quinta-feira, 16 de setembro de 2021

O que significa ser perfeito?

 


  "Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste." Mateus 5:48


   Quando Cristo nos ordenou que fôssemos perfeitos, estava concluindo a seção sobre a lei de Seu reino no Sermão do Monte (Mt 5:17-48). Ele expôs seis ideias essenciais: 1) A lei deve ser cumprida. Ele mesmo não veio revogá-la, mas cumpri-la. 2) O mandamento que manda não matar ordena também não se irar com o próximo. 3) A proibição do adultério inclui a cobiça com os olhos. 4) A infidelidade é a única razão aceitável para o divórcio. 5) Melhor que jurar é cumprir a palavra empenhada sem juramento. 6) A lei de talião (olho por olho e dente por dente) é substituída pela lei do amor ao próximo, incluindo o inimigo.


   A ideia importante que se destaca em todos esses conceitos é: o espírito e a letra da lei precisam ser observados. O legalismo não tem valor espiritual. O cumprimento da lei não é um fim em si mesmo e é válido apenas quando alcança os objetivos de Deus ao proclamá-la.

   Depois de ensinar isso, Jesus ordenou: “Sede vós perfeitos.” A que espécie de perfeição o Senhor Se referiu? Não à que se entende como absoluta ausência de pecado na vida, porque a perfeição, como a santificação, é uma obra progressiva que dura por todos os dias da existência. A frase: “Sede vós perfeitos como perfeito é vosso Pai celeste” é paralela à expressão equivalente “para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste” (Mt 5:45). Alcançar a perfeição equivale a se tornar filho de Deus.

   Usando a mesma palavra, Paulo se refere também à perfeição de um modo aparentemente contraditório, mas muito esclarecedor. Filipenses é a epístola da perfeição. Nela é dito que Deus realiza essa boa obra em nós e que a aperfeiçoa até ao dia de Jesus Cristo (Fp 1:6). Como? Mediante a comunhão no evangelho (Fp 1:4), a comunhão do Espírito (Fp 2:1) e a comunhão com Cristo em Seus sofrimentos (Fp 3:10). Falando de si mesmo, o apóstolo diz que julgou tudo como perda para alcançar a Cristo e chegar a ser semelhante a Ele.

   Então declara: “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição” (Fp 3:12). Mas imediatamente exorta: “Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento” (Fp 3:15). Paulo diz: Sou e não sou perfeito. Contradição? Não. Plenitude. Paulo nos apresenta o quadro completo da perfeição entendida como processo, não como ausência total de pecado.


Mario Veloso, 25/5/1997

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