Jesus não condescendeu em explicar ao Seu
inimigo que Ele era o Filho de Deus e como tal, de que maneira devia agir. De
modo insultuoso e escarnecedor Satanás se refere à presente fraqueza e
aparência decaída de Cristo, em contraste com sua força e glória. Insultava a
Cristo como sendo um representante muito pobre dos anjos, quanto menos de seu
exaltado Comandante, o reconhecido Rei nas cortes reais, e que Sua presente
aparência indicava que Ele estava esquecido de Deus e do homem. Disse que se
Cristo fosse na verdade o Filho de Deus, o rei do Céu, teria poder igual ao de
Deus e deveria dar-lhe uma evidência disto aliviando Sua fome mediante a
operação de um milagre, transformando em pão a pedra que estava aos Seus pés.
Satanás prometeu que se Cristo fizesse isto, ele se submeteria imediatamente às
Suas reivindicações de superioridade, e que a luta entre ele e Cristo
terminaria para sempre.
Cristo não deu atenção
às insinuações injuriosas de Satanás. Não Se sentiu provocado a dar-lhe provas
de Seu poder, mas mansamente suportou os seus insultos sem retaliação. As
palavras proferidas do Céu por ocasião do Seu batismo foram preciosas
evidências para Ele de que Seu Pai aprovava as pegadas que Ele estava seguindo
no plano da salvação, como substituto e fiador do homem. A abertura dos Céus e
o descer da pomba celeste eram confirmações de que o Pai uniria Seu poder no
Céu ao de Seu Filho na Terra, para socorrer o homem contra o domínio de
Satanás, e de que Deus aceitara os esforços de Cristo para ligar a Terra ao
Céu, e o homem finito ao infinito Deus.
Os sinais recebidos do Pai eram expressivamente
preciosos para o Filho de Deus, ao longo de todos os Seus severos sofrimentos e
o terrível conflito com o comandante rebelde. Enquanto suportava a prova de
Deus no deserto e durante todo o Seu ministério, Ele não tinha nada a fazer
para convencer a Satanás do Seu poder e de que Ele era o Salvador do mundo.
Satanás tinha suficiente evidência de Sua exaltada posição. Sua má vontade em
atribuir a Jesus a honra que Lhe era devida e manifestar submissão como um
subordinado, desenvolveu-se em rebelião contra Deus e resultou em sua expulsão
do Céu.
Não era parte da missão
de Cristo exercer o Seu poder divino em Seu próprio benefício, para aliviá-Lo
do sofrimento. Este Ele voluntariamente tomou sobre Si. Condescendeu em tomar a
natureza humana e deveria sofrer as inconveniências, doenças e aflições da
família humana. Não deveria operar milagres por Sua própria conta; veio para
salvar os outros. O objetivo de Sua missão era trazer bênçãos, esperança e vida
aos aflitos e opressos. Veio para carregar aflições e os fardos da humanidade
sofredora.
Apesar de Cristo estar sofrendo os agudíssimos
tormentos da fome, Ele resistiu à tentação. Expulsou a Satanás com a mesma
passagem que Ele tinha dado a Moisés para reiterar ao rebelde Israel quando sua
alimentação era escassa e eles clamavam por carne, no deserto: "Nem só de
pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus." Matheus
4:4. Nesta declaração e também por Seu exemplo, Cristo mostrava ao homem que a
fome por alimento material não era uma grande calamidade que pudesse
derrubá-Lo. Satanás insinuou aos nossos primeiros pais que o comer do fruto que
Deus proibira iria trazer-lhes grandes vantagens e os tornaria seguros contra a
morte, justamente o oposto do que Deus lhes havia declarado: "Mas da
árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela
comeres, certamente morrerás." Gênesis 2:17. Se Adão tivesse sido obediente,
não teria conhecido a pobreza, a necessidade, nem a morte.
Se o povo que viveu
antes do Dilúvio tivesse obedecido à Palavra de Deus, não teria perecido nas
águas diluvianas. Se os israelitas tivessem obedecido à Palavra de Deus, Ele
teria derramado sobre eles bênçãos especiais. Mas eles caíram, em conseqüência
da condescendência com o apetite e paixão. Não foram obedientes à Palavra de
Deus.
A condescendência com o apetite pervertido os
levou a numerosos e graves pecados. Se eles tivessem considerado primeiramente
os reclamos de Deus e depois as suas necessidades físicas em submissão à
escolha, por Deus, do alimento apropriado para eles, certamente nenhum deles
teria sucumbido no deserto. Teriam sido estabelecidos na boa terra de Canaã,
como um povo santo e feliz, sem nenhum indivíduo fraco em todas as suas tribos.
O Salvador do mundo
tornou-Se pecado pela humanidade. Ao tornar-Se substituto do homem, não
manifestou Seu poder como Filho de Deus, mas enfileirou-Se entre os filhos dos
homens. Deveria suportar a prova da tentação como homem, em favor do homem, sob
as mais difíceis circunstâncias, e deixar um exemplo de fé e perfeita confiança
em Seu Pai celestial. Cristo sabia que o Pai Lhe supriria alimento quando fosse
para Sua glória. Nesta severa provação, quando a fome O pressionava além da
medida, não diminuiria prematuramente uma partícula da prova que Lhe foi dada,
exercendo o Seu divino poder.
O homem caído, quando
colocado em apuros, não tem poder para operar milagres em seu próprio
benefício, a fim de salvar-se a si mesmo da dor ou angústia, ou obter vitórias
sobre seus inimigos. Era propósito de Deus testar e provar a humanidade e
dar-lhe a oportunidade de desenvolver o caráter, levando-a freqüentemente a
situações de prova, para testar sua fé e confiança no Seu amor e poder. A vida
de Cristo era de uma conduta perfeita. Estava sempre ensinando ao homem, por
Sua palavra e exemplo, que ele devia depender de Deus e que nele deveria
depositar sua fé e firme confiança.
Cristo sabia que Satanás
é mentiroso desde o princípio e que requeria muito domínio próprio ouvir as
proposições desse enganador insultante sem repreendê-lo imediatamente por causa
de sua audaciosa presunção. Satanás estava na expectativa de que o Filho de
Deus, em extrema fraqueza e agonia de espírito, dar-lhe-ia uma oportunidade
para obter vantagens sobre Ele, provocando-O a empenhar-Se em controvérsia com
ele. Deliberou perverter as palavras de Cristo e arrogar vantagem, buscando o
auxílio dos anjos caídos a fim de usar todo o seu poder para prevalecer contra
Ele e dominá-Lo.
O Salvador do mundo não
tinha controvérsia com Satanás, já expulso do Céu porque não mais merecia ficar
lá. Aquele que influenciou os anjos de Deus contra o Seu Supremo Governador e contra
Seu Filho, o amado Comandante, e recrutou a simpatia deles para si mesmo, era
capaz de qualquer engano. Por quatro mil anos ele tinha estado guerreando
contra o governo de Deus e não perdera nada de sua habilidade ou poder para
tentar e enganar.
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