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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

45 ( História da Redenção) Os Primeiros reformadores



Por entre as trevas que baixaram à Terra durante o longo período da supremacia papal, a luz da verdade não poderia ficar inteiramente extinta. Em cada época houve testemunhas de Deus - homens que acalentavam fé em Cristo como único mediador entre Deus e o homem, que mantinham a Escritura Sagrada como a única regra de vida, e santificavam o verdadeiro sábado. Quanto o mundo deve a estes homens, a posteridade jamais saberá. Foram estigmatizados como hereges, impugnados os seus motivos, criticado o seu caráter, e suprimidos, difamados ou mutilados os seus escritos. No entanto, permaneceram firmes, e de século em século mantiveram a fé em sua pureza, como sagrado legado às gerações vindouras.
Tremenda tem sido a oposição suscitada sobre a Bíblia, desde os tempos em que havia pouquíssimos exemplares em existência; mas Deus não consentira que Sua Palavra fosse totalmente destruída. Suas verdades não deviam estar ocultas para sempre. Tão facilmente poderia Ele desacorrentar as palavras da vida como abrir portas de prisões e desaferrolhar portais de ferro para pôr em liberdade os Seus servos. Nos vários países da Europa, homens eram movidos pelo Espírito de Deus a buscar a verdade como a tesouros escondidos. Providencialmente guiados às Santas Escrituras, estudavam as páginas sagradas com interesse profundo. Estavam dispostos a aceitar a luz, a qualquer custo. Posto que não vissem todas as coisas claramente, puderam divisar muitas verdades havia muito sepultadas. Como mensageiros enviados pelo Céu, saíam, rompendo as cadeias do erro e da superstição e chamando os que haviam estado durante tanto tempo escravizados, a levantar-se e assegurar sua liberdade.
Chegara, porém, o tempo para que as Escrituras fossem traduzidas e entregues ao povo dos vários países em sua língua materna. Passara para o mundo a meia-noite. As horas de trevas estavam a se escoar, e em muitas terras apareciam indícios da aurora a despontar.

                      A Estrela da Manhã da Reforma

No século catorze, surgiu na Inglaterra "a estrela da manhã da Reforma". João Wycliffe foi o arauto da Reforma, não somente para a Inglaterra mas para toda a cristandade. Ele foi o pai dos Puritanos; sua aparição foi como um oásis no deserto.
O Senhor decidiu confiar o trabalho de reforma a alguém cuja habilidade intelectual daria caráter e dignidade a seus labores. Isso silenciaria a voz do desprezo, e impediria que os adversários da verdade tentassem lançar o descrédito sobre a causa, ridicularizando a ignorância de seus advogados. Quando Wycliffe completou seu aprendizado nas escolas, lançou-se ao estudo das Escrituras. Nelas encontrou o que antes havia em vão procurado. Ali viu revelado o plano da redenção, e Cristo apresentado como único advogado do homem. Viu que Roma abandonara o caminho bíblico por tradições humanas. Entregou-se ao serviço de Cristo e decidiu-se a proclamar as verdades que havia descoberto.
O maior trabalho de sua vida foi a tradução das Escrituras para a língua inglesa. Esta foi a primeira tradução inglesa completa. Sendo ainda desconhecida a arte de imprimir, era unicamente por trabalho moroso e fatigante que se podiam multiplicar os exemplares da Escritura Sagrada; ainda assim isto era feito, e o povo da Inglaterra recebeu a Bíblia em seu próprio idioma. Dessa maneira, a luz da Palavra de Deus começou a expandir seus raios brilhantes através da escuridão. A divina mão estava a preparar o caminho para a Grande Reforma.
O apelo à razão humana arrancou-os de sua passiva submissão aos dogmas papais. As Escrituras foram recebidas com alegria pela classe elevada, a única que, na época, possuía o conhecimento das letras. Wycliffe então ensinava as distintas doutrinas do Protestantismo - salvação pela fé em Cristo e a exclusiva infalibilidade das Escrituras. Muitos sacerdotes a ele se uniram em fazer circular a Bíblia e na pregação do evangelho; tão grandes foram os efeitos desse trabalho e dos escritos de Wycliffe que a nova fé foi aceita por quase metade do povo da Inglaterra. O reino das trevas estremeceu.
O esforço dos inimigos para deter sua obra e destruir sua vida foi igualmente malsucedido e aos sessenta e um anos ele morreu em paz, quando ia ministrar no altar.
                                  A Reforma se Espalha
Foi mediante os escritos de Wycliffe que João Huss, da Boêmia, foi levado a renunciar a muitos dos erros do catolicismo, e entrar na obra da Reforma. Como Wycliffe, Huss era um nobre cristão, homem de entendimento e de inabalável devoção à verdade. Seus apelos em favor das Escrituras e as vigorosas denúncias da vida escandalosa e imoral do clero despertaram um amplo interesse, e milhares aceitaram alegremente uma fé mais pura. Isso provocou a ira do papa e dos prelados, sacerdotes e frades, e Huss foi convocado a comparecer diante do Concílio de Constança para responder à acusação de heresia. Um salvo-conduto foi-lhe dado pelo imperador germânico, e quando de sua chegada a Constança, foi pessoalmente certificado pelo papa de que nenhuma injustiça seria cometida contra ele.
Depois de um longo julgamento, durante o qual sustentou a verdade, foi exigido que Huss escolhesse entre retratar-se de suas doutrinas ou sofrer a morte. Escolheu o destino de mártir, e depois de ver seus livros serem entregues às chamas, foi ele próprio queimado numa estaca. Na presença de dignitários da igreja e do Estado, o servo de Deus expressou um solene e fiel protesto contra a corrupção da hierarquia papal. Sua execução, uma vergonhosa violação de uma solene e pública promessa de proteção, exibiu para o mundo inteiro a pérfida crueldade de Roma. Os inimigos da verdade, embora não o soubessem, estavam favorecendo a causa que procuravam em vão destruir.
Não obstante a fúria da perseguição, um calmo, devoto, fervoroso e paciente protesto contra a prevalecente corrupção da fé religiosa continuou a ser apresentado após a morte de Wycliffe. Assim como os crentes dos dias apostólicos, muitos sacrificaram livremente suas posses terrenas pela causa de Cristo.
Esforços extremos foram realizados para fortalecer e estender o poder do papado. Porém, enquanto os papas afirmavam ser representantes de Cristo, suas vidas eram tão corrompidas que desgostavam o povo. Pela ajuda da invenção da imprensa, as Escrituras tiveram maior circulação, e muitos foram levados a ver que as doutrinas papais não eram apoiadas pela Palavra de Deus.
Quando uma testemunha era forçada a fazer tombar a tocha da verdade, outra estendia a sua mão e, com intrépida coragem, erguia-a no alto. A luta que se abriu, resultou na emancipação, não apenas de indivíduos e igrejas, mas de nações. Através do abismo de cem anos, homens estenderam suas mãos para agarrar as mãos dos lolardos no tempo de Wycliffe. Com Lutero começou a Reforma na Alemanha; Calvino pregou o evangelho na França e Zwínglio na Suíça. O mundo foi despertado de um sono de séculos, enquanto de terra em terra soavam as mágicas palavras: "Liberdade Religiosa."


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