "São elas que de Mim
testificam." João 5:39. "E, começando por Moisés e por todos os
profetas, explicava-lhes o que dEle se achava em todas as Escrituras." Lucas
24:27.
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