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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

29 ( Parábolas de Jesus) A Recompensa Merecida - Parte Final


Fez que "das trevas resplandecesse a luz". II Coríntios 4:6. Quando "a Terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus Se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz. E houve luz". Gênesis1: 2 e 3. Também na noite das trevas espirituais a Palavra de Deus diz: "Haja luz." A Seu povo, diz Ele: "Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti." Isaías 60:1.
"Eis", diz a Escritura, "que as trevas cobriram a Terra, e a escuridão, os povos; mas sobre ti o Senhor virá surgindo, e a Sua glória se verá sobre ti." Isaías 60:2.
A escuridão do falso conceito acerca de Deus é que está envolvendo o mundo. Os homens estão perdendo o conhecimento de Seu caráter. Este tem sido mal-compreendido e mal-interpretado. Neste tempo deve ser proclamada uma mensagem de Deus, uma mensagem de influência iluminante e capacidade salvadora. O caráter de Deus deve tornar-se notório. Deve ser difundida nas trevas do mundo a luz de Sua glória, a luz de Sua benignidade, misericórdia e verdade.
Esta é a obra esboçada pelo profeta Isaías, nas palavras: "Tu, anunciador de boas novas a Jerusalém, levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas e dize às cidades de Judá: Eis aqui está o vosso Deus. Eis que o Senhor Jeová virá como o forte, e o Seu braço dominará; eis que o Seu galardão vem com Ele, e o Seu salário, diante da Sua face." Isaías 40:9 e 10.
Os que aguardam a vinda do esposo devem dizer ao povo: "Eis aqui está o vosso Deus." Isaías 40:9. Os últimos raios da luz misericordiosa, a última mensagem de graça a ser dada ao mundo, é uma revelação do caráter do amor divino. Os filhos de Deus devem manifestar Sua glória. Revelarão em sua vida e caráter o que a graça de Deus por eles tem feito.
A luz do Sol da Justiça deve irradiar em boas obras - em palavras de verdade e atos de santidade.
Cristo, o resplendor da glória do Pai, veio ao mundo como sua luz. Veio representar Deus aos homens, e dEle está escrito que foi ungido "com o Espírito Santo e com virtude", e "andou fazendo o bem". Atos 10:38. Na sinagoga de Nazaré, disse: "O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-Me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor." Lucas 4:18 e 19. Esta foi a obra de que encarregou os discípulos. "Vós sois a luz do mundo", disse Ele. "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus." Matheus 5:14 e 16.
Esta é a obra que o profeta Isaías descreve, dizendo: "Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres desterrados? E, vendo o nu, o cubras e não te escondas daquele que é da tua carne? Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda." Isaías 58:7 e 8.
Assim pois a glória de Deus deve brilhar mediante Sua igreja na noite de trevas espirituais, soerguendo os oprimidos e confortando os que choram.
Em todo nosso redor ouvem-se os gemidos de um mundo de aflições. Em todos os lados há necessitados e miseráveis. Nosso dever é auxiliar a aliviar e abrandar as dificuldades e misérias da vida.
O serviço prático será muito mais eficiente do que meramente pregar sermões. Devemos alimentar o faminto, vestir o nu e asilar o desabrigado. E somos chamados para fazer mais do que isto. As necessidades da alma só o amor de Cristo pode satisfazer. Se Cristo em nós habitar, nosso coração estará cheio de simpatia divina. Abrir-se-ão as fontes cerradas do zeloso amor cristão.
Deus requer não somente as nossas dádivas para os necessitados, mas também nosso semblante amável, nossas palavras de esperança, nosso cordial aperto de mão. Quando curava os doentes Cristo punha sobre eles as mãos. Também devemos achegar-nos em contato íntimo com quem procuramos beneficiar.
Muitos há que não têm mais esperança. Dai-lhes novamente a luz do Sol. Muitos perderam o ânimo. Dizei-lhes palavras de conforto. Orai por eles. Há os que carecem do pão da vida. Lede-lhes da Palavra de Deus. Muitos padecem de uma enfermidade da alma que bálsamo nenhum pode restaurar, médico algum curar. Orai por essas pessoas, encaminhai-as a Jesus. Contai-lhes que há um bálsamo e um Médico em Gileade.
A luz é uma bênção, bênção universal que difunde seus tesouros sobre o mundo ingrato, ímpio e desmoralizado. Assim é com a luz do Sol da Justiça. Envolta, como está, nas trevas do pecado, aflição e padecimento, toda a Terra precisa ser iluminada com o conhecimento do amor de Deus. Nenhuma seita ou classe deve ser impedida de receber a luz que refulge do trono celeste.
A mensagem de esperança e misericórdia tem que ser levada aos confins da Terra. Quem quiser pode aproximar-se, tomar do poder de Deus e fazer paz com Ele, e Ele fará paz. Não mais devem os pagãos estar envoltos em trevas da meia-noite. A escuridão deve desaparecer diante dos brilhantes raios do Sol da Justiça. O poder do inferno foi vencido.
Mas ninguém pode dar aquilo que não possui. Na obra de Deus, a humanidade nada pode originar. Ninguém pode por seus próprios esforços tornar-se para Deus um portador de Luz. Vertido pelos mensageiros celestes nos tubos de ouro, para ser conduzido do áureo vaso às lâmpadas do santuário, o dourado óleo produzia luz contínua, clara e brilhante. O amor de Deus, continuamente transmitido ao homem, é que o habilita a comunicar luz. O áureo óleo do amor corre livremente no coração de todos os que pela fé estão unidos a Deus, para resplandecer novamente em boas obras, em serviço real e sincero para Ele.
Na grande e incomensurável dádiva do Espírito Santo estão contidos todos os recursos celestes. Não é por qualquer restrição da parte de Deus que as riquezas de Sua graça não afluem para os homens, neste mundo. Se todos recebessem de bom grado, todos seriam cheios de Seu Espírito.
Toda pessoa tem o privilégio de ser um conduto vivo, pelo qual Deus pode comunicar ao mundo os tesouros de Sua graça, as insondáveis riquezas de Cristo. Nada há que Cristo mais deseje do que agentes que representem ao mundo Seu Espírito e caráter. Não há nada de que o mundo mais necessite que da manifestação do amor do Salvador, mediante a humanidade. Todo o Céu está à espera de condutos pelos quais possa ser vertido o óleo santo para ser uma alegria e bênção para os corações humanos.
Cristo tomou todas as providências para que Sua igreja seja um corpo transformado, iluminado pela Luz do mundo, possuindo a glória de Emanuel. É Seu propósito que cada cristão esteja envolto numa atmosfera espiritual de luz e paz. Deseja que revelemos em nossa vida a Sua própria alegria.
A habitação do Espírito em nós será manifestada pelo amor celestial que de nós dimanará. A plenitude divina fluirá pelo consagrado agente humano, para ser partilhada com outros.
O Sol da Justiça traz salvação "debaixo das Suas asas". Malaquias 4:2. Assim todo verdadeiro discípulo deve difundir uma influência de vida, ânimo, auxílio e verdadeira salvação.
A religião de Cristo significa mais que o perdão dos pecados; significa remover nossos pecados e encher o vácuo com as graças do Espírito Santo. Significa iluminação divina e regozijo em Deus. Significa um coração despojado do próprio eu e abençoado pela presença de Cristo. Quando Cristo reina na alma há pureza e libertação do pecado. A glória, a plenitude, a perfeição do plano do evangelho são cumpridas na vida. A aceitação do Salvador traz paz perfeita, perfeito amor, segurança perfeita. A beleza e fragrância do caráter de Cristo manifestadas na vida, testificam de que em verdade Deus enviou Seu Filho ao mundo para o salvar.
Cristo não manda Seus seguidores esforçarem-se para brilhar. Diz: Resplandeça a vossa luz. Se tendes recebido a graça de Deus, a luz está em vós. Removei os empecilhos, e a glória do Senhor será revelada. A luz resplandecerá para penetrar e dissipar a escuridão. Não podeis deixar de brilhar dentro do círculo de vossa influência.
A revelação da glória do Senhor na forma humana, trará o Céu tão perto dos homens, que a beleza que adorna o templo interior será vista em todos em que o Salvador habita. Os homens serão cativados pela glória de um Cristo que vive em nós. E em torrentes de louvor e ações de graças dos muitos assim ganhos para Deus, refluirá glória para o grande Doador.
"Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti." Isaías 60:1. Esta mensagem é dada aos que saem ao encontro do esposo. Cristo vem com poder e grande glória. Vem com Sua própria glória e com a glória do Pai. Vem com todos os santos anjos. Ao passo que o mundo todo estará mergulhado em trevas, haverá luz em todos os lares dos santos. Eles hão de captar os primeiros raios de luz de Sua segunda vinda. A imaculada luz resplandecerá em Seu esplendor, e Cristo, o Redentor, será admirado por todos os que O serviram. Ao passo que os ímpios fugirão de Sua presença, os seguidores de Cristo rejubilarão. Vislumbrando o tempo do segundo advento de Cristo, disse o patriarca Jó: "Vê-Lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, O verão." Jó 19:27. Dos fiéis seguidores, Cristo tem sido companheiro diário, amigo familiar. Viveram em contato íntimo, em comunhão constante com Deus. A glória de Deus resplandeceu sobre eles. Refletiu-se neles a luz do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Agora se regozijam nos raios não ofuscados do resplendor e glória do Rei, em Sua majestade. Estão preparados para a comunhão do Céu; pois têm o Céu no coração.
De fronte erguida, os brilhantes raios do Sol da Justiça sobre eles resplandecendo, com júbilo porque sua redenção se aproxima, saem ao encontro do Esposo, dizendo: "Eis que Este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e Ele nos salvará." Isaías 25:9.

"E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões, que dizia: Aleluia! Pois já o Senhor, Deus todo-poderoso, reina. Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-Lhe glória, porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a Sua esposa se aprontou. ... E disse-me: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro." Apocalipse 19:6, 7 e 9. "Porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que estão com Ele, chamados, eleitos e fiéis." Apocalipse 17:14.

domingo, 27 de novembro de 2016

29 ( Parábolas de Jesus) A Recompensa Merecida - Primeira Parte


Cristo e Seus discípulos estão assentados no Monte das Oliveiras. O Sol já desapareceu e as sombras da noite crescem sobre a Terra. Pode-se ver uma casa esplendorosamente iluminada como para uma festa. A luz jorra das aberturas, e um grupo expectante indica que um cortejo nupcial está prestes a aparecer. Em muitas regiões do oriente as festividades nupciais são realizadas à noite. O noivo parte ao encontro da noiva e a traz para casa. À luz de tochas, o cortejo dos nubentes sai da casa paterna para seu próprio lar, onde um banquete é oferecido aos convidados. Na cena que Cristo contemplava, um grupo espera o aparecimento do cortejo nupcial para a ele se ajuntar.
Na adjacência do lar da noiva esperam dez virgens trajadas de branco. Todas levam uma lâmpada acesa e um frasco de óleo. Todas aguardam ansiosamente a vinda do esposo. Há, porém, uma tardança. Passa-se uma hora após outra, as vigias fatigam-se e adormecem. À meia-noite ouve-se um clamor: "Aí vem o esposo! Saí-lhe ao encontro!" Matheus 25:6. Sonolentas despertam, de repente, e levantam-se. Vêem o cortejo aproximando-se resplandecente de tochas e festivo, com música. Ouvem as vozes do esposo e da esposa. As dez virgens tomam suas lâmpadas e começam a aparelhá-las, com pressa de partir. Cinco delas, porém, tinham deixado de encher seus frascos. Não previram demora tão longa, e não se prepararam para a emergência. Em aflição apelam para suas companheiras mais prudentes, dizendo: "Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam." Matheus 25:8. Mas as cinco outras, com suas lâmpadas há pouco aparelhadas, tinham seus frascos esvaziados. Não tinham óleo de sobra, e respondem: "Não seja caso que nos falte a nós e a vós; ide, antes, aos que o vendem e comprai-o para vós." Matheus 25:9.
Enquanto foram comprar, o cortejo foi-se e as deixou. As cinco, com as lâmpadas acesas, se uniram à multidão, entraram na casa com o cortejo nupcial, e fechou-se a porta. Quando as virgens loucas chegaram à entrada da casa do banquete, receberam uma recusa inesperada. O anfitrião declarou: "Não vos conheço." Matheus 25:12. Foram abandonadas ao relento, na rua solitária, nas trevas da noite.
Quando Cristo, sentado, contemplava o grupo que aguardava o esposo, contou aos discípulos a história das dez virgens, ilustrando, pela experiência delas, a da igreja que viveria justamente antes de Sua segunda vinda.
Os dois grupos de vigias representam as duas classes que professam estar à espera de seu Senhor. São chamadas virgens porque professam fé pura. As lâmpadas representam a Palavra de Deus. Diz o salmista: "Lâmpada para os meus pés é a Tua palavra e, luz para os meus caminhos." Salmos 119:105. O óleo é símbolo do Espírito Santo. Assim é representado o Espírito na profecia de Zacarias. "Tornou o anjo que falava comigo", diz ele, "e me despertou, como a um homem que é despertado do seu sono, e me disse: Que vês? E eu disse: Olho, e eis um castiçal todo de ouro, e um vaso de azeite no cimo, com as suas sete lâmpadas; e cada lâmpada posta no cimo tinha sete canudos. E, por cima dele, duas oliveiras, uma à direita do vaso de azeite, e outra à sua esquerda. E falei e disse ao anjo que falava comigo, dizendo: Senhor meu, que é isto? E respondeu e me falou, dizendo: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel, dizendo: Não por força, nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos. E, falando-lhe outra vez, disse: Que são aqueles dois raminhos de oliveira que estão junto aos dois tubos de ouro e que vertem de si ouro? Então, Ele disse: Estes são os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a Terra." Zacarias 4:1-4, 6, 12 e 14.
Das duas oliveiras o dourado óleo era vazado pelos tubos de ouro nas taças do castiçal, e daí nas lâmpadas de ouro que iluminavam o santuário. Assim, dos santos que estão na presença de Deus, Seu Espírito é comunicado aos que são consagradas para o Seu serviço. A missão dos dois ungidos é comunicar ao povo de Deus aquela graça celestial que, somente, pode fazer de Sua palavra uma lâmpada para os pés, e uma luz para o caminho. "Não por força, nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos." Zacarias 4:6.
Na parábola, todas as dez virgens saíram ao encontro do esposo. Todas tinham lâmpadas e frascos. Por algum tempo não se notava diferença entre elas. Assim é com a igreja que vive justamente antes da segunda vinda de Cristo. Todos têm conhecimento das Escrituras. Todos ouviram a mensagem da proximidade da volta de Cristo e confiantemente O esperam. Como na parábola, porém, assim é agora. Há um tempo de espera; a fé é provada; e quando se ouvir o clamor: "Aí vem o Esposo! Saí-Lhe ao encontro!" (Matheus 25:6), muitos não estarão preparados. Não têm óleo em seus vasos nem em suas lâmpadas. Estão destituídos do Espírito Santo.
Sem o Espírito de Deus, de nada vale o conhecimento da Palavra. A teoria da verdade não acompanhada do Espírito Santo, não pode vivificar a mente, nem santificar o coração. Pode estar-se familiarizado com os mandamentos e promessas da Bíblia, mas se o Espírito de Deus não introduzir a verdade no íntimo, o caráter não será transformado. Sem a iluminação do Espírito, os homens não estarão aptos para distinguir a verdade do erro, e serão presa das tentações sutis de Satanás.
A classe representada pelas virgens loucas não é hipócrita. Têm consideração pela verdade, advogaram-na, são atraídos aos que crêem na verdade, mas não se entregaram à operação do Espírito Santo. Não caíram sobre a rocha, que é Cristo Jesus, e não permitiram que sua velha natureza fosse quebrantada. Essa classe é representada, também, pelos ouvintes comparados ao pedregal. Recebem a Palavra prontamente; porém, deixam de assimilar os seus princípios. Sua influência não permanece neles. O Espírito trabalha no coração do homem de acordo com o seu desejo e consentimento, nele implantando natureza nova; mas a classe representada pelas virgens loucas contentou-se com uma obra superficial. Não conhecem a Deus; não estudaram Seu caráter; não tiveram comunhão com Ele; por isso não sabem como confiar, como ver e viver. Seu serviço para Deus degenera em formalidade. "Eles vêm a Ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de Ti como Meu povo, e ouvem as Tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza." Ezequiel 33:31. O apóstolo Paulo assinala que essa será a característica especial dos que vivem justamente antes da segunda vinda de Cristo. Diz: "Nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos... mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela." II Timóteo 3:1-5.
Essa é a classe que em tempo de perigo é encontrada bradando: Paz e segurança. Acalentam seu coração em sossego, e não sonham com o perigo. Quando despertos de sua indiferença, discernem sua destituição, e rogam a outros que lhes supram a falta; em assuntos espirituais, porém, ninguém pode remediar a deficiência de outros. A graça de Deus tem sido oferecida livremente a todos. Tem sido proclamada a mensagem do evangelho: "Quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida." Apocalipse 22:17. Todavia o caráter não é transferível. Ninguém pode crer por outro. Ninguém pode receber por outro o Espírito. Ninguém pode dar a outrem o caráter que é o fruto da operação do Espírito. "Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela (a Terra), vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que nem filho nem filha eles livrariam, mas só livrariam a sua própria alma pela sua justiça." Ezequiel14:20.
Numa crise é que o caráter é revelado. Quando a voz ardorosa proclamou à meia-noite: "Aí vem o Esposo! Saí-lhe ao encontro!" (Matheus 25:6), e as virgens adormecidas ergueram-se de sua sonolência, foi visto quem fizera a preparação para o evento. Ambos os grupos foram tomados de surpresa; porém, um estava preparado para a emergência, e o outro não. Assim agora uma calamidade repentina e imprevista, alguma coisa que põe a pessoa face a face com a morte, mostrará se há fé real nas promessas de Deus. Mostrará se está sustida na graça. A grande prova final virá no fim do tempo da graça, quando será tarde demais para se suprirem as necessidades do espírito.
As dez virgens estão esperando na noite da história deste mundo. Todas dizem ser cristãs. Todas têm uma vocação, um nome, uma lâmpada, e todas pretendem fazer a obra de Deus. Todas aguardam, aparentemente, a volta de Cristo. Cinco, porém, estão desprevenidas. Cinco serão encontradas surpreendidas, aterrorizadas, fora do recinto do banquete.
No dia final muitos hão de requerer admissão ao reino de Cristo, dizendo: "Temos comido e bebido na Tua presença, e Tu tens ensinado nas nossas ruas." Lucas 13:26.
"Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu nome? E, em Teu nome, não expulsamos demônios? E, em Teu nome, não fizemos muitas maravilhas?" Matheus 7:22. Mas a resposta será: "Digo-vos que não sei de onde vós sois; apartai-vos de mim." Lucas 13:27. Nesta vida não tiveram comunhão com Cristo; por isto não conhecem a linguagem do Céu, são estranhos às suas alegrias. "Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus." I Coríntios 2:11.
As palavras mais tristes que caíram em ouvidos mortais são aquelas da sentença: "Não vos conheço." Matheus 25:12. Unicamente a comunhão do Espírito que desprezastes poderia unir-vos à multidão jubilosa que estará no banquete das bodas. Não podereis participar dessa cena. Sua luz incidiria sobre olhos cegos, e sua melodia em ouvidos surdos. Seu amor e alegria não fariam soar de júbilo corda alguma do coração entorpecido pelo mundo.
Sois excluídos do Céu por vossa própria inaptidão para a sua companhia.
Não podemos estar prontos para encontrar o Senhor, acordando ao ouvir o brado: "Aí vem o Esposo!" (Matheus 25:6) e então tomar nossas lâmpadas vazias para enchê-las. Não podemos viver apartados de Cristo aqui, e ainda assim estar aptos para a Sua companhia no Céu.
Na parábola, as virgens prudentes tinham óleo em seus vasos com as lâmpadas. Suas lâmpadas arderam com chama contínua pela noite de vigília. Contribuíram para aumentar a iluminação em honra do esposo. Brilhando na escuridão, auxiliaram a iluminar o caminho para o lar do esposo, para a ceia de bodas.
Assim, devem os seguidores de Cristo irradiar luz nas trevas do mundo. Pela atuação do Espírito Santo, a Palavra de Deus é uma luz quando se torna um poder transformador na vida de quem a recebe. Implantando-lhes no coração os princípios de Sua Palavra, o Espírito Santo desenvolve nos homens os predicados de Deus. A luz de Sua glória - Seu caráter - deve refletir-se em Seus seguidores. Assim devem glorificar a Deus, e iluminar o caminho para a mansão do esposo, para a cidade de Deus, e para o banquete de bodas do Cordeiro.
A vinda do esposo foi à meia-noite - a hora mais tenebrosa. Assim a vinda de Cristo será no período mais tenebroso da história deste mundo. Os dias de Noé e de Ló ilustram a condição do mundo exatamente antes da vinda do Filho do homem. Apontando para esse tempo, declaram as Escrituras que Satanás trabalhará com todo poder e "sinais, e prodígios de mentira". II Tessalonicenses 2:9. Sua obra é revelada claramente pelas trevas que se adensam rapidamente, pela multidão de erros, heresias e enganos destes últimos dias. Satanás não só leva cativo o mundo, porém suas ilusões infectam até as professas igrejas de nosso Senhor Jesus Cristo. A grande apostasia se desenvolverá em trevas tão densas como as da meia-noite, impenetráveis como a mais intensa escuridão. Para o povo de Deus será uma noite de prova, noite de lamentação, noite de perseguição por causa da verdade. Mas nessa noite de trevas brilhará a luz de Deus.

domingo, 20 de novembro de 2016

28 (Parábolas de Jesus) O Maior Dos Males



A verdade da livre graça de Deus fora quase perdida de vista pelos judeus. Os rabinos ensinavam que o favor de Deus devia ser alcançado por merecimento. Esperavam ganhar pelas próprias obras o galardão dos justos. Por isto seu culto todo era induzido por um espírito ávido e mercenário. Até os discípulos de Cristo não estavam totalmente livres deste espírito, e o Salvador aproveitava toda oportunidade para mostrar-lhes seu erro. Justamente antes de dar a parábola dos trabalhadores ocorreu um evento que Lhe ofereceu a oportunidade para apresentar os justos princípios.
Indo Seu caminho, um jovem príncipe correu-Lhe ao encontro e, ajoelhando-se, saudou-O reverentemente. "Bom Mestre", disse, "que bem farei, para conseguir a vida eterna?" Matheus 19:16.
O príncipe dirigiu-se a Cristo meramente como a um rabino honrado, não reconhecendo nEle o Filho de Deus. O Salvador disse: "Por que Me chamas bom? Não há bom, senão um só que é Deus." Matheus 19:17. Em que sentido Me chamas bom? Deus unicamente é bom. Se Me reconheces como tal, precisas receber-Me como Seu Filho e representante.
"Se queres, porém, entrar na vida", acrescentou, "guarda os mandamentos." Matheus 19:17. O caráter de Deus é expresso em Sua lei; e se queres estar em harmonia com Deus, os princípios de Sua lei devem ser o motivo de todas as tuas ações.
Cristo não diminui as exigências da lei. Em linguagem inconfundível apresenta a obediência a ela como condição da vida eterna - a mesma condição requerida de Adão antes da queda. O Senhor não espera agora menos de nós, do que esperava do homem no Paraíso, obediência perfeita, justiça irrepreensível. A exigência sob o pacto da graça é tão ampla quanto os requisitos ditados no Éden - harmonia com a lei de Deus, que é santa, justa e boa.
Às palavras: "Guarda os mandamentos", o jovem respondeu: "Quais?" Matheus 19:17 e 18. Supôs que fossem alguns preceitos cerimoniais; mas Cristo falava da lei dada no Sinai. Mencionou diversos mandamentos da segunda tábua do decálogo, e resumiu-os todos no preceito: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Matheus 19:19.
O jovem respondeu sem hesitação: "Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?" Matheus 19:20. Sua compreensão da lei era externa e superficial. Julgado segundo o padrão humano, preservara caráter irrepreensível. Em grande parte sua vida exterior fora isenta de culpa; acreditara realmente que sua obediência fora sem falha. Contudo tinha um receio íntimo de que nem tudo estava direito entre seu coração e Deus. Isso originou a pergunta: "Que me falta ainda?"
"Se queres ser perfeito", disse Cristo, "vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no Céu; e vem e segue-Me. E o jovem, ouvindo essa palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades." Matheus 19:21 e 22.
O amante de si mesmo é transgressor da lei. Isto quis Jesus revelar ao jovem, e submeteu-o a uma prova de modo tal, que manifestaria o egoísmo de seu coração. Mostrou-lhe a nódoa do caráter. O jovem não desejou mais esclarecimento. Nutrira na alma um ídolo - o mundo era o seu deus. Professava ter guardado os mandamentos, porém estava destituído do princípio que é o próprio espírito e vida de todos eles. Não possuía verdadeiro amor a Deus e ao homem. Esta falta era a carência de tudo quanto o qualificaria para entrar no reino do Céu. Em seu amor ao próprio eu e ao ganho terrestre, estava em desarmonia com os princípios do Céu.
Quando este jovem príncipe foi ter com Jesus, sua sinceridade e fervor conquistaram o coração do Salvador. "Olhando para ele, o amou." Marcos 10:21. Nele viu alguém que poderia trabalhar como pregador da justiça. Teria recebido este jovem talentoso e nobre tão prontamente como recebera os pobres pescadores que O seguiam. Se devotasse sua aptidão à obra de salvar almas, poderia tornar-se obreiro diligente e bem-sucedido para Cristo.
Precisava, porém, aceitar primeiramente as condições do discipulado. Precisava entregar-se a Deus sem reservas. Ao convite do Salvador, João, Pedro, Mateus e seus companheiros, deixando tudo, levantaram-se e O seguiram. (Lucas 5:28.) Era requerida a mesma consagração do jovem príncipe. E nisto Cristo não pediu maior sacrifício do que Ele próprio fizera. "Sendo rico, por amor de vós Se fez pobre, para que, pela Sua pobreza, enriquecêsseis." II Coríntios 8:9. O jovem tinha somente que seguir aonde Cristo o precedera.
Cristo contemplou o rapaz e anelou seu coração. Desejava enviá-lo como mensageiro de bênçãos aos homens. Em vez daquilo que fora convidado a renunciar, Cristo lhe ofereceu o privilégio de Sua companhia. "Segue-Me", disse. Matheus 19:21. Este privilégio foi considerado uma alegria por Pedro, Tiago e João. O próprio jovem olhava a Cristo com admiração. Seu coração foi atraído ao Salvador. Não estava, porém, pronto para aceitar Seu princípio de abnegação. Preferiu suas riquezas a Cristo. Desejava a vida eterna, mas não queria receber na alma aquele amor desinteressado que, somente, é vida, e com coração triste saiu da presença de Cristo.
Quando o jovem se retirou, Jesus disse aos discípulos: "Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas." Marcos 10:23. Estas palavras surpreenderam os discípulos. Haviam sido ensinados a considerar os ricos favorecidos do Céu; poder e riquezas mundanas, eles mesmos esperavam receber no reino do Messias; se os ricos não entrassem no reino, que esperança poderia haver para os demais homens?
"Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. E eles se admiravam ainda mais." Marcos 10:24-26. Agora reconheceram que também eles estavam incluídos na solene advertência. À luz das palavras do Salvador, seu oculto anelo pelo poder e pelas riquezas foi revelado. Com maus pressentimentos quanto a si mesmos, exclamaram: "Quem poderá, pois, salvar-se?" Marcos 10:26.
"Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis." Marcos 10:27.
Um rico, como tal, não pode entrar no Céu. Sua riqueza não lhe outorga direito à herança dos santos na luz. Somente pela graça imerecida de Cristo pode alguém ter entrada na cidade de Deus.
As palavras do Espírito são dirigidas tanto aos ricos como aos pobres: "Não sois de vós mesmos; porque fostes comprados por bom preço." I Coríntios 6:19 e 20. Quando os homens crerem isto, considerarão suas posses um legado para ser usado como Deus dirigir, para salvação dos perdidos, e conforto dos sofredores e pobres. Para o homem isto é impossível, porque o coração se apega às posses terrestres. A alma presa ao serviço de "Mamom", está surda ao clamor da necessidade humana. Para Deus todas as coisas são possíveis, porém. Contemplando o imaculado amor de Cristo, o coração egoísta se enternecerá e será subjugado. Como o fariseu Saulo, o rico será induzido a dizer: "O que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor." Filipenses 3:7 e 8. Então nada estimarão seu. Jubilarão por considerarem-se mordomos da múltipla graça de Deus, e por Sua causa servos de todos os homens.
Pedro foi o primeiro a reanimar-se da íntima convicção operada pelas palavras do Salvador. Pensou com satisfação no que ele e seus irmãos renunciaram por Cristo: "Eis que", disse ele, "nós deixamos tudo e Te seguimos." Matheus 19:27. Lembrando-se da promessa condicional ao jovem príncipe: "Terás um tesouro no Céu" (Matheus 19:21), perguntou o que ele e seus companheiros receberiam como recompensa por seu sacrifício.
A resposta do Salvador comoveu o coração daqueles pescadores galileus. Cristo mencionou honras que ultrapassavam seus mais altos sonhos. "Em verdade vos digo que vós, que Me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem Se assentar no trono da Sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel." Matheus 19:28. E acrescentou: "Ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de Mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos,
"E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança." Colossenses 3:23 e 24. "E eis que cedo venho, e o Meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra." Apocalipse 22:12.
Mas a pergunta de Pedro: "Que receberemos?" (Matheus 19:27) revelou um espírito que, não corrigido, incapacitaria os discípulos para serem mensageiros de Cristo; porque era espírito de mercenário. Embora houvessem sido atraídos pelo amor de Jesus, os discípulos não estavam completamente livres do farisaísmo. Ainda trabalhavam com o pensamento de merecer recompensa proporcional à sua obra. Nutriam espírito de exaltação e complacência próprias, e faziam distinções entre si. Se algum deles falhava em qualquer pormenor, os outros nutriam sentimentos de superioridade.
Para que os discípulos não perdessem de vista os princípios do evangelho, Cristo lhes narrou uma parábola ilustrativa da maneira como Deus procede com Seus servos, e o espírito com que deseja que trabalhem para Ele.
"O reino dos Céus", disse Ele, "é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha." Matheus 20:1. Era costume que os homens que procuravam trabalho esperassem nas praças, e lá iam os empreiteiros procurar servos. O homem da parábola é apresentado como indo a diferentes horas contratar operários. Os assalariados nas primeiras horas concordaram em trabalhar por uma soma combinada; os assalariados mais tarde deixaram o seu salário à discrição do pai de família.
"Aproximando-se a noite, diz o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o salário, começando pelos derradeiros até aos primeiros. E, chegando os que tinham ido perto da hora undécima, receberam um dinheiro cada um; vindo, porém, os primeiros, cuidaram que haviam de receber mais; mas, do mesmo modo, receberam um dinheiro cada um." Matheus 20:8-10.
O procedimento do pai de família com os trabalhadores em sua vinha representa o de Deus com a família humana. É contrário aos costumes que prevalecem entre os homens. Nos negócios mundanos, a compensação é dada de acordo com o trabalho executado. O trabalhador espera que lhe seja pago somente aquilo que ganhou. Mas na parábola, Cristo estava ilustrando os princípios de Seu reino - um reino não deste mundo. Ele não é regido por qualquer norma humana. Diz o Senhor: "Porque os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os Meus caminhos. ... Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os Meus caminhos mais altos que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos." Isaías 55:8 e 9.
Na parábola, os primeiros obreiros concordaram em trabalhar por uma soma estipulada, e receberam a quantia especificada. Nada mais. Os assalariados mais tarde creram na promessa do mestre: "Dar-vos-ei o que for justo." Matheus 20:4. Mostraram confiança nele, nada perguntando a respeito do salário. Confiaram em sua justiça e eqüidade. Foram recompensados, não de acordo com o que trabalharam, mas segundo a generosidade do pai de família.
Assim deseja Deus que confiemos nEle, que justifica o ímpio. Seu galardão é dado, não proporcionalmente ao nosso mérito, mas conforme Seu propósito, "que fez em Cristo Jesus, nosso Senhor". Efésios 3:11. "Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a Sua misericórdia, nos salvou." Tito 3:5. E aos que nEle confiam fará "muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos". Efésios 3:20.
Não a soma do trabalho que executamos, nem seus resultados visíveis, mas o espírito com que o fazemos, é que o torna valioso para Deus. Os que foram à vinha à undécima hora, estavam gratos pela oportunidade de trabalhar. Seu coração estava cheio de gratidão àquele que os recebera; e quando no fim do dia o pai de família lhes pagou uma jornada completa, ficaram muito surpreendidos. Sabiam que não mereciam tal recompensa. E a bondade expressa no semblante de Seu amo encheu-os de júbilo. Jamais esqueceram a benignidade do patrão nem a generosa recompensa que receberam. Assim é com o pecador que, conhecendo sua indignidade, entrou na vinha do Mestre à undécima hora. Seu tempo de serviço parece tão curto, sente que não merece recompensa; porém, enche-se de alegria porque, sobretudo, Deus o aceitou. Labuta com espírito humilde e confiante, grato pelo privilégio de ser um coobreiro de Cristo. Deus Se deleita em honrar este espírito.
O Senhor deseja que descansemos nEle sem pensar na medida do galardão. Quando Cristo habita na alma, o pensamento de remuneração não é supremo. Este não é o motivo impelente do nosso serviço. Verdade é que num sentido secundário devemos olhar à recompensa. Deus deseja que apreciemos as bênçãos prometidas; mas não que sejamos ávidos de remuneração, nem sintamos que para cada serviço devamos receber compensação. Não devemos estar tão ansiosos de obter o galardão, como de fazer o que é justo, independentemente de
"Pelo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão, segundo o seu trabalho. Porque nós somos cooperadores de Deus; ... ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. ... Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão." I Corintios 3:7-9, 11 e 14.
   O amor a Deus e a nossos semelhantes deve ser o nosso motivo.
Esta parábola não desculpa os que ouvem o primeiro chamado para o trabalho, mas negligenciam entrar na vinha do Senhor. Quando o pai de família foi à praça à undécima hora, e encontrou homens desocupados, disse: "Por que estais ociosos todo o dia?" Matheus 20:6. A resposta foi: "Porque ninguém nos assalariou." Matheus 20:7. Nenhum dos chamados mais tarde, estava ali de manhã. Não recusaram a chamada. Os que recusam e depois se arrependem, fazem bem em arrepender-se; mas não é seguro menosprezar o primeiro apelo da graça.
Quando os trabalhadores da vinha receberam "um dinheiro cada um" (Matheus 20:9), os que haviam começado a trabalhar mais cedo, ficaram ofendidos. Não haviam labutado eles doze horas? arrazoaram entre si, e não era justo que recebessem mais do que os que trabalharam apenas uma hora na parte mais amena do dia? "Estes derradeiros trabalharam só uma hora", disseram, "e tu os igualaste conosco, que suportamos a fadiga e a calma do dia." Matheus 20:12.
"Amigo", retrucou o pai de família a um deles; "não te faço injustiça; não ajustaste tu comigo um dinheiro? Toma o que é teu e retira-te; eu quero dar a este derradeiro tanto como a ti. Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?" Matheus 20:13-15.
"Assim, os derradeiros serão primeiros, e os primeiros, derradeiros, porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos." Matheus 20:16.
Os primeiros trabalhadores da parábola representam os que, por causa de seus serviços reclamam preferência sobre os demais. Empreendem sua obra com o espírito de engrandecimento, e não empregam nela abnegação e sacrifício. Podem haver professado servir a Deus toda a sua vida; podem destacar-se em suportar dificuldades, privação e provas, e por isso pensam ter direito a grande remuneração. Pensam mais na recompensa que no privilégio de serem servos de Cristo. A seu parecer, suas labutas e sacrifícios conferem-lhes o direito de receber mais honras que os outros, e por não ser reconhecido esse direito, ficam ofendidos. Se tivessem trabalhado com espírito amável e confiante, continuariam a ser os primeiros; mas sua disposição queixosa e lamuriante é dessemelhante da de Cristo, e demonstra que são indignos de confiança. Revela seu desejo de exaltação própria, desconfiança de Deus, e espírito ambicioso e de inveja para com os irmãos. A bondade e a liberalidade do Senhor lhes é motivo de murmuração. Assim demonstram não ter afinidade com Deus. Não conhecem a alegria da cooperação com o Obreiro por excelência.
Nada mais ofensivo há para Deus que este espírito acanhado, e que cuida só de si. Não pode Ele operar com os que manifestam tais predicados. São insensíveis à operação de Seu Espírito.
Os judeus foram os primeiros a serem chamados para a vinha do Senhor; e por isso eram altivos e cheios de justiça própria. Cuidavam que seus longos anos de trabalho os titulavam para receber galardão maior do que os outros. Nada lhes foi mais exasperante do que uma insinuação de que os gentios deveriam ser admitidos aos mesmos privilégios que eles nas coisas de Deus.
Cristo advertiu os discípulos que primeiro foram chamados a segui-Lo, a que não acariciassem o mesmo mal. Viu que o espírito de justiça própria seria a causa da debilidade e maldição da igreja. Os homens pensariam que poderiam fazer alguma coisa para obter lugar no reino dos Céus. Imaginariam que quando tivessem feito certos progressos o Senhor viria para auxiliá-los. Assim haveria abundância do próprio eu e pouco de Jesus. Muitos que houvessem progredido um pouco se jactariam e considerariam superiores a outros. Seriam ávidos de lisonjas, invejosos se não fossem tidos por mais importantes. Cristo procurou proteger Seus discípulos contra este perigo.
Não é cabível o vangloriar-nos de algum mérito. "Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas. Mas o que se gloriar glorie-se nisto: em Me conhecer e saber que Eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na Terra; porque destas coisas Me agrado, diz o Senhor." Jeremias 9:23 e 24.
A recompensa não é pelas obras, para que ninguém se glorie, mas pela graça. "Que diremos, pois, ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Ora, àquele que faz qualquer obra, não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida. Mas, àquele que não pratica, porém crê nAquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça." Romanos 4:1-5. Portanto não há ocasião de alguém se gloriar sobre outro,
"O Senhor galardoe o teu feito, e seja cumprido o teu galardão do Senhor, Deus de Israel." Rute 2:12. "Deveras há uma recompensa para o justo." Sal. 58:11. "Para o que semeia justiça, haverá galardão certo." Provérbios 11:18.
 Ninguém é mais privilegiado do que outro, nem pode alguém reclamar o galardão como um direito.
O primeiro e o último devem ser participantes do grande galardão eterno, e o primeiro deve dar alegremente as boas-vindas ao último. Aquele que inveja o galardão de outro, esquece que ele mesmo é salvo unicamente pela graça. A parábola dos trabalhadores reprova toda ambição e suspeita. O amor regozija-se na verdade, e não estabelece comparações invejosas. Quem possui amor, compara somente seu próprio caráter imperfeito com a amabilidade de Cristo.
Esta parábola é uma advertência a todos os obreiros que, embora longos seus serviços, embora fartas as labutas, estão sem amor aos irmãos e sem humildade perante Deus. Não há religião na entronização do próprio eu. Aquele, cujo alvo é a glorificação própria, se encontrará destituído daquela graça que, somente, pode torná-lo eficiente no serviço de Cristo. Quando é tolerado o orgulho e a complacência própria, a obra é arruinada.
Não é a duração do tempo que labutamos, mas a voluntariedade e fidelidade em nosso trabalho que o torna aceitável a Deus. É requerida uma renúncia completa do próprio eu em todo o nosso serviço. O menor dever feito com sinceridade e desinteresse é mais agradável a Deus que a maior obra quando manchada pelo egoísmo. Ele olha para ver quanto nutrimos do espírito de Cristo, e quanto nosso trabalho revela da semelhança de Cristo. Considera mais o amor e a fidelidade com que trabalhamos do que a quantidade que fazemos.
Somente quando o egoísmo estiver morto, banida a contenda pela supremacia, o coração repleto de gratidão e o amor houver tornado fragrante a vida - somente então, Cristo nos está habitando na alma e somos reconhecidos como coobreiros de Deus.
Por mais difícil que seja a labuta, os verdadeiros obreiros não a consideram fadiga. Estão prontos para gastarem-se e deixarem-se gastar; porém é uma obra prazenteira, feita de coração alegre. A alegria em Deus é expressa mediante Jesus Cristo. Sua alegria é a alegria proposta a Cristo: "Fazer a vontade dAquele que Me enviou e realizar a Sua obra." João 4:34. São cooperadores do Senhor da glória. Este pensamento suaviza toda fadiga, robustece a vontade, fortalece o espírito para tudo que suceder. Trabalhando com coração isento de egoísmo, enobrecidos por serem participantes dos sofrimentos de Cristo, partilhando de Suas simpatias e colaborando com Ele em Sua obra, ajudam a intensificar a Sua alegria e a acrescentar honra e louvor ao Seu nome exaltado.
Esse é o espírito de todo serviço verdadeiro para Deus. Pela falta do mesmo, muitos que aparentam ser os primeiros se tornarão os últimos, enquanto os que o possuem, embora considerados os últimos, se tornarão os primeiros.
Muitos há que se entregaram a Cristo, todavia não vêem oportunidade de realizar grande obra ou fazer grandes sacrifícios em Seu serviço. Estes podem achar conforto no pensamento de que não é necessariamente a abnegação do mártir que é mais aceitável a Deus; pode ser que o missionário que enfrente diariamente o perigo e a morte, não tome a mais elevada posição nos registros do Céu. O cristão que o é em sua vida particular, na renúncia diária do eu, na sinceridade de propósito e pureza de pensamento, em mansidão sob provocação, em fé e piedade, em fidelidade nas coisas mínimas, que na vida familiar representa o caráter de Cristo, esse pode ser mais precioso aos olhos de Deus que o missionário ou mártir de fama mundial.
Oh, como são diferentes os padrões pelos quais Deus e o homem medem o caráter! Deus vê muitas tentações resistidas das quais o mundo e até os amigos íntimos nunca sabem - tentações no lar e no coração. Vê a humildade da alma em vista de sua própria fraqueza; o arrependimento sincero, até de um pensamento que é mau. Vê a inteira devoção a Seu serviço. Anotou as horas de duros combates com o próprio eu - combates que trouxeram vitória. Tudo isto os anjos e Deus sabem. Um memorial há escrito diante dEle, para os que temem ao Senhor e para os que se lembram do Seu nome.
O segredo do êxito não é encontrado nem em nossa erudição, nem em nossa posição, nem em nosso número ou nos talentos a nós confiados, nem na vontade do homem. Cônscios de nossa deficiência devemos contemplar a Cristo, e por Ele que é a força por excelência, a expressão máxima do pensamento, o voluntário e obediente obterá uma vitória após outra.

E por mais breve que seja o nosso serviço, ou mais humilde nossa obra, se seguirmos a Cristo com fé singela, não seremos desapontados pelo galardão. Aquilo que o maior e mais sábio não pode alcançar, o mais débil e mais humilde receberá. Os portões áureos do Céu não se abrem para os que se exaltam. Não são erguidos para os de espírito altivo. Os portais eternos abrir-se-ão ao trêmulo contato de uma criancinha. Abençoado será o galardão da graça para os que trabalharam para Deus com simplicidade de fé e amor.

sábado, 12 de novembro de 2016

27 (Parábolas de Jesus) A Verdadeira Riqueza



Entre os judeus a questão: "Quem é o meu próximo?" (Lucas 10:29) suscitava disputas intermináveis. Não tinham dúvidas quanto aos gentios e samaritanos. Estes eram estrangeiros e inimigos. Mas onde deveria ser feita a distinção entre seu povo e entre as diferentes classes da sociedade? A quem deveriam o sacerdote, o rabino, o ancião, considerar seu próximo? Consumiam a vida num ciclo de cerimônias para se purificarem. O contato com a multidão ignorante e descuidada, ensinavam causar uma mancha que requeria fatigantes esforços para remover. Deveriam eles considerar os "impuros" seu próximo?
Na parábola do bom samaritano, Cristo respondeu a essa pergunta. Mostrou que nosso próximo não significa unicamente alguém da igreja ou fé a que pertencemos. Não faz referência a nacionalidade, cor ou distinção de classe. Nosso próximo é toda pessoa que carece de nosso auxílio. Nosso próximo é toda pessoa ferida e magoada pelo adversário. Nosso próximo é todo aquele que é propriedade de Deus.
A parábola do bom samaritano foi inspirada pela pergunta de um doutor da lei a Cristo. Enquanto o Salvador estava ensinando, "eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-O e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" Lucas 10:25. Os fariseus tinham sugerido esta pergunta ao doutor da lei na esperança de enredar a Cristo em Suas palavras, e espreitavam ansiosamente a resposta. Mas o Salvador não entrou em controvérsia. Exigiu do próprio interlocutor, a resposta. "Que está escrito na lei?" perguntou, "como lês?" Lucas 10:26. Os judeus ainda acusavam Jesus de menosprezar a lei dada no Sinai, mas Ele fez a salvação depender da guarda dos mandamentos de Deus.O doutor da lei disse: "Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo." Lucas 10:27. "Respondeste bem", disse Cristo; "faze isso e viverás." Lucas 10:28.
O doutor da lei não estava satisfeito com a atitude e obras dos fariseus. Estivera estudando as Escrituras com o desejo de aprender sua significação verdadeira. Tinha interesse real na questão, e perguntou com sinceridade: "Que farei?" Lucas 10:25. Em sua resposta a respeito dos reclamos da lei, passou por alto toda a multidão de preceitos cerimoniais e rituais. A estes não deu importância, mas apresentou os dois grandes princípios de que dependem toda a lei e os profetas. O assentimento do Salvador a esta resposta colocou-O em posição vantajosa para com os rabinos. Não podiam condená-Lo por sancionar aquilo que fora proferido por um expositor da lei.
"Faze isso e viverás", disse Cristo. Lucas 10:28. Em Seus ensinos sempre apresentava a lei como uma unidade divina, mostrando que é impossível guardar um preceito e violar outro; porque um mesmo princípio os anima a todos.
O destino do homem será determinado pela obediência a toda a lei.
Cristo sabia que ninguém poderia obedecer à lei por sua própria força. Desejava induzir o doutor da lei a um estudo mais esclarecido e minucioso para que achasse a verdade. Somente aceitando a virtude e a graça de Cristo podemos observar a lei. A fé na propiciação pelo pecado habilita o homem caído a amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo.
O doutor sabia que não guardara nem os primeiros quatro, nem os últimos seis mandamentos. Foi convencido pelas penetrantes palavras de Cristo, mas em vez de confessar o seu pecado, procurou justificar-se. Em vez de reconhecer a verdade, tentou mostrar quão difícil é cumprir os mandamentos. Deste modo esperava rebater a convicção e justificar-se aos olhos do povo. As palavras do Salvador lhe mostraram que a pergunta era desnecessária, pois ele mesmo estava apto para a ela responder. Contudo interrogou novamente, dizendo: "Quem é o meu próximo?" Lucas 10:29.
Outra vez recusou Cristo ser arrastado à controvérsia. Respondeu narrando um incidente, do qual os ouvintes estavam bem lembrados. "Descia um homem", disse, "de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto." Lucas 10:30.
Na jornada de Jerusalém a Jericó, o viajante precisava atravessar parte do deserto da Judéia. O caminho passava numa garganta rochosa e deserta, infestada de ladrões, e era muitas vezes local de violências. Aí o viajante fora atacado, despojado de tudo quanto possuía de valor, e abandonado meio morto no caminho. Estando nessas condições, um sacerdote por lá passou, viu o homem ferido e maltratado, engolfado em sangue, porém deixou-o sem prestar-lhe auxílio. "Passou de largo." Lucas 10:31. Apareceu então um levita. Curioso de saber o que acontecera, deteve-se e contemplou o sofredor. Estava convicto de seu dever, mas não era um serviço agradável. Desejou não ter vindo por aquele caminho, de modo que não visse o ferido. Persuadiu-se de que não tinha nada com o caso, e também "passou de largo".
Mas um samaritano que viajava pela mesma estrada, viu a vítima e fez o que os outros recusaram fazer. Com carinho e amabilidade tratou do ferido. "Vendo-o, moveu-se de íntima compaixão. E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele; e, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele, e tudo que de mais gastares eu to pagarei, quando voltar." Lucas 10:33-35. Tanto o sacerdote como o levita professavam piedade, mas o samaritano mostrou que era verdadeiramente convertido. Não lhe era mais agradável fazer o trabalho do que o era para o levita e o sacerdote, porém, no espírito e nos atos provou estar em harmonia com Deus.
Dando esta lição, Jesus apresentou os princípios da lei de maneira direta e incisiva, mostrando aos ouvintes que eles tinham negligenciado a prática destes princípios. Suas palavras eram tão definidas e acertadas que os ouvintes não podiam achar oportunidade de contestá-las. O doutor da lei não encontrou na lição nada que pudesse criticar. Seu preconceito a respeito de Cristo foi removido. Mas não tinha vencido suficientemente a aversão nacional, para recomendar por nome o samaritano. Ao perguntar Cristo: "Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?" Disse: "O que usou de misericórdia para com ele." Lucas 10:36 e 37.
"Disse, pois, Jesus: Vai e faze da mesma maneira." Lucas 10:37. Mostra o mesmo terno amor para com os necessitados. Assim demonstrarás que guardas toda a lei.
A grande diferença entre judeus e samaritanos era uma diferença de crença religiosa, uma questão quanto ao que constitui o verdadeiro culto. Os fariseus não diziam nada de bom dos samaritanos, mas lançavam sobre eles as mais amargas maldições. Tão forte era a antipatia entre judeus e samaritanos, que para a mulher de Samaria foi estranho que Cristo lhe pedisse de beber. "Como", disse ela, "sendo Tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque", acrescenta o evangelista, "os judeus não se comunicam com os samaritanos)." João 4:9.
E quando os judeus estavam tão cheios de ódio sanguinário contra Cristo que se levantaram no templo para apedrejá-Lo, não puderam achar melhores palavras para exprimir o seu ódio que: "Não dizemos nós bem que és samaritano e que tens demônio?" João 8:48. Além disso, o sacerdote e o levita negligenciaram justamente a obra de que o Senhor os incumbira, e deixaram a um samaritano odiado e desprezado servir a um seu compatriota.
O samaritano cumprira o mandamento: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo", mostrando assim ser mais justo que os que o condenavam. Arriscando a vida, tratou do ferido como se fosse seu irmão. Este samaritano representa Cristo.
Nosso Salvador manifestou por nós um amor, que o amor humano jamais pode igualar. Quando estávamos moídos e à morte, compadeceu-Se de nós. Não passou de largo, não nos abandonou desamparados nem nos deixou perecer sem esperança. Não permaneceu no lar santo e feliz onde era amado por todos os anjos. Viu nossa cruel necessidade, advogou nossa causa e identificou Seus interesses com os da humanidade. Morreu para salvar os inimigos. Rogou por Seus assassinos. Apontando Seu próprio exemplo, diz aos seguidores: "Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros" (João 15:17), "como Eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis." João 13:34.
O sacerdote e o levita haviam estado em adoração no templo cujo serviço Deus mesmo ordenara. Participar desse culto era grande e exaltado privilégio, e o sacerdote e o levita sentiram que sendo tão honrados, estava abaixo de sua dignidade servir a um sofredor desconhecido à beira da estrada. Assim, negligenciaram a oportunidade especial que Deus lhes deparara como agentes Seus para abençoar um semelhante.
Muitos atualmente cometem erro semelhante. Dividem seus deveres em duas classes distintas. Uma classe consiste em grandes coisas reguladas pela lei de Deus; a outra, nas assim chamadas coisas pequenas, em que o mandamento "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Matheus 19:19), é passado por alto. Essa esfera de trabalho é deixada ao léu, e sujeita à inclinação e ao impulso. Desse modo o caráter é manchado e a religião de Cristo mal representada.
Homens há que pensam ser humilhante para a sua dignidade o servirem a humanidade sofredora. Muitos olham com indiferença e desdém os que arruinaram seu corpo. Outros desprezam os pobres por diferentes motivos. Estão trabalhando, como crêem, na causa de Cristo, e procuram empreender algo de valor. Sentem que estão fazendo grande obra, e não se podem deter para notar as vicissitudes do necessitado e do infeliz. Sim, até pode dar-se que, favorecendo sua suposta grande obra, oprimam os pobres. Podem colocá-los em circunstâncias difíceis e penosas, privá-los de seus direitos ou negligenciar-lhes as necessidades. Apesar disso acham que tudo isto é justificável, porque estão, como cuidam, promovendo a causa de Cristo.
Muitos consentem em que um irmão ou vizinho se debata sob circunstâncias adversas, sem ampará-lo. Porque professam ser cristãos, pode ele ser induzido a pensar que em seu frio egoísmo estão representando a Cristo. Porque pretensos servos do Senhor não são Seus coobreiros, o amor de Deus que deles devia exalar é em grande parte interceptado de seus semelhantes. E muitos louvores e ações de graças do coração e lábios humanos são impedidos de refluir a Deus. Ele é destituído da glória devida ao Seu Santo nome. É espoliado das pessoas pelas quais Cristo morreu, pessoas que anela introduzir em Seu reino, para habitarem em Sua presença pelos séculos infindos.
A verdade divina exerce pouca influência sobre o mundo, embora devesse exercer muita influência por nossa atitude. É bastante comum a simples profissão de religião, mas isso quase nada vale. Podemos professar ser seguidores de Cristo, podemos professar crer todas as verdades da Palavra de Deus; mas isto não fará bem ao nosso próximo, a não ser que nossa crença esteja entrelaçada com nossa vida diária. Nossa profissão pode ser tão alta quanto o Céu, mas não nos salvará a nós mesmos nem aos nossos semelhantes, a menos que sejamos cristãos. Um exemplo correto fará mais benefício ao mundo que qualquer profissão de fé.
A causa de Cristo não pode ser favorecida por nenhum procedimento egoísta. Sua causa é a causa do oprimido e do pobre.
Há necessidade de terna simpatia de Cristo no coração de Seus seguidores professos - amor mais profundo aos que tanto avaliou que deu a própria vida para a sua salvação. Essas pessoas são preciosas, infinitamente mais preciosas do que qualquer outra oferenda que possamos apresentar a Deus. Se empenhamos toda a energia numa obra aparentemente grande, ao passo que desprezamos os necessitados ou privamos de seu direito o estrangeiro, nosso serviço não terá a aprovação divina.
A santificação da alma pela operação do Espírito Santo é a implantação da natureza de Cristo na humanidade. A religião do evangelho é Cristo na vida - um princípio vivo e atuante. É a graça de Cristo revelada no caráter e expressa em boas obras. Os princípios do evangelho não podem estar desligados de setor algum da vida diária. Todo ramo de trabalho e experiência cristãos deve ser uma representação da vida de Cristo.
O amor é o fundamento da piedade. Qualquer que seja a fé, ninguém tem verdadeiro amor a Deus se não manifestar amor desinteressado pelo seu irmão. Mas nunca poderemos possuir esse espírito apenas tentando amar os outros. O que é necessário é o amor de Cristo no coração. Quando o eu está imerso em Cristo, o amor brota espontaneamente. A perfeição de caráter do cristão é alcançada quando o impulso de auxiliar e abençoar a outros brotar constantemente do íntimo - quando a luz do Céu encher o coração e for revelada no semblante.
Não é possível que o coração em que Cristo habita seja destituído de amor. Se amarmos a Deus, porque primeiro nos amou, amaremos a todos por quem Cristo morreu. Não podemos entrar em contato com a divindade, sem primeiro nos aproximarmos da humanidade; porque nAquele que Se assenta no trono do Universo a divindade e a humanidade estão combinadas. Unidos com Cristo, estamos unidos aos nossos semelhantes pelos áureos elos da cadeia do amor. Então a piedade e compaixão de Cristo serão manifestas em nossa vida. Não ficaremos esperando os pedidos dos necessitados e infortunados. Não será necessário ouvir clamores para sentir as aflições dos outros. Atender o indigente e o sofredor será tão natural para nós como o foi para Cristo fazer o bem.
Onde quer que haja um impulso de amor e simpatia, onde quer que o coração se comova para abençoar e amparar os outros, é revelada a operação do Santo Espírito de Deus. Nas profundezas do paganismo os homens que não tiveram conhecimento da lei escrita de Deus, que nunca ouviram o nome de Cristo, têm sido bondosos com Seus servos, protegendo-os com o risco da própria vida. Seus atos mostram a operação de um poder divino. O Espírito Santo implantou a graça de Cristo no coração do selvagem, despertando nele a simpatia contrária à sua natureza e à sua educação. A "luz verdadeira, que alumia a todo homem que vem ao mundo" (João 1:9), está-lhe brilhando na alma; e esta luz, se atendida, lhe guiará os pés para o reino de Deus.
"O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, ... e de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, ... para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando, O pudessem achar." Atos 17:24, 26 e 27. "Olhei, e eis aqui uma multidão... de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos." Apocalipse 7:9.
A glória do Céu consiste em erguer os caídos e confortar os infortunados. E onde quer que Cristo habite no coração humano, será revelado da mesma maneira. Onde quer que atue, a religião de Cristo abençoará. Onde quer que se manifeste, haverá claridade.
Deus não reconhece distinção alguma de nacionalidade, etnia ou classe social. É o Criador de todo homem. Todos os homens são de uma família pela criação, e todos são um pela redenção. Cristo veio para demolir toda parede de separação e abrir todos os compartimentos do templo a fim de que todos possam ter livre acesso a Deus. Seu amor é tão amplo, tão profundo, tão pleno, que penetra em toda parte. Liberta das ciladas de Satanás os que foram por ele iludidos. Põe-nos ao alcance do trono de Deus, o trono circundado do arco-íris da promessa.
Em Cristo não há nem judeu nem grego, servo nem livre. Todos são aproximados por Seu precioso sangue. (Gálatas 3:28; Efésios 2:13.)
Qualquer que seja a diferença de crença religiosa, um clamor da humanidade sofredora precisa ser ouvido e atendido. Onde existirem amargos sentimentos por diferenças de religião, pode ser feito muito bem pelo serviço pessoal. O serviço amável quebrará os preconceitos e conquistará almas para Deus.
Devemos atender às aflições, às dificuldades e às necessidades dos outros. Devemos partilhar das alegrias e cuidados tanto de nobres como de humildes, de ricos como de pobres. "De graça recebestes", disse Cristo, "de graça dai." Matheus 10:8. Ao redor de nós há almas pobres e tentadas que necessitam de palavras de simpatia e atos ajudadores. Há viúvas que carecem de simpatia e assistência. Há órfãos, aos quais Cristo ordenou aos Seus seguidores que recebessem como legado de Deus. Muitas vezes são abandonados. Podem ser maltrapilhos, grosseiros e, segundo toda a aparência, nada atraentes; contudo são propriedade de Deus. Foram comprados por preço, e aos Seus olhos são tão preciosos quanto nós. São membros da grande família de Deus, e os cristãos, como mordomos Seus, são por eles responsáveis. "Suas almas", disse, "requererei de tua mão."
O pecado é o maior de todos os males, e é nosso dever compadecer-nos dos pecadores e auxiliá-los. Nem todos podem ser alcançados do mesmo modo, porém. Muitos há que ocultam sua pobreza de alma. Estes seriam grandemente auxiliados por uma palavra terna ou por uma boa lembrança. Outros estão na maior indigência, contudo não o sabem. Não reconhecem a terrível privação da alma. As multidões estão tão submersas no pecado, que perderam todo o senso das realidades eternas, perderam a semelhança de Deus, e mal sabem se têm alma para ser salva ou não. Não têm nem fé em Deus, nem confiança no homem. Alguns destes só podem ser alcançados por atos de beneficência desinteressada. Precisam ser primeiramente atendidas as suas necessidades materiais. Precisam ser alimentados, limpos e vestidos decentemente. Ao verem a prova de vosso amor desinteressado, ser-lhes-á mais fácil crerem no amor de Cristo.
Muitos há que erram e sentem a sua vergonha e loucura. Consideram seus enganos e erros até serem arrastados quase ao desespero. Não devemos desprezar estas pessoas. Quando alguém tem que nadar contra a correnteza, toda a força da mesma o impele para trás. Estenda-se-lhes uma mão auxiliadora, como o fez a Pedro quando se afogava, a mão do Irmão mais velho. Fale-lhe palavras de esperança, palavras que fortaleçam a confiança e despertem amor.
Seu irmão doente espiritualmente necessita de ti, como tu mesmo careceste do amor de um irmão. Necessita da experiência de alguém que fora tão fraco quanto ele, de alguém que possa com ele simpatizar e o auxilie. O conhecimento de nossa própria debilidade deve auxiliar-nos a ajudar a outros que estejam em amarga necessidade.
Nunca devemos passar por uma alma sofredora sem tentar comunicar-lhe o conforto com que fomos consolados por Deus.
A comunhão com Cristo, o contato pessoal com o Salvador vivo, é que habilita a mente, o coração e a alma a triunfar sobre a natureza inferior. Falai ao peregrino de uma Mão todo-poderosa que o levantará, e de uma infinita humanidade em Cristo que dele se compadece. Não lhe é suficiente crer em lei e força, em coisas que não têm piedade, e jamais ouvem um pedido de socorro. Necessita apertar uma mão cálida, confiar num coração cheio de ternura. Que sua mente se demore no pensamento de que Deus está ao seu lado, sempre contemplando-o com amor piedoso. Recomendai-lhe pensar no coração de um Pai que sempre se angustia pelo pecado, na mão sempre estendida de um Pai, e na voz de um Pai, que diz: "Que se apodere da Minha força e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo." Isaías 27:5.
Ocupando-vos nesta obra tendes companheiros invisíveis aos olhos humanos. Os anjos do Céu estavam ao lado do samaritano que cuidou do estrangeiro ferido. Os anjos das cortes celestes assistem a todos quantos fazem o serviço de Deus, cuidando dos semelhantes. E tendes a cooperação do próprio Cristo. Ele é o Restaurador, e se trabalhardes sob Sua superintendência, vereis grandes resultados.
De sua fidelidade nessa obra não só depende o bem-estar de outros como também vosso destino eterno. Cristo procura erguer todos quantos querem ser alçados à Sua companhia para que sejamos um com Ele, como Ele é um com o Pai. Permite que tenhamos contato com o sofrimento e calamidade para nos tirar de nosso egoísmo; procura desenvolver em nós os atributos de Seu caráter - compaixão, ternura e amor. Aceitando esta obra de beneficência entramos em Sua escola para sermos qualificados para as cortes de Deus. Rejeitando-a, rejeitamos Sua instrução, e escolhemos a eterna separação de Sua presença.

"Se observares as Minhas ordenanças", declara o Senhor, "te darei lugar entre os que estão aqui" - mesmo entre os anjos que circundam o Seu trono. Zacarias 3:7. Cooperando com os seres celestes em sua obra na Terra, preparamo-nos para a Sua companhia no Céu. "Espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação" (Hebreus 1:14), os anjos no Céu darão as boas-vindas àquele que na Terra viveu não "para ser servido, mas para servir". Matheus 20:28. Nesta abençoada companhia aprenderemos, para nossa alegria eterna, tudo que está encerrado na pergunta: "Quem é o meu próximo?" Lucas 10:29.