Cristo falara do período justamente antes de Sua
segunda vinda e dos perigos que Seus seguidores teriam que atravessar. Com
especial referência àquele tempo, relatou-lhes a parábola "sobre o dever
de orar sempre e nunca desfalecer". Lucas 18:1.
"Havia numa cidade
um certo juiz", disse, "que nem a Deus temia, nem respeitava homem
algum. Havia também naquela mesma cidade uma certa viúva e ia ter com ele,
dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário. E, por algum tempo, não quis;
mas, depois, disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens,
todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim
não volte e me importune muito. E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto
juiz. E Deus não fará justiça aos Seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de
noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que, depressa, lhes fará
justiça." Lucas 18:2-8.
O juiz que nos é
descrito, não tinha respeito ao direito, nem piedade pelos sofredores. A viúva
que lhe apresentou sua causa com insistência, foi repelida pertinazmente.
Repetidas vezes a ele apelara, porém, só para ser tratada com desprezo e
expulsa do tribunal. O juiz sabia que a causa era justa, e poderia havê-la
auxiliado imediatamente, mas não o quis.
Desejava mostrar seu poder arbitrário, e
comprazia-se em deixá-la suplicar e pedir em vão. Todavia ela não quis
deixar-se desanimar. Apesar da indiferença e dureza de coração dele, tanto
insistiu em sua petição, que o juiz enfim consentiu em atender sua causa.
"Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens", disse,
"todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que
enfim não volte e me importune muito." Lucas 18:4 e 5. Para preservar sua
reputação e evitar tornar pública sua sentença arbitrária e parcial, fez
justiça à perseverante mulher.
"E disse o Senhor:
Ouvi o que diz o injusto juiz. E Deus não fará justiça aos Seus escolhidos, que
clamam a Ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que,
depressa, lhes fará justiça." Lucas 18:6-8. Cristo traça aqui um vivo
contraste entre o juiz injusto e Deus. O juiz cedeu ao pedido da viúva só por
egoísmo e para esquivar-se à contínua importunação. Não sentia por ela
compaixão nem piedade; sua indigência lhe era indiferente. Que diversa é a
atitude de Deus para com os que O procuram! Os apelos dos necessitados e
aflitos são atendidos com infinita misericórdia.
A mulher que rogava ao
juiz justiça, perdera o marido; pobre e sem amigos, não tinha meios para
readquirir suas propriedades arruinadas. Assim, pelo pecado, o homem perdeu sua
ligação com Deus. Em si mesmo não tem meios de salvação; entretanto, por
Cristo, somos aproximados do Pai. Os eleitos de Deus são caros a Seu coração;
são aqueles que chamou das trevas para a maravilhosa luz, para anunciar Seu
louvor, e para brilhar como luzes em meio das trevas do mundo. O injusto juiz
não tinha interesse particular na viúva que o importunava pelo veredicto;
porém, para subtrair-se a suas súplicas comoventes, ouviu a petição, e fez-lhe
justiça contra o adversário. Deus, porém, ama Seus filhos com infinito amor. O
mais caro objeto na Terra Lhe é a Sua igreja.
"Porque a porção do Senhor é o Seu povo;
Jacó é a parte da Sua herança. Achou-o na terra do deserto e num ermo solitário
cheio de uivos; trouxe-o ao redor, instruiu-o, guardou-o como a menina do Seu
olho." Deuteronômio 32:9 e 10. "Porque assim diz o Senhor dos
Exércitos: Depois da glória, Ele Me enviou às nações que vos despojaram; porque
aquele que tocar em vós toca na menina do Seu olho." Zacarias 2:8.
A petição da viúva:
"Faze-me justiça contra o meu adversário" (Lucas 18:3), representa a
oração dos filhos de Deus. Satanás é o grande adversário. É "o acusador de
nossos irmãos", que os acusa de dia e de noite perante Deus. Apocalipse
12:10. Instantemente trabalha para mal representar e acusar, para enganar e
destruir o povo de Deus. Nesta parábola, Cristo ensina os discípulos a pedirem
salvação do poder de Satanás e de seus instrumentos.
Na profecia de Zacarias
é esclarecida a obra acusadora de Satanás e a obra de Cristo em resistir ao
adversário de Seu povo. Diz o profeta: "E me mostrou o sumo sacerdote
Josué, o qual estava diante do anjo do Senhor, e Satanás estava à sua mão
direita, para se lhe opor. Mas o Senhor disse a Satanás: O Senhor te repreende,
ó Satanás, sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreende: não é este um
tição tirado do fogo? Ora, Josué, vestido de vestes sujas, estava diante do
anjo." Zacarias 3:1-3.
O povo de Deus é aqui representado como um
delinqüente, em juízo. Josué como sumo sacerdote, pede uma bênção para seu povo
que está em grande aflição. Enquanto suplica a Deus, Satanás está à sua
direita, como antagonista. Acusa os filhos de Deus e faz seu caso parecer tão
desesperador quanto possível. Expõe ao Senhor seus pecados e faltas. Aponta
seus erros e fracassos, esperando que pareçam aos olhos de Cristo num caráter
tal, que não lhes prestará auxílio em sua grande necessidade. Josué, como
representante do povo de Deus, está sob condenação, cingido de vestes imundas.
Consciente dos pecados de seu povo está opresso de desânimo. Satanás carrega a
pessoa com um sentimento de culpa que a faz sentir-se quase sem esperança.
Todavia, ali permanece como suplicante, com Satanás disposto contra ele.
A obra de Satanás como acusador, começou no Céu.
Desde a queda do homem, esta tem sido sua obra na Terra, e sê-lo-á num sentido
especial à medida que nos aproximarmos do fim da história deste mundo. Vendo
que tem pouco tempo, trabalhará com maior fervor para iludi-los e destruí-los.
Está irado porque vê aqui na Terra homens que, mesmo em sua fraqueza e
pecaminosidade, manifestam respeito à lei de Jeová. Decidiu que não devem
obedecer a Deus. Deleita-se em sua indignidade, e arma ciladas a cada alma para
que todas sejam enredadas e alienadas de Deus. Tenta acusar e condenar a Deus e
a todos os que se empenham em levar a efeito neste mundo Seus desígnios em
graça e amor, compaixão e clemência.
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