Muitos homens letrados e influentes tinham ido
ouvir o Profeta da Galiléia. Alguns deles olhavam com interesse curioso à
multidão que se aglomerava em volta de Cristo, enquanto ensinava junto ao mar.
Nessa grande multidão estavam representadas todas as classes da sociedade. Lá
estavam os pobres, os iletrados, os mendigos andrajosos, os ladrões com o
estigma da culpa na fisionomia, os coxos, os dissolutos, os negociantes e os
desocupados, altos e baixos, ricos e pobres, todos se acotovelando por um
lugar, para ouvir as palavras de Cristo. Olhando esses homens de cultura a
estranha assembléia, perguntavam-se entre si: É o reino de Deus composto de
elemento como este? Novamente o Salvador replicou com uma parábola:
"O reino dos Céus é
semelhante ao fermento que uma mulher toma e introduz em três medidas de
farinha, até que tudo esteja levedado." Matheus 13:33.
Entre os judeus, o
fermento era algumas vezes usado como emblema do pecado. No tempo da Páscoa, o
povo era instruído a remover de suas casas todo o fermento, como deveriam banir
do coração o pecado. Cristo admoestou Seus discípulos: "Acautelai-vos...
do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia." Lucas 12:1. E o apóstolo
Paulo fala do "fermento da maldade e da malícia". I Cor. 5:8. Mas, na
parábola do Salvador, o fermento é usado para representar o reino de Deus.
Ilustra o poder vivificante e assimilador da graça de Deus.
Ninguém é tão vil, ninguém tão decaído, que
esteja além da operação desse poder. Em todos quantos querem submeter-se ao
Espírito Santo deve ser implantado um princípio novo de vida: a perdida imagem
de Deus deve ser restaurada na humanidade.
Mas o homem não se pode
transformar pelo exercício de sua vontade. Não possui faculdade por cujo meio
esta mudança possa ser efetuada. O fermento - algo totalmente externo - precisa
ser introduzido na farinha, antes de a alteração desejada efetuar-se. Assim a
graça de Deus precisa ser recebida pelo pecador antes de ele ser tornado apto
para o reino da glória. Toda cultura e educação que o mundo pode oferecer,
fracassarão em fazer de um degradado filho do pecado, um filho do Céu. A
energia renovadora precisa vir de Deus. A mudança só pode ser efetuada pelo
Espírito Santo.
"Bem-aventurados os
que trilham caminhos retos e andam na lei do Senhor. Bem-aventurados os que
guardam os Seus testemunhos e O buscam de todo o coração. E não praticam
iniqüidade, mas andam em Seus caminhos. Tu ordenaste os Teus mandamentos, para
que diligentemente os observássemos. Tomara que os meus caminhos sejam
dirigidos de maneira a poder eu observar os Teus estatutos." Salmos
119:1-5.
Todos que quiserem ser salvos, nobres ou
humildes, ricos ou pobres, precisam submeter-se à atuação deste poder.
Como o fermento,
misturado à farinha, opera do interior para o exterior, assim é pela renovação
do coração, que a graça de Deus atua para transformar a vida. Não basta a
mudança exterior para pôr-nos em harmonia com Deus. Muitos há que procuram
reformar-se, corrigindo este ou aquele mau hábito, e esperam desse modo
tornar-se cristãos, mas estão principiando no lugar errado. Nossa primeira
tarefa é com o coração.
A profissão de fé e a
posse da verdade na alma são duas coisas distintas. Não basta meramente o
conhecimento da verdade. Podemos possuir esta e ainda o teor de nossos
pensamentos não ser alterado. O coração precisa ser convertido e santificado.
O homem que tenta
observar os mandamentos de Deus por um senso de obrigação apenas - porque é
requerido que assim faça - jamais sentirá o prazer da obediência. Não obedece.
Quando, por contrariarem a inclinação humana, os reclamos de Deus são
considerados um fardo, podemos saber que a vida não é uma vida cristã. A
verdadeira obediência é a expressão de um princípio interior. Origina-se do
amor à justiça, o amor à lei de Deus. A essência de toda justiça é
"Para sempre, ó
Senhor, a Tua palavra permanece no Céu. A Tua fidelidade estende-se de geração
a geração; tu firmaste a terra, e firme permanece. Nunca me esquecerei dos Teus
preceitos, pois por eles me tens vivificado. A toda perfeição vi limite, mas o
Teu mandamento é amplíssimo." Salmos 119:89 e 90, 93 e 96. Lealdade ao
nosso Redentor; Isso nos levará a fazer o que é reto porque é reto, porque a
retidão é agradável a Deus.
A grande verdade da conversão do coração pelo
Espírito Santo é apresentada nas palavras de Cristo a Nicodemos: "Na
verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o
reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito
é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.
O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para
onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito." João 3:3, 6-8.
O apóstolo Paulo,
escrevendo por inspiração do Espírito Santo, diz: "Deus, que é riquíssimo
em misericórdia, pelo Seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos
em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),
e nos ressuscitou juntamente com Ele, e nos fez assentar nos lugares
celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes
riquezas da Sua graça, pela Sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de
Deus." Efésios 2:4-8.
O fermento oculto na
farinha atua invisivelmente para submeter toda a massa a seu processo
levedante; assim o fermento da verdade opera secreta, silente e
persistentemente para transformar a pessoa. As inclinações naturais são
abrandadas e subjugadas. São implantadas novas idéias, novos sentimentos, novos
motivos.
"Louvar-Te-ei com
retidão de coração, quando tiver aprendido os Teus justos juízos. Observarei os
Teus estatutos; não me desampares totalmente." Salmos 119:7 e 8.
Uma nova norma de caráter é proposta - a vida de
Cristo. A mente é mudada; as faculdades são estimuladas à ação em novas
esferas. O homem não é dotado de faculdades novas, mas as faculdades que possui
são santificadas. A consciência é despertada. Somos dotados de traços de
caráter que nos habilitam a prestar serviço a Deus.
Freqüentemente surge a
questão: Por que, pois, há tantos pretensos crentes na Palavra de Deus, nos
quais não se vê uma reforma na linguagem, no espírito e no caráter? Por que há
tantos que não podem sofrer oposição a seus propósitos e planos, que manifestam
temperamento não santificado, e cujas palavras são rudes, insultuosas e
apaixonadas? Vê-se em sua vida o mesmo amor-próprio, a mesma condescendência
egoísta, a mesma índole e linguagem precipitada, vistos na vida do mundano. Há
o mesmo orgulho sensitivo, a mesma entrega ao pendor natural, a mesma
perversidade de caráter, como se a verdade lhes fosse inteiramente
desconhecida. A razão é que não são convertidos. Não esconderam no coração o
fermento da verdade. Não teve ele oportunidade de realizar sua obra. Suas
tendências naturais e cultivadas para o mal não foram subjugadas
"Como purificará o
jovem o seu caminho? Observando-o conforme a Tua palavra. De todo o meu coração
Te busquei; não me deixes desviar dos Teus mandamentos. Escondi a Tua palavra
no meu coração, para eu não pecar contra Ti. Em Teus preceitos meditarei e
olharei para os Teus caminhos. Alegrar-me-ei nos Teus estatutos; não me
esquecerei da Tua palavra." Salmos 119:9-11, 15 e 16. A vida dessas pessoas revela a ausência da
graça de Cristo, uma descrença em Seu poder de regenerar o caráter.
"A fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra
de Deus." Romanos 10:17. As Escrituras são o grande veículo na
transformação do caráter. Cristo orou: "Santifica-os na verdade; a Tua
Palavra é a verdade." João 17:17. Estudada e obedecida, a Palavra de Deus
atua no coração, subjugando todo atributo não santificado. O Espírito Santo vem
para convencer do pecado, e a fé que brota no coração opera por amor a Cristo,
conformando-nos em corpo, alma e espírito à Sua própria imagem. Então Deus pode
usar-nos para fazer Sua vontade. O poder a nós concedido atua no interior para
o exterior, levando-nos a transmitir a outros a verdade que nos foi comunicada.
As verdades da Palavra
de Deus suprem a grande necessidade prática do homem - a conversão da alma pela
fé. Estes grandes princípios não devem ser julgados puros nem santos demais
para serem introduzidos na vida diária. São verdades que atingem o Céu e
abrangem a eternidade, contudo sua influência vital deve ser entrelaçada com a
experiência humana.
"Ensina-me, ó
Senhor, o caminho dos Teus estatutos, e guardá-lo-ei até o fim. Dá-me
entendimento, e guardarei a Tua lei e observá-la-ei de todo o coração. Faze-me
andar na verdade dos Teus mandamentos, porque nela tenho prazer. Confirma a Tua
promessa ao Teu servo, que se inclina ao Teu temor. Desvia de mim o opróbrio
que temo, pois os Teus juízos são bons." Salmos 119:33-35, 38 e 39.
Devem impregnar todas as coisas importantes e mínimas
da vida.
Recebido no coração, o
fermento da verdade regulará os desejos, purificará os pensamentos e
dulcificará a índole. Vivifica as faculdades do espírito e as energias da alma.
Aumenta a capacidade de sentir, de amar.
O mundo considera um
mistério o homem que está imbuído deste princípio. O egoísta e amante de
dinheiro vive unicamente para assegurar-se das riquezas, honras e prazeres
deste mundo. Não leva em conta o mundo eterno. Mas, para o seguidor de Cristo,
estas coisas não são todo-absorventes. Pela causa de Cristo trabalhará e negará
a si mesmo, para que possa auxiliar na grande obra de salvar pessoas que estão
sem Cristo e sem esperança no mundo. Tal homem o mundo não pode compreender,
porque conserva em vista as realidades eternas. O amor de Cristo, com Seu poder
redentor, penetrou no coração. Este amor domina todos os outros motivos e eleva
seu possuidor acima da influência corruptora do mundo.
A Palavra de Deus deve
ter efeito santificador em nossa associação com cada membro da família humana.
O fermento da verdade não produzirá espírito de rivalidade, amor de ambição,
desejo de primazia. O amor verdadeiro, oriundo do alto, não é egoísta nem
mutável. Não é dependente do louvor humano. O coração daquele que recebe a
graça
"Lâmpada para os meus
pés é Tua palavra e luz, para o meu caminho. Jurei e cumprirei que hei de
guardar os Teus justos juízos. Os Teus testemunhos tenho eu tomado por herança
para sempre, pois são o gozo do meu coração. Inclinei o meu coração a guardar
os Teus estatutos, para sempre, até ao fim." Salmos 119:105, 106, 111 e
112.
De Deus, transborda de amor a Deus e àqueles por quem Cristo
morreu. O eu não luta por nenhum reconhecimento. Não ama a outros porque o amem
e lhe agradem, por apreciarem seus méritos, mas por serem propriedade adquirida
de Cristo. Se seus motivos, palavras ou atos são malcompreendidos ou
mal-interpretados, não se ofende mas prossegue na mesma maneira de proceder. É
bondoso e ponderado, humilde no conceito próprio; contudo é cheio de esperança,
sempre confiante na graça e no amor de Deus.
O apóstolo nos exorta:
"Mas, como é santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a
vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque Eu sou
santo." I Pedro 1:15 e 16.
A graça de Cristo deve reger o temperamento e a voz. Sua
operação será vista na polidez e terna consideração manifestada de irmão para
com irmão, em palavras bondosas e encorajadoras. Há no lar uma presença
angélica. A vida exala um suave perfume que ascende a Deus como incenso santo.
O amor manifesta-se em afabilidade, cortesia, clemência e longanimidade.
O semblante
transforma-se. A presença de Cristo no coração, transparece na face dos que O
amam e guardam Seus mandamentos. A verdade está ali escrita. Revela-se a doce
paz do Céu. É expressa uma cortesia habitual, um amor mais do que humano.
O fermento da verdade
opera uma transformação no homem todo, tornando o áspero polido, o rude gentil,
o egoísta generoso. Por ele o corrupto é purificado, lavado no sangue do
Cordeiro. Por Seu poder vivificante, leva toda mente, alma e força à harmonia
com a vida divina. O homem com sua natureza humana, torna-se participante da
divindade. Cristo é honrado na excelência e perfeição de caráter. Efetuando-se
estas mudanças, os anjos rompem em cantos enlevantes, e Deus e Cristo Se
regozijam pelos seres moldados à semelhança divina.
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