"Está Consumado"
Em silêncio o povo aguardava
o fim da terrível cena. Outra vez o Sol brilhara, mas a cruz continuava
circundada de trevas. De repente, ergue-se de sobre a cruz a sombra, e em tons
claros, como de trombeta, que pareciam ressoar por toda a criação, bradou Jesus:
"Está consumado." João 19:30. "Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu
espírito." Lucas 23:46. Uma luz envolveu a cruz, e a face do Salvador
brilhou com uma glória semelhante à do Sol. Pendendo então a cabeça sobre o
peito, expirou.
No momento em que Cristo
morreu, havia sacerdotes ministrando no templo diante do véu que separava o
lugar santo do santíssimo. Subitamente eles sentiram a terra tremer sob seus
pés, e o véu do templo, uma forte e rica tapeçaria renovada anualmente, foi
rasgado em dois de cima a baixo pela mesma mão lívida que escreveu as palavras
de condenação nas paredes do palácio de Belsazar.
Jesus não entregou Sua vida
até que tivesse cumprido a obra que viera fazer; e exclamou em Seu
derradeiro alento: "Está consumado." João 19:30. Os anjos se
alegraram quando estas palavras foram proferidas, pois o grande plano da
redenção estava sendo triunfalmente executado. Houve alegria no Céu de que os
filhos de Adão pudessem agora, mediante uma vida de obediência, ser elevados
finalmente à presença de Deus. Satanás foi derrotado, e sabia que seu reino
estava perdido.
João estava ansioso para saber que medidas
tomar em relação ao corpo de seu amado Mestre. Estremeceu ao pensar que seria manuseado
por grosseiros e insensíveis soldados, e colocado numa sepultura desonrosa.
Sabia que não podia obter nenhum favor das autoridades judaicas, e esperava
pouco de Pilatos. Mas José e Nicodemos tomaram a dianteira nessa emergência.
Ambos eram membros do sinédrio e tinham relações com Pilatos. Ambos eram ricos
e influentes, e decidiram que o corpo de Jesus teria sepultamento
condigno.
José foi ousadamente a Pilatos e pediu-lhe
o corpo de Jesus. Pilatos então deu uma ordem oficial para que o corpo de Jesus
fosse entregue a José. Enquanto o discípulo João estava aflito quanto aos
sagrados despojos de seu amado Mestre, José de Arimatéia voltou com a ordem do
governador; e Nicodemos, antecipando o resultado da entrevista de José com
Pilatos, chegou com uma custosa mistura de mirra e aloés, de cerca de cem
libras de peso. Ao mais honrado em Jerusalém, não se poderia haver demonstrado
mais respeito na morte.
Delicada e reverentemente, removeram eles
com as próprias mãos o corpo de Jesus do
instrumento de tortura; lágrimas de compaixão corriam-lhes ao contemplarem Seu
ferido e lacerado corpo, que cuidadosamente banharam e limparam das marcas de
sangue. José possuía um sepulcro novo, talhado numa rocha, que estava reservado
para si mesmo; ficava próximo do Calvário, e ele preparou seu sepulcro para
Jesus. O corpo, com as especiarias trazidas por Nicodemos, foi cuidadosamente
envolto num lençol de linho, e os três discípulos conduziram seu precioso fardo
ao sepulcro novo, onde homem algum jamais havia sido depositado antes. Aí, eles
compuseram-Lhe os mutilados membros, e cruzaram-Lhe as mãos feridas sobre o
inanimado peito. As mulheres galiléias foram ver se fora feito tudo o que se
podia fazer pelo corpo sem vida do amado Mestre. Viram então que fora rolada a
pesada pedra para a entrada do sepulcro, e o Salvador deixado a repousar. As
mulheres foram as últimas junto à cruz, e as últimas também a deixar o
sepulcro.
Embora as autoridades judaicas tivessem levado
a cabo seu diabólico propósito de conduzir à morte o Filho de Deus, suas
apreensões não estavam eliminadas e nem seus ciúmes de Cristo morto. Misturado
com a alegria da vingança satisfeita, havia um sempre presente temor de que Seu
corpo morto, repousando no sepulcro de José, pudesse voltar à vida. Por isso
"reuniram-se os príncipes dos sacerdotes e os fariseus em casa de Pilatos.
Dizendo: Senhor, lembramo-nos de que aquele enganador, vivendo ainda, disse:
Depois de três dias ressuscitarei. Manda pois que o sepulcro seja guardado com
segurança até o terceiro dia, não se dê o caso que os seus discípulos vão de
noite, e o furtem, e digam ao povo: Ressuscitou dos mortos; e assim o último
erro será pior do que o primeiro". Matheus 27:63 e 64. Pilatos também não
desejava que Jesus ressurgisse com poder para punir a culpa daqueles que O
haviam destruído, e colocou uma escolta de
soldados romanos sob o comando dos sacerdotes. Disse ele: "Tendes a
guarda; ide, guardai-o como entenderdes. E, indo eles, seguraram o sepulcro com
a guarda, selando a pedra." Matheus 27:65 e 66.
Os judeus compreendiam a vantagem de terem
tal guarda nas proximidades do sepulcro de Jesus. Colocaram um selo sobre a
pedra que fechava o sepulcro, para que ele não fosse violado sem o fato ser
conhecido, e tomaram todas as precauções contra qualquer prática fraudulenta
dos discípulos em relação ao corpo de Jesus. Entretanto, todos estes planos e
precauções apenas serviram para fazer maior o êxito da ressurreição, mais
plenamente estabelecida a sua veracidade.
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